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Matias Mendes

RESCALDOS: As Lendas, os Fatos e os Ódios


Por MATIAS MENDES

A série de artigos que encerrei recentemente trouxe à baila toda sorte de reações e alguns revides carregados de ódios e preconceitos. Houve até gente com fenótipo nitidamente negroide que aproveitou o ensejo para dirigir-me críticas calcadas em ironias de caráter racial, insinuando maldosamente que as distinções e medalhas acadêmicas que possuo seriam mais apropriadas para uso em países africanos, alusão óbvia e criminosa à minha condição de homem negro. Pois muito bem, eu sou negro mesmo, tenho ascendência africana predominante mesmo, sou do Guaporé mesmo, sou poliglota mesmo, nem tanto quanto o Bento XVI, mas o suficiente para me comunicar com pelo menos um terço da Humanidade e, sobretudo, sou detentor de um Centro de Informações mesmo, duvide quem quiser. Os preconceitos de qualquer ordem, conquanto tenham sido obstáculos reais em minha vida, jamais me amofinaram, mais bem serviram-me de força motriz para enfrentar as adversidades e manter-me ao largo do sistema corrupto com o qual fui compelido a conviver. Passer à cote du saute-mouton ne fait personne être un vautour , provérbio que aprendi além-fronteira, constituiu para mim divisa e bandeira de luta para nunca abrir mão dos princípios de honradez e honestidade que me foram legados pelos meus antepassados pobres em bens materiais, mas ricos em brio, em caráter, em coragem e em disposição para o labor honesto. Ego sum qui sum.

Na parte do rescaldo positiva, o mestre César Albuquerque, lá do seu elegante recanto no Rio de Janeiro, teceu suas considerações sobre a suposta lenda urbana a respeito da fabulosa fortuna do tio-avô do Paulo Saldanha, o Coronel Saldanha, da qual por suposto o Paulinho teria sido o feliz legatário de substancial parte do tesouro em lingotes de ouro, assunto que abordei somente para lembrar aos desavisados que a família Saldanha tinha fortuna sem vícios de origem, pois o seu patriarca havia aportado à nossa região já como pioneiro investidor, capitalista já, nada havendo de nebuloso na fortuna que acumulou, sendo ou não verdade que teve o tesouro em lingotes de ouro das minas de São Simão. As minas de São Simão ainda existem, a Fazenda Ilha das Flores, hoje de propriedade da família Arantes, ainda existe lá no Guaporé, e os dois locais são relativamente vizinhos de beiradão. Nada obsta. Por exemplo, a viúva do João Saldanha, Dalila Saldanha, já falecida, o irmão do Paulo Saldanha Sobrinho, pai do Paulinho, era dona de um pequeno tesouro em joias algo superior a uma arroba. E aí não há nenhuma lenda, porque eu mesmo carreguei várias vezes o baú onde ela guardava o seu tesouro, baú que ela não admitia que fosse tocado por qualquer um, eu era um dos poucos que ela deixava pegar no precioso baú, e o pequeno (mas não tanto) baú pesava bastante mesmo. Ela levava esse baú todos os anos para as Festas do Divino no Guaporé, nunca foi roubada, mas todo mundo sabia qual era o conteúdo do baú, era puro ouro e pedras preciosas, soberbas peças de joias Barnabé, famoso ourives guaporeano, um tio-avô meu, irmão da minha avó paterna do ramo castelhano da família Mendes.

No entanto, a viúva do João Saldanha era também funcionária pública como os pais do Paulinho Saldanha do Guaporé... Afinal de contas, como foi explicado, os Saldanha sempre tiveram um pé nos negócios e outro pé na política, a exemplo de outros tantos milionários que hoje existem em Rondônia que não abrem mão de suas sinecuras no serviço público. A diferença é que da família Saldanha nunca se ouviu falar de qualquer ato de corrupção, apenas do misterioso tesouro do Coronel Saldanha...

 O mestre César Albuquerque, nas suas procedentes observações sobre este assunto, identifica uma suposta escorregadela minha parte quando faço a pergunta ao Paulinho se posso adonar-me de qualquer lingote de ouro que porventura encontre em minhas pesquisas pelas barrancas do Guaporé. Eu não vejo a história por tal ângulo. É verdade que entre o Forte do Príncipe da Beira, no Brasil, e o porto de Cafetal, na Bolívia, eu tenho hoje devidamente mapeados pelo menos cinco pontos com indícios de tesouros enterrados, nenhum deles no Forte do Príncipe, conforme muitos pensam. O Forte do Príncipe foi quartel e presídio, locais impróprios para o enterramento de tesouros, diferentes de mosteiros, de fazendas antigas, de velhos engenhos de processamento da cana-de-açúcar, de igrejas e outros locais. A verdade é que até hoje, nas poucas escavações que pude realizar, o material mais próximo da preciosidade que logrei encontrar não passou de peças de bronze, que de fato entreguei tudo aos cuidados ou descuidos do serviço público. O pequeno Museu do Forte do Príncipe da Beira ostenta no seu acervo a maioria das peças que resgatei por lá. Sob este aspecto o mestre César Albuquerque acertou em cheio a meu respeito, eu de fato nunca me apropriei de nenhuma peça histórica das que resgatei até agora, conquanto tenha cobiçado muito uma telha de coronha de bronze que dava certinho para a minha carabina Puma, mas resisti à tentação e a peça está hoje no seu devido lugar, no Museu do Forte do Príncipe da Beira.

No entanto, na eventualidade de vir a resgatar algum lingote devidamente timbrado com as letras CPCS, aí então a coisa mudaria um pouco de figura, pois existe a legislação concernente a tal assunto. Em tal caso, eu reclamaria a minha parte em metal, que me serviria para a confecção de alguma medalha destinada a adornar o meu peito de pombo como dizem os monoglotas ressentidos. Mas o certo é que de fato eu não cometeria nenhum ato de apropriação indébita, não me apropriaria da parte do ouro pertencente ao Estado conforme fez o larápio paranaense Leprowost que carregou para o Paraná meia tonelada de ouro do Beron, conta que os rondonienses até hoje estão pagando. Posso até não ser honesto por virtude, mas apenas por simples vaidade, conforme aprendi com o mestre Luiz Erich de Menezes, um sábio tipo Diógenes que viveu lá pelo Guaporé e morreu há poucos anos em Porto Velho, no entanto, se não me tornei um ladrão quando deixei a minha região de origem com uma pequena maleta de papelão prensado, não seria agora que iria mudar os meus rígidos princípios de respeito pelas coisas alheias. Lá no Guaporé, na minha época, os defeitos mais graves que podiam ser atribuídos a um homem eram os de covardia, gabolice, ladroeira e pederastia. Eu continuei com tais princípios, mesmo sabendo ser politicamente incorreto no mundo liberal e pseudoigualitário dos dias atuais. Que me perdoem os modernos críticos dos costumes. Ego sum qui sum...

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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