O processo para eleger prefeito de Porto Velho encaminha-se para a reta final - Por Amadeu Machado

 
AMADEU MACHADO

 

Depois de uma primeira avaliação com 7 candidatos,(é o que lembro) o eleitorado conduziu para o segundo turno Léo Moraes e Hildon Chaves.

Léo sempre pontuou com destaque ao longo da campanha, enquanto Hildon, embora apresentasse crescimento razoável, segundo as pesquisas de renomado instituto, não
atingia dois dígitos, na derradeira investigação divulgada.

Supunha que Mauro iria para o segundo turno. Ele não fez milagres mas realizou uma gestão transparente e sóbria, sabendo-se que não foram poucos e nem pequenos os obstáculos que se lhe antepuseram, inclusive algum cerceamento questionável, promovido por órgão de fiscalização.

Agora todas as atenções estão voltadas para esta dupla de jovens, que num relance surgiu no cenário político de nossa cidade.

Tenho especial carinho pelo Léo, pelo fato de o pai dele ter sido um grande amigo meu. Vejo nele muito talento, inteligência bem acima da média e muita garra.

O Hildon também conheço e o aprecio. Sempre foi um excelente profissional; um promotor sério, comprometido e muito criativo em sua função fiscalizadora.

Sobre a versão de empresário que ele é, tenho nada a comentar, porque sobre isso nunca conversei com ele, assim como ele também não abriu assuntos que pudessem identificar este seu perfil empreendedor.

Fico a pensar ser bem possível que nossa Porto Velho, ganhe quem ganhar, será beneficiada por administração talentosa, transpirando jovialidade e que buscará melhoria da qualidade de vida de nós outros munícipes.

Cogito que por serem jovens e inteligentes, não sucumbirão ao apelo da vaidade, passando a se sentir gênios.

Já vi muito disso. Pessoas que um dia são absolutamente comuns e que eleitos para algum cargo, imediatamente se entendem como sapientes e donos de toda a verdade.

Sebastião Valadares

Fui procurador de Porto Velho nos idos de 1976, tendo sido o  primeiro procurador geral do Município, entre os anos de 1979 a 1983.

Prefeito Carpintero

Trabalhei com os Prefeitos Carpintero, Luiz Gonzaga, Francisco Lopes de Paiva e Sebastião Valadares. Junto com outros tantos técnicos de excelente nível, somando forças com os Governadores Humberto Guedes e Jorge Teixeira, consolidamos a cidade num momento de enorme efervescência, com a população se multiplicando e as demandas sociais se agigantando.

Tinha-se um único propósito. Ninguém pretendeu alçar voos estratosféricos. Apenas queríamos e fazíamos o melhor para Porto Velho e sua gente, arrrastando as severas limitações que nos impunham aqueles tempos.

Depois disso passei um bom tempo como Chefe da Casa Civil do Estado de Rondônia, onde ombreei com o Governador Piana e uma valorosa equipe, conduzindo os destinos de nosso Estado.

Depois foram quase 20 anos de Tribunal de Contas, onde me empenhei ao máximo para levar a melhor orientação sobre gestão de recursos públicos aos governantes do Estado e Municípios.

Estou dizendo tudo isto para evidenciar o tanto de experiência que adquiri.

Então eu volto àquela pessoa que era comum e se tornou pública; foi escolhida por algum mérito e em seguida, cercada pelos eternos áulicos do poder, se transforma numa pessoa arrogante e, pior de tudo, dona da verdade.

Em inúmeras oportunidades que conversei com vários desses espécimes, que estavam neste estágio de elevada sabedoria, formulei indagações ou fiz comentários sobre determinados assuntos e o "todopoderoso" vinha com a trágicômica resposta: "eu sei".

De um dia para o outro, incensado por quem vive disso, o cidadão comum assumiu e incorporou a genialidade.

Vezes houve que meio incomodado com tanta sabedoria, eu sugeria alguma coisa bem exótica, ou inexistente e soltava a isca para ouvir, e depois muito rir, a soberba afirmação "eu sei".

Eu espero que Léo ou Hildon, embora sejam pessoas culturalmente diferenciadas e muito bem preparadas, não enveredem por esta senda da soberbia.

Se assim procederem, no que não creio, eles se distanciarão da sociedade e ficarão fechados num mundinho ridículo, cercados de puxa-sacos, achando que são o máximo, enquanto a administração da cidade se torna caótica.

Há algumas regras que o bom administrador deve professar como um mantra. Uma delas, talvez a mais importante, é reconhecer que não sabe tudo e que precisa de bons auxiliares; formar uma equipe engajada e talentosa.

Tendo o bom senso e sendo criterioso para formar um time com grau de excelência, sem dúvida que estará sendo dado o passo mais importante para o êxito da gestão.

