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Dante Fonseca

Major Fernando Guapindaia de Souza Brejense, primeiro superintendente (prefeito) de Porto Velho (1915-1916) - Por Dante Ribeiro da Fonseca


Major Fernando Guapindaia de Souza Brejense,
primeiro superintendente (prefeito) de Porto Velho (1915-1916)

Por Dante Ribeiro da Fonseca

Assistente de pesquisa: Glendha Stefhany Goncalves da Silva Pereira (acadêmica de História da UNIR)

Major Fernando Guapindaia de Souza Brejense, primeiro superintendente (prefeito) de Porto Velho (1915-1916) - Por Dante Ribeiro da Fonseca - Gente de Opinião

Major de Engenharia do Exército, Fernando Guapindaia de Souza Brejense. Primeiro superintendente (prefeito) de Porto Velho (1915-1916).

Fonte: CANTANHEDE, 1950, p. 45).

O Major Fernando Guapindaia destacou-se pela sua atividade política e como militar no Norte do Brasil, especificamente nos primórdios daqueles que são hoje os estados do Acre e Rondônia. Em razão dessa participação traçaremos abaixo uma pequena biografia desse personagem, pioneiro superintendente de Porto Velho, ainda pouco conhecido, exceto por uma escola que leva o seu nome, situada no bairro Santo Antonio, nesta capital. Antecipou-nos nessa tarefa o ilustre pesquisador da História de Rondônia Esron Penha de Menezes, que entrevistou no Rio de Janeiro a senhora Xista Guapindaia, viúva do Engenheiro Teivelino Guapindaia, filho do biografado. Talvez foi Esron o primeiro a escrever a biografia do superintendente, que publicou nos anos 80. Contudo, Menezes não tinha acesso às facilidades de pesquisa que possuímos hoje, assim, intentamos complementar com mais alguns dados essa que supomos biografia pioneira do nosso primeiro superintendente municipal.

Nasceu na cidade de Brejo, Estado do Maranhão em 27 de outubro de 1873 filho de Domingos Ferreira Souza e de Da. Adélia Ferreira Souza. Assentou praça aos 16 anos no Corpo de Engenheiros do Exército em São Luiz e, posteriormente, seguiu para o Rio de Janeiro. Em 1889 contraiu núpcias com a senhora Luiza Teive com quem teve dois filhos: Teivelinda e Teivelino (MENEZES, 1980). Naquele mesmo ano já o encontramos segundo sargento (N. 82, Aviso de 02/09/1889, p. 52).

Em 1897 já se registra sua atividade na Amazônia. Estava exercendo o cargo de superintendente do Município de Lábrea (AM) (Jornal da Lábrea, 01/03/1897). Em 1905 o encontramos exercendo a função de delegado auxiliar em Cruzeiro do Sul, sede do Departamento do Alto Juruá (AC) (SILVA, 2010, p. 259). Em janeiro de 1910, encontrava-se no Maranhão (Pacotilha, 3/01/1910), mas em 1º de maio desse ano tornou-se o primeiro presidente da Loja Maçônica Capitular Fraternidade Acreana (863), em Cruzeiro do Sul (AC) (LOUREIRO, 1999, p. 22). Foi também prefeito interino daquele município em 1911, já no posto de capitão (O Cruzeiro do Sul, 08/01/1911). Em março também daquele ano é anunciada sua partida do Acre (O Cruzeiro do Sul, 12/03/1911). Em julho desse mesmo ano é candidato ao Congresso Estadual do Maranhão (Assembleia Legislativa) tendo sido eleito naquele mesmo mês angariando do eleitorado maranhense 340 votos (Pacotilha, nºs. 153, 173 e 188).

Em março de 1912 foi empossado no Congresso Legislativo tendo informado do evento ao seu batalhão (Pacotilha, nº 57, 07/03/1912). Pouco tempo depois o Capitão Guapindaia pediu a transferência sendo, em razão do pedido, deslocado da 1ª. companhia do 48º. Batalhão de Caçadores para a 3ª. do 44º. do 15º. Regimento de Infantaria (Pacotilha, nº 70, 22/03/1912 e nº 73, 26/03/1912.).

