Muito obrigado. Assim, agradecendo, quero iniciar minha despedida ao querido jornal Alto Madeira. Um impresso que enfrentou toda diversidade de obstáculos com o denodo de seus proprietários e funcionários, sucumbe à máquina esmagadora da economia e da modernidade. A pressa é o mal do século. Não temos mais tempo para pegar uma edição de um impresso e degusta-la página a página, notícia a notícia, até anúncios.
Fundado em 1917 pelo médico, político e membro da Comissão Rondon, Joaquim Augusto Tanajura, o Alto Madeira já nasceu combativo. Inicialmente sediado em Santo Antônio do Madeira, algum tempo depois o jornal passou a ser impresso na então incipiente cidade de Porto Velho. De lá para cá não houve assunto que o jornal não cobrisse ou seus articulistas comentassem.
As atividades dos governadores, senadores, prefeitos, vereadores e deputados foram fiscalizadas pelos jornalistas que emitiam suas opiniões sem medo e sem censura. Lembro-me do período em que trabalhei lá, a coluna “Pingos Políticos” era uma sessão esperada pelos leitores, pois ali eram publicadas notas inéditas de alto teor combustível. O seu Euro recebeu tantas reclamações dos atores de mal feitos, que os redatores passaram a se identificar, mas o teor apimentado da coluna não se alterou.
E falando do pouco, mas profícuo tempo que passei no Alto Madeira – perto de três anos – aprendi muito com a equipe, pois minha experiência era de TV, rádio e assessoria de Imprensa. Foi o primeiro impresso em que trabalhei, tendo a orientação e o apoio do saudoso Paulinho Correia, além do também saudoso Ivan Marrocos, dos diretores Euro e Luiz Tourinho e dos demais colegas Rodrigo Bonfim, Lúcio Albuquerque, Nonato Cruz, Carlinhos Neves (in memoria), Ciro Pinheiro, Willian Jorge, entre outros.
Desse período recordo de algumas matérias especiais que fui pautado: greve da PM (quase apanho dos grevistas, por ser confundido com colega de outro jornal), a crise do cólera, uma das muitas retiradas dos garimpeiros do rio Madeira, a cheia do rio Madeira de 1992. Houve muitas outras que estão guardadas na minha memória, mas que, infelizmente, não arquivei na minha estante.
Para finalizar um fato que demonstra a união entre a equipe da redação e a independência na cobertura dos fatos do dia a dia. Discutíamos em quem votar para prefeito nas eleições de 1992. Cada um foi falando a razão que o levava a votar em um e não no outro e, no final, o candidato de todos ali era o José Guedes. Votamos nele e fiz a primeira entrevista do Guedes eleito. Mas a lua de mel terminou logo. Poucos meses de mandato e o Alto Madeira já apontava as deficiência da administração tucana. Soube que José Guedes ligou para o seu Euro, querendo saber o que tinha acontecido conosco. A resposta – soube depois – foi: “Você sabe como são os jornalistas…” E o pau continuou.
Então, é com agradecimentos que me despeço desse jornal do qual tive a honra de fazer parte e que guardo e guardarei muito boas recordações. Muito obrigado.