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Silvio Santos

João Balbino de Souza - Um ambulante na Rafael com a Calama


João Balbino de Souza - Um ambulante na Rafael com a Calama - Gente de Opinião

 A vida de aposentado não é muito boa não, principalmente pra quem é ativo como eu. A gente tem que procurar fazer alguma coisa pra não cair no tédio.
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Quem deu a dica foi o fotografo Jota Gomes. “Zekatraca, conversa com aquele velhinho da banca de tucupi. Acho que as histórias dele darão uma boa matéria”. Fui lá na quarta feira de cinzas e seu João João Balbino de Souza - Um ambulante na Rafael com a Calama - Gente de OpiniãoBalbino me recebeu dizendo: “Freguês essa macaxeira acabou de chegar é da ‘manteiga’ boa de comer cozida com café preto”. E sem que eu dissesse o motivo da minha visita, foi contando histórias da sua vida. “Sou dono das terras onde mataram aquela irmã Dorothy tenho recibo de compra”. Foi então que pedi autorização para gravar e ele permitiu. O papo durou quase uma hora e só não foi além, porque começou a chegar freguês querendo comprar molho de pimenta, verdura, e a famosa macaxeira ‘manteiga’. Seu João é pai de um bocado de filhos, tem até oficial reformado da PM entre outros, tem também a história muito interessante de um filho formado em Recursos Humanos

Quer saber mais sobre o ambulante da Rafael com a Calama? Acompanha a entrevista que segue:


 

E N T R E V I S T A
 

Zk – O senhor é de onde?

João Balbino – Nasci em Canindé no estado do Ceará em 1932, no dia 8 de março. Minha infância foi trabalhando com meu pai conduzindo 50 burros com algodão. Catuba, Caixão, Torres, Maranguape, Acarape tudo era lugar que a gente pegava algodão pra levar pra Fortaleza.
 

Zk – E quando foi que o senhor veio para a Amazônia?

João Balbino – Vim em 1943, como Soldado da Borracha. Do Ceará vim direto pra cá pra Porto Velho. Lembro dos navios Aquidabã, Eduardo Ribeiro, Almirante Alexandrino, Chata Cuiabá, Almirante Barroso, Lauro Sodré e Augusto Monte Negro,
 

Zk – Quem fez a convocação?

João Balbino – Atendemos a convocação de Joaquim Cardoso de Magalhães Barata. Na realidade quem fez tudo isso foi o presidente Getúlio Vargas. Meu pai ao chegar aqui, não gostou da cidade e foi cortar seringa lá em Fordlândia para uma companhia americana, eu não fui com ele não, fui pra Santarém de onde embarquei para Curuatinga que era um grande seringal daquele fazendeiro que matou a  Irmã Dorothye muita gente. Eu trabalhava num trecho por nome Livramento uma colocação que tinha mais de 400 seringueiros, a colocação que escolhi pra trabalhar, tinha o nome de Tacimba. Entrei em 1949 pra esse seringal e sai em 1952 O velho José Estevam Pereira da Silva que era o dono do seringal onde ficava essa localidade adoeceu, chamou o filho dele e pediu pra gente leva-lo pra Santarém, passamos 19 dias numa canoa de baixada no rumo de Santarém.
 

Zk – E nesse intervalo entre 43 e 49 o senhor estava aonde?

João Balbino – Estava explorando as três divisões Para, Amazonas e Mato Grosso. Parati, Juruena e São Manuel, são três rios. Devo esclarecer que sou Seringueiro cadastrado e dos bons, minha safra era de 1,5 Tonelada, todos os anos. Lá não tinha esse negócio do patrão mandar matar o seringueiro que tinha saldo, basta lembrar que em 1952 tirei um saldo 14.780,00 Cruzeiros, esse dinheiro aqui ainda estava valendo (mostrando cédula de Cruzeiro).
 

Zk – E quando foi que o senhor veio de vez pra Porto Velho?

João Balbino – Foi em 1980, vim fazer um serviço aqui de levantamento de estrada, como mateiro. Nunca estudei, mas, meu currículo aonde vai é abençoado por Deus. Na prática sei o que estou fazendo. Na época vim trabalhar na Estrada Brasília/Acre a 364 de hoje, Quando terminei o trabalho aqui, ganhei um bom dinheiro, fui a Brasília e comprei uma casa no Gama. Quando terminou o serviço aqui fui pra Itaituba e lá encontrei um amigo antigo, o Tibiriçá que perguntou pra onde eu ia e respondi que ia pro garimpo de ouro e ele pediu preu levar uma carga pra ele como piloto de barco e então levei carga até o Cuiucuiu no rio Tapajós deixei outra carga no Caneirinho outro garimpo, depois voltei pra Santarém e fui trabalhar de açougueiro, minha vida sempre foi assim, até hoje você ver eu aqui nessa banquinha, hoje comprei banana, macaxeira (manteiga), e aqui tem molho de pimenta, verdura etc. Sei que já não estou tão bem assim, peguei uma doença nas pernas e outro dia cheguei a cair.
 

Zk – Para sua idade de quase 90 anos o senhor estar em forma?

João Balbino – Furei muita Copaíba e o cara que tira óleo de Copaíba tem que beber pra sugar o líquido do seio da madeira e isso faz muito bem à saúde. Onde trabalhava cortei muita Balata, Leite de Maçaranduba, Coquirana. Tive três mulheres e todas morreram. Casei de novo e tive sete filhos, e me divorciei.
 

Zk – O senhor é aposentado?

João Balbino – Sou aposentado como soldado da borracha. O documento diz que prestei 52 anos de serviço. Olha só, o local onde mataram a Irmã Dorothyo terreno é meu, tenho o recibo de compra, na realidade, foi o pagamento do meu saldo, naquele tempo era Casa Coimbra que aviava a gente, só sei que tenho recibo comprovando que aquela terra é minha. O Sindicato sabe desse documento, inclusive prometeram me dar umas terras aqui em troca das de lá, vamos ver se sai antes da minha morte. Tava doido que a Usina de Belo Monte passasse pelo menos um quilometro dentro das minhas terra, pois, aí eu pegava a ficha (dinheiro) boa.

João Balbino de Souza - Um ambulante na Rafael com a Calama - Gente de Opinião

Zk – E hoje o senhor fica aqui nessa banquinha. Da pra ganhar algum?

João Balbino – Aqui é só pra passar o tempo. Pra não ficar em casa sem fazer nada. A vida de aposentado não é muito boa não, principalmente pra quem é ativo como eu. A gente tem que procurar fazer alguma coisa pra não cair no tédio. Tem uma história interessante que aconteceu com um filho meu.
 

Zk – Vamos contar?

João Balbino – Ele é formado em Recurso Humano, mais não conseguiu emprego na sua área. Conseguiu emprego de vigia num hospital, fez curso passou e trabalhou seis meses. Um dia, sem ter recebido um tostão, foi trabalhar barbudo, cabeludo aí o chefe chamou sua atenção: “Jone não é assim, pra trabalhar tem que vir todo bonitinho” e meu filho respondeu, como posso vir bonitinho se até agora não recebi nada, vivo à custa do meu pai, foi então que o cara falou: “Jone vai fazer uma faculdade pra tu ser gente!” Aí meu filho tirou o certificado da faculdade de Recursos Humano e disse, pois não, a minha formação está aqui, mostre a sua? Foi desse jeito. Essa é a minha história, cheia de altos e baixos, mas, é totalmente feliz. 
 

FOTOS DE JOTA GOMES

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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