Em 1914 era comandante geral do Corpo de Polícia do Maranhão, no posto de tenente-coronel (SILVA, 2016. p. 99). Curioso é que a Guapindaia é atribuída, por todas as fontes locais, o posto de major, inclusive quando veio ocupar a superintendência em Porto Velho em 1915. Contudo, Silva (2016, p. 99) informa que já estava ele no posto de tenente-coronel quando da sua reforma. De fato, em mensagem do governo do Maranhão, datada de 1913, podemos constatar que Guapindaia já estava no posto de tenente-coronel, era comandante do Corpo Militar naquele estado (SILVA, 1913, p. 22). Já na edição d’O Jornal de São Luiz, de 17 de janeiro de 1917, encontramos a seguinte frase: Não assim em Porto Velho, sob a feliz gestão municipal do Major Fernando Guapindaia. Em outra edição do mesmo jornal, do ano de 1919, o nosso personagem é tratado como coronel (O Jornal, São Luiz, 20/09/1919). Em outras edições desse mesmo jornal ora é tratado de major, ora de tenente-coronel, ora de coronel. É possível então que a patente de tenente-coronel não seja do Exército, mas do Corpo Militar do Maranhão, instituição estadual que comandou.

Retornando ao Amazonas, pediu reforma para voltar ao seu batalhão (Pacotilha, nº 304, 24/12/1912). Em janeiro de 1913 o jornal Pacotilha informou a expedição das reformas solicitadas e compulsórias, entre elas estava a do Capitão Guapindaia (Pacotilha, nº 5, 7/01/1913). Em 19 de outubro de 1914 o Jornal do Commercio de Itacoatiara noticia a estada de Guapindaia naquele município e o agradece pelo carinho do coronel e a prosperidade que trouxe para o estado do Amazonas (Pacotilha, nº 246, 19/10/1914).

Em 1914 foi criado o município de Porto Velho (Lei 757 de 2/10/1914 do Governo do Amazonas, in MENEZES, 1980, p. 61), antiga comarca de Humaitá, pelo médico baiano Jonathas de Freitas Pedrosa, que governou o Amazonas entre 1913 e 1917.

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Vista de Porto Velho em 1907. Autor desconhecido, pois a foto não foi feita
por Dana Merril, que chegou a Porto Velho apenas em 1909.

Fonte: MERRIL, D. B. Views of the Estrada de Ferro Madeira e Mamoré.

Acervo: The New York Public Library, SASB – Photography Collection Rm 308.

Em dezembro de 1914, em razão da autorização contida na lei que criou o município, foi nomeado o seu primeiro governo, com mandato até 31 de dezembro de 1916. Foi esse governo composto pelo superintendente major Fernando Guapindaia, já reformado. Tinha como intendentes: José Jorge Braga Vieira, Luzitano Barreto, Antonio Sampaio, Manuel Felix de Campos e José Z. Camargo e como suplentes: José de Pontes, Achilles Reis, Horacio Bilhar, Alderico Castilho e Alfredo Climaco Carvalho (O Tempo de 24/1281914, apud MENEZES, 1980, p. 70). No dia 24 de janeiro de 1915 foi instalado o município e assumiu o cargo seu primeiro superintendente, o major Fernando Guapindaia de Souza Brejense (MENEZES, 1980, p. 71).

Estava Guapindaia então na região do rio Madeira quando da reunião de criação da Loja Maçônica União e Perseverança na vila de Presidente Marques (Estação de Abunã da E.F.M.M). Foi convidado para compor seu quadro como fundador, mas não participou das reuniões. Também não daquelas com o mesmo fim ocorridas na vila de Porto Velho, pois já havia retornado ao Maranhão.

Depois de deixar o cargo de superintendente de Porto Velho, que findou em 31 de dezembro de 1916, retira-se para o Maranhão em janeiro de 1917 onde ainda veio a ocupar a superintendência de São Felipe (Pacotilha, nº 40, 18/02/1920) por diversas vezes até 1922 (MENEZES, 1980). Faleceu no dia 18 de novembro de 1929, em São Luiz do Maranhão.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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