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CHUTANDO O BALDE

CHUTANDO O BALDE: SISTÊMICA OU ENDÊMICA


CHUTANDO O BALDE: SISTÊMICA OU ENDÊMICA - Gente de Opinião

SISTÊMICA OU ENDÊMICA

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William Haverly Martins

Volto a me sentir feito um braço de eletrola, emperrado sobre um disco de vinil, repetindo o tema “corrupção” inúmeras vezes. Esta semana deveria voltar ao tema Cidade da Cultura, que depois dos festejos ditos juninos, que aqui são comemorados em julho, agosto e até em setembro, voltou a ser a Cidade dos Carapanãs, em suas mais variadas denominações, como prevíramos, em artigo anterior, despertando a ira dos folcloristas de plantão, mentores da ideia de que “cultura” se resume a quadrilhas juninas e bois-bumbás. 

Mas o futebol e um vídeo remetido ao grupo da Academia Rondoniense de Letras pelo confrade/desembargador Alexandre Miguel me devolveram o ânimo e a necessidade de voltar ao tema; se assim não o fizesse, estaria fugindo ao propósito desta coluna, que é não apenas de criticar, mas também tentar mostrar caminhos, apresentar possíveis soluções, quando elas existem.

No futebol, um dos artilheiros do campeonato brasileiro, jogador do Corinthians, time de massa do estado de São Paulo, mas com torcedores espalhados por todo o Brasil, fez o gol da vitória com a mão, no último domingo, e ainda teve a cara de pau de negar, diante da imprensa, apesar da prova irrefutável das câmeras. Atitudes como essa nos remetem ao problema da corrupção endêmica e nos distanciam da solução da corrupção sistêmica, porque aquela é congênita e se comunica com esta, provocando a banalização do malfeito.

A corrupção endêmica, enquanto sinônima de desonestidade, mania de tirar vantagem ilícita, prática desleal nas relações comerciais, infelizmente muito comum, principalmente entre o público e o privado, advém das disputas pessoais e grupais dossapiens por hegemonia, embora no Brasil esteja mais entranhada nos costumes, a ponto de ser tida por alguns como cultural.

Todos são iguais perante a lei é uma mentira de muitas constituições. A igualdade ocupou, por centenas de anos, o pensamento de estudiosos e filósofos, todavia só encontrou guarida, com foros de verdade, nas religiões: funciona para atrair adeptos, sonhadores de um paraíso após a lida, onde o mandante é o suprassumo do amor; longe das carências existenciais do dia a dia, do mundo dos mais espertos, que dos púlpitos da vida, dão as cartas e mandam no jogo.

O incentivo à educação, a elaboração de leis corretas, aplicáveis, atendendo às conveniências, melhoraram os relacionamentos, contribuíram para que países, como os do Norte da Europa, se livrassem, quase que integralmente, das práticas corruptas, diminuindo as distâncias sociais e a influência das religiões nas contendas do poder, além de penetrarem o âmago da democracia.

Para ser mais didático, esclareço que a corrupção sistêmica é a que se generaliza integralmente, tornando-se institucionalizada, a ponto de o sistema não sobreviver sem ela. No caso do Brasil, essa corrupção via propina, está não apenas no mundo político, mas em todos os órgãos republicanos, e, em decorrência dos relacionamentos, no meio empresarial: corruptor x corrompido.

Para conviver bem com a democracia e a justiça, o capitalismo precisa de ajustes no sistema. O consumismo exacerbado não pode conviver com o analfabetismo, com a violência e com a pobreza, nem patrocinar salários imorais e a prática da corrupção empresarial em seus variados níveis. Não se pode tolerar e incentivar a corrupção com leis amenas e uma verdadeira indústria de recursos jurídicos, mesmo diante da generalização empírica das provas. Já a aceitação do povo, das massas silentes, parece advir do exercício da inveja inerente, em conivência com o adágio popular A ocasião faz o ladrão, em função das constantes carências e do desejo em mudar de classe, participar das benesses do capital.

Como se percebe, é humanamente impossível resolver o problema da corrupção sistêmica sem primeiro educar o cidadão a diminuir em si mesmo a prática da corrupção endêmica; do contrário, apenas trocamos as peças no tabuleiro viciado. E isso só é possível com campanhas maciças, como as que foram feitas pela diminuição dos preconceitos e pelo fim do bullying. Assim procedendo, estamos medicando o paciente, controlando a doença, mesmo sabendo que é incurável.

Além da sistêmica e da endêmica ainda temos a corrupção sindrômica, cuja erradicação é mais demorada, porque depende do oxigênio da credibilidade e da verdade, no arcabouço legislativo das relações institucionais, visando a articulação da sociedade civil organizada.

Antes desse horizonte distante, nos resta chutar o balde e endossar o esperneio da imprensa e dos idealistas do Judiciário e do MP, ao verem o sistema mover as peças ou trocar o tabuleiro, sabendo que tudo continuará como dantes, porque alimentado pela conveniência das leis, em prol da minoria governante e da permanência dos vícios do sistema.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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