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Vinício Carrilho

A motoca que a mamãe não quer - Por Vinício Carrilho Martinez



Se não fosse pedir muito, pediria à Polícia Militar para que portasse equipamentos (decibelímetros) nas rondas, a fim de se auferir o barulho exagerado que as motos estão produzindo a qualquer hora do dia e da noite. De quebra já cortariam o som de alguns/muitos carros também.

Sei bem que, nesses tempos tão cruéis, a Polícia Militar tem muito com o que se preocupar. Compreendo que a PM selecione a dedo o que fazer, porque não se cuida de tudo da mesma forma. Mas, ocorre que eu também tenho coisa melhor para fazer e confesso que é um dissabor sugerir este tema para a agenda do patrulhamento.

Qualquer pessoa diria que perco o meu tempo, escrevendo, e do Poder Público, em questão ridícula como essa. Pode ser, até que qualquer um(a) passe por seus efeitos. Diariamente. Dia e noite. Talvez mudassem algumas opiniões. Acredito que o empirismo ajuda muito.

Agora mesmo poderia estar dormindo. E estava. Até que um desses “velozes e furiosos” colocasse em ação sua máquina de exibição. Também compreendo que há uma adrenalina diferente. Quando se é o jovem parece que adrenalina é tudo o que se tem na cabeça. Às vezes é tanta que nem dá tempo para saber o que é isso.

Também sei que, quando se é jovem, há necessidade premente de chamar a atenção. Feio é quando chega a idade e a crise continua. Porém, isso é outro tema. Suponho, ao som deste Playboy que assusta a todos – outros jovens, crianças, idosos e até os animais –, que esteja querendo chamar a atenção por onde passa. Ou será que faz isso, exatamente, porque já afastou muitos com seus ruídos? Isto também é caso para a Psicologia – o que não me compete.

Em todo caso, para que não reste preconceito, digo que “este veloz e furioso deve ser um jovem Playboy” e explico de novo a afirmação. Algumas vezes vi um desfilar na frente de minha casa. Era jovem: homem. Sempre sozinho, sem garotas na garupa. Daí ter excluído idosos dessa parada.

Disse veloz e furioso porque acelera como se um raio saísse de um carro de fórmula I. (Será algum desejo ou complexo, frustração, de piloto reprovado?). Despreocupado, despeja toda a fúria da máquina no escapamento que parece decolar para bem longe. É claro que não estou muito calmo neste momento.

Ainda sugeri que pudesse ser um Playboy, como se dizia antigamente, porque pelo roncado não se trata de escapamento furado, nem de substâncias adicionadas à gasolina (já aprendi distinguir a diferença). É uma moto cara. A moto combina com o Playboy; é o brinquedo desta criança. Tão cara que só um abastado (não disse abestado) poderia queimar dinheiro para o único desprezo. Isso é o Playboy de outros tempos, alguém que se lixa para todos.

Hoje os apelidos mudaram – para muitos são coxinhas, “filhos pera com leite”, “nutelinhas” e que tais. Já fui chamado de “pera com leite” – esse bem regional – e concordei com a descrição. Algo como bem alimentado, educado pela escola e em casa. O ex-senador Suplicy seria conterrâneo nessa cidadela. Pode ser mimado. Talvez.

Todavia, estou longe de ser coxinha – que é num tom político-ideológico. Digamos que o “pera com leite” pode fazer uma “traição de classe” – se bem que só tivemos “capital cultural” em casa –, mas o coxinha dificilmente. Por isso, penso que são fenômenos distintos e que não cabe aqui avançar a explicação.

O foco hoje é: “o Playboy ronca a motoca e a mamãe não quer perto de si”. E certa está ela, certos estão todos(as) que tenham audição em condições normais. Certos de não quererem partilhar tempo útil de sua vida produtiva com este Playboy – jovem, veloz e furioso – estão aqueles(as) que entendem o significado de se ter um mínimo respeito pela vida comunitária. O espaço é que não permite ir muito além na temática. Outro dia voltarei unicamente a este imbróglio que se tornou a vida moderna.

Hoje, o foco é o jovem veloz e furioso que queima o dinheiro da mamãe – pode ser “filhinho de papai” – e estraga a noite de muita gente. Vai com Deus!! Vai namorar. Coma chocolate ou nutelinha se preferir. Mais não posso dizer...

 

Vinício Carrilho Martinez (Pós-Doutor em Ciência Política)

Professor Associado da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar

Departamento de Educação- Ded/CECH

 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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