Tem que saber garimpar os talentos que estão por aí.

Porto Velho precisa de tudo. É uma cidade feia, suja, sem nada de urbanização. Que Hildon ou Léo saibam que dar um banho de loja em nossa querida cidade, torná-la agradável, bonita, fará todos os portovelhenses mais felizes.

Infraestrutura é muito importante, especialmente o saneamento básico.

Chega de CAERD. Esta é uma empresa que se consome em si mesma. Está obsoleta, ultrapassada, endividada e, salvo alguma magia, ela não poderá oferecer a resposa que a população espera e necessita há muitos anos.

E o povo de nossa urbe tem índole pacífica, caso contrário o tanto de aflições e dores que famíias sofrem por conta de doenças que levam a óbito, sempre idosos e crianças, já teria provocado uma insurreição incontrolável.

Contudo, seria de bom tom que fosse melhor explicado o sistema e os mecanismos as tais parcerias público/privadas - PPPs.

Notem que Porto Velho está com 510 mil habitantes e não tem rede de esgotos.

Especule-se que esta população há de gerar 80 mil quilos de fezes por dia e 300 mil litros de urina. Este material é depositado no solo, seja em fossas, seja em céu aberto.

O lençol freático está todo e irremediavelemente contaminado, enquanto tem muito resíduo fecal sendo conduzido "in natura" para o nosso Rio Madeira.

Não há água tratada e encanada em mais de 50% da cidade. Daí que um enorme contingente abastece suas casas do precioso líquido em poços artesianos, semi-artesianos, amazonas ou mesmo humildes cacimbas, que, como visto, estão tomados por coliformes fecais.

Nosso povo bebe fezes; bebe merda com bastante ureia.

Este estado de coisas não pode continuar. Por amor à nossa cidade, pela digna sobrevivênca nossa e de futuras gerações, tem que ser dado um basta a esta vergonhosa barbárie, a esta total ausência de civilização e esta calamidade na saúde pública.

Enfeitar Porto Velho, o banho de loja que falei, limpar a cidade, fazer passeio, remanejar ambulantes tirando-os do caminho dos pedestres e de nossas praças, saneá-la, devem ser imperativos para qualquer um dos dois jovens que aspiram o cargo de Prefeito.

Agora observemos o seguinte, pessoas são suscetíveis de erro.

Pessoas não são perfeitas, não estão sempre de bom humor e não estão sempre corretas. Muitos dizem que o pior defeito das pessoas é sua humanidade; mas não é o nosso pior defeito o que mais nos caracteriza?

Mas assim como erramos e sofremos crises de ira, também amamos.

Em nome do amor, mesmo que erros sejam cometidos e que a ira assombre, é de se pedir ao futuro prefeito que ele seja apaixonado pela nossa cidade e que tenha compaixão daqueles irmãos que pedem tão pouco e nunca são atendidos, sendo procurados apenas de dois em dois anos.

Isso que é humanidade. Ser capaz de falhar, ser capaz de cair e se levantar ou ser capaz de se sacrificar pelos outros, mas sempre tentando fazer o melhor.

Pelo amor, pela paixão, pela compaixão.

Antes ser defeituoso, ser tempestuoso, até ser fraco, do que ser vazio, sem sentimentos, nada além de cálculos e estratégias para alcançar o que fará bem a mim e a um pequeno e nefando círculo.

Parece que não é pedir muito, dado as virtudes e compromissos que estes jovens estão assumindo com uma comunidade de meio milhão de cidadãos, que habitam uma cidade problemática em topografia, hidrografia, pendências fundiárias, déficit de habitação, zero de saneamento, mobilidade precária, desemprego crescente, criminalidade estúpida e agressiva, rede de saúde insuficiente e, o pior de tudo, elevada taxa de desesperança.

Pensem em resgatar a autoestima, a alegria de viver e, sobretudo, a dignidade deste sofrido povo de Porto Velho.

Aquele que o povo escolher seja bem vindo e arragace as mangas, porque para cumprir os compromissos assumidos terá que mourejar o dia inteiro mais um pedaço da noite, todos os dias durante quatro anos.

Atenção, se e quando lhe chamarem para algum "esquema" e isto certamente acontecerá, tenham presente que a proposta objetivará enriquecimento ilícito e que, para enricar alguns, estará sendo tomado o nada que os outros possuem.

Se surgir a propota indecorosa, repila-a de forma veemente e definitiva, lembrando dos irmãos que comem, respiram e bebem merda, e que o elegeram para encerrar este ciclo perverso.

E, por favor, Senhor Prefeito, mantenha a simplicidade, a humildade e seja um apaixonado.

 

 

Fonte: Amadeu Guilherme Matzenbacher Machado OAB/RO 4-B