Sexta-feira, 19 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)

×
Gente de Opinião

Leonardo Boff

Os golpistas escondem a verdade sob a injustiça


Está em curso ainda, nesta segunda-feira, o julgamento da predidenta Dilma Rousseff por pretenso crime de responsabilidade.

Seu discurso foi altaneiro, respeitoso e com uma cerrada argumentação. Mostrou de forma cabal que constitucionalmente não cometeu crime nenhum com referência a dois decretos de suplementação (pedaladas) e o plano Safra. Juntos afetam apenas em 0,18% do orçamento da União. Praticamente muito pouco. Mesmo que houvesse algum delito, por menor que seja, a pena é absolutamente desproporcional. Por um pequeno acidente de bicicleta, a presidenta é condenada à morte.

Na media em que nos últimos dias se desenrrolaram as discussões e as oitivas dos  testemunhas ou informantes foi ficando cada vez mais claro que este processo foi tramado pelo ex-presidente da Câmara Euclides Cunha, pelo vice-presidente Temer e tecnicamente montado no seio do TCU no qual dois altos funcionários mancomunados, ferindo a ética professional, elaboram materiais que serviram de base para formulaçãoda denúncia de impeachment da presidenta.

Importa enfatizar, como já escrevemos neste espaço, que por detrás está um golpe de classe: a velha oligarquia, donos de imensas fortunas pelas  quais se fazem donos do poder. Sentiram-se ameaçados pela continuidade dos benefícios sociais a milhões de brasileiros que começaram a ocupar os espaços antes reservados às classes medias ou às dos  privilegiados. Inaugurar-se-ia, se consolidado, um outro sujeito de poder, capaz de mudar a face do Brasil e limitar os níveis absurdos de acumulação da classe do privilégio (0,.05%¨da população ou 71 mil de super-ricos).

Postulam uma política radicalmente neoliberal que implica a diminuição do Estado, a desmontagem das conquistas sociais, as privatização de bens públicos como  venda de terras nacionais a agentes estrangeiros, além do pré-sal, uma das últimas e maiores reservas de petróleo e gás do mundo.

O que nos estarrece nas perguntas feitas à presidenta é o baixíssimo nível intelectual e moral da maioria dos senadores. Mostraram-se até agora, segunda-feira, incapazes de compreender as razões constitucionais alegadas pela presidenta em consonância com a maioria dos especialistas em direito e economia do Brasil e do mundo, argumentos que encineram as pretensas justificativas do impeachment. Ademais mostram uma mentalidade provinciana, imaginando que o problema econômico-financeiro é só do governo Dilma sem situá-lo dentro da grave crise sistêmica que tomou todas as economias, afetando agora a nossa.   

Na maioria  dos senadores nota-se clara má vontade e cegueira, pois continuam a afirmar as mesmas acusações de crime, alguns enfatizavm “graviíssimos crimes” contra a constituição como  se não tivessem escutado as detalhadas provas  contrárias, aduzidas pela presidenta e do pequeno grupo de senadores que a apoia. Este foi contundente, desmascarando o processo como golpe e farsa, citando os nomes de seus principais protagonistas alguns presentes no senado. Cabe revelar que dos 81 senadores cerca 49 estão sob julgamento por crimes  ou averiguações. Eles que deveriam estar no banco dos réus e não a presidenta que todos reconhecem como honesta e inocente.

Nas suas respostas a presidenta Dilma sempre conservou altura e dignidade. Nunca deixou perguntas no ar e  não respondidas. Mostrou uma segurança de quem é portadora de verdade interior e de correta conduta institucional. Tal atitude é coerente com sua vida pregressa de prisioneira política barbaramente torturada e sobrevivente de um perigoso cancer. Mostrou paciência exemplar em ouvir os repisados argumentos e respondendo-os um a  um. Foi sempre clara e, por vezes, contundente, rechaçando falsificações e distorções de fatos e de leis para justificar o impeachment, que parece já decidido previamente por um concluio perverso entre várias forças que têm dificuldades de  conviver com a democracia e são insensíveis às demandas das maiorias pobres de nosso país.

A conduta da maioria dos senadores que a acusam me reporta à frase de São Paulo aos Romanos:”eles escondem a verdade sob a injustiça e por isso atraem ira divina” (1.18). Se consumado o  impeachment, o que já não é tão seguro, entrarão na história como violadores da democracia e negadores da autoridade das urnas e enfrentarão um tribunal maior, d’Aquele que julgará e condenará a injustiça perpretada contra uma pessoa honesta, correta e inocente.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

Gente de OpiniãoSexta-feira, 19 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)

VOCÊ PODE GOSTAR

Boff diz ter misericórdia de Ciro e dá aula de elegância - Por Leonardo Boff

Boff diz ter misericórdia de Ciro e dá aula de elegância - Por Leonardo Boff

247 - O teólogo e escritor Leornado Boff, um dos mais importantes intelectuais do mundo, celebrado pelo papa Francisco como interlocutor privilegiado,

Boff manda recado aos mais pobres: não votem no opressor de vocês

Boff manda recado aos mais pobres: não votem no opressor de vocês

"Bolsonaro é inimigo dos pobres. Quer que paguem mais impostos, discrimina os negros/as, os nordestinos, além de minorias. A maioria dos pobres são ne

Libertemo-nos desta desgraça, diz Boff sobre Bolsonaro

Libertemo-nos desta desgraça, diz Boff sobre Bolsonaro

"Meu sentimento do mundo me diz que se Bolsonaro chegar à Presidência mergulharemos num grande caos social. Propiciará a volta dos militares.Ele não p

Boff: México acompanha Lula e também teme ascenso do autoritarismo

Boff: México acompanha Lula e também teme ascenso do autoritarismo

"Estou há uma semana no México falando em várias universidades sobre sustentabilidade e a crise ecológica. Percebi nos debates que acompanham de perto

Gente de Opinião Sexta-feira, 19 de abril de 2024 | Porto Velho (RO)