Quinta-feira, 28 de março de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

José Carlos Sá

De dedo duro a delator - Por José Carlos Sá


Por José Carlos Sá
Blog Banzeiros


Há dias guardo este texto do Cesar Maia, ex-prefeito do Rio de Janeiro, para reproduzir aqui no brog. Fiz a leitura dele na última reunião da Confraria da Palavra e o assunto, que está na ordem do dia da política e da polícia no país, chamou a atenção dos meus companheiros e seguiu-se uma aula sobre o papel de Tiradentes na Inconfidência Mineira, pelo professor Aleks Palitot. Vamos ao texto:

Gente de Opinião

Semelhanças entre Joaquim Silvério dos Reis e Joesley Batista? (Fotos Quinho/EM e Daniela Tovianski/Revista Exame)

“NA PRIMEIRA “DELAÇÃO PREMIADA” NO BRASIL, ACORDO NÃO FOI CUMPRIDO! FOI TAMBÉM A PRIMEIRA “AÇÃO CONTROLADA”! Ex-blog do César Maia

1. Na primeira “delação premiada” registrada na história brasileira, o delator entregou todos os envolvidos. Na “Devassa da Devassa”, o historiador Kenneth R. Maxwell -analisando em profundidade as razões, os fatos e os desdobramentos da Inconfidência Mineira- demonstra que não se tratava de nenhuma luta pela independência do Brasil.

2. Conforme Kenneth Maxwell, os principais articuladores do movimento eram contumazes sonegadores e, por isso, encabeçavam a lista dos devedores da dívida ativa da coroa portuguesa. A reação contra a derrama –aumento do imposto sobre o ouro- serviu como pretexto, de forma a adensar o movimento.

3. Mas o objetivo básico era cancelar a dívida ativa dos sonegadores, entre estes o Desembargador e poeta Tomás Antonio Gonzaga; advogado e poeta, Alvarenga Peixoto; advogado, minerador e poeta Claudio Manoel da Costa (que se suicidou); Coronel Comandante Joaquim Silvério dos Reis; Cônego Luís Vieira da Silva, etc. Ao todo, 37 denunciados foram presos, julgados e condenados, num processo que durou quase 3 anos.

4. Silvério dos Reis -contratador de entradas, fazendeiro e proprietário de minas- participava intensamente da conspiração. Estava a par de tudo. A partir de um certo momento, aceitou a proposta de delatar o movimento. O fez através do que, no caso JBS, se chamou de “ação controlada”. Registrou tudo. Em acordo com os investigadores, entregou tudo: nomes e fatos, local de reuniões na casa de Cláudio Manoel da Costa.

5. Todos foram presos, até Silvério dos Reis, este por um período curto, de forma a não chamar a atenção sobre a fonte das denúncias e os riscos por estar junto com os demais. O acordo de delação premiada de Silvério dos Reis tinha como elemento central o perdão de toda sua dívida ativa, a maior de todas.

6. A leitura dos atos por crime contra o Estado –lesa majestade- durou 23 horas. Todos condenados, a maior parte à morte. Os condenados reagiram gritando. Mas, no final, foi lida uma decisão da Rainha Maria I de Portugal, transformando as penas de mortes em degredos perpétuos, asilos temporais… O cônego e os padres envolvidos tiveram uma pena “sigilosa”. Apenas o alferes Tiradentes foi condenado à morte.

7. A delação seria premiada com gratificação em ouro; o cancelamento de seu débito; o cargo público de tesoureiro da bula de Minas Gerais, Goiás e Rio de Janeiro; uma mansão como morada; pensão vitalícia; título de fidalgo da Casa Real; fardão de gala e hábito da Ordem de Cristo. Nada disso foi cumprido.

8. No final, Silvério dos Reis ganhou liberdade e mobilidade, indo a Portugal, à Europa, e voltando ao Brasil pobre, sofrendo ataques e, no final, indo morar no Maranhão, sempre escondido pelos riscos pessoais. Faleceu em 1819, 30 anos depois do início de sua delação.”

Fonte: Ex-blog do César Maia

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoQuinta-feira, 28 de março de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Turismo ampliado

Turismo ampliado

Previsto para entrar em funcionamento no próximo dia 9, domingo, o passeio na antiga litorina da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, vai ampliar as opçõe

Um partido envelhecido precocemente

Um partido envelhecido precocemente

Uma matéria do jornalista Eduardo Militão, da sucursal de Brasília da UOL descreve o desgaste interno e externo do partido MDB

Bebendo veneno

Bebendo veneno

Ministério da Agricultura liberou mais 31 novos agrotóxicos

A tristeza da miséria humana

A tristeza da miséria humana

Efeitos deletérios da tragédia de Brumadinho

Gente de Opinião Quinta-feira, 28 de março de 2024 | Porto Velho (RO)