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Gente de Opinião

Luciana Oliveira

Prefácio que escrevi no livro As Peripécias do General


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É comum num velório muita gente sussurrar só as coisas boas que o morto deixou impregnada na memória coletiva, ninguém fala mal, como se ele pudesse ouvir e agradecer os elogios.

Assim acaba a história da maioria, como se no último ato encenado no palco da vida a cortina se fechasse sem polêmica.

Não foi o que sucedeu no dia do encantamento de Manoel Costa Mendonça, o Manelão, fundador da Banda do Vai Quem Quer, o bloco carnavalesco que há 38 anos arrasta milhares de foliões nas ruas que levam onde a cidade começou.

Por tanto riso, tanta alegria, o general da folia teve um velório com choro, reza e gargalhadas pelas histórias e estórias que o transformaram na figura mais emblemática do carnaval de Porto Velho.

Ninguém melhor que Silvio Santos, multifacetado artista, cúmplice de festa e confusão, parceiro de compromisso com a cultura popular, para estabelecer a distância entre as verdades e mentiras que Manelão contava.

Diz o ‘cara de paca’ que 90% das lendas e histórias fabulosas que foram passando de boca em boca, de geração em geração, correspondem a mais pura verdade.

E que importância tem a mentira quando gera risos verdadeiros?

O que contam sobre as Peripécias do Manelão não se dissocia da cultura carnavalesca de Porto Velho que explodiu como um lança confetes na década de cinquenta. Cada causo fluiu da tradição popular como um elemento indispensável à proteção do patrimônio cultural da cidade, daí a força de se perpetuar no imaginário coletivo.

Os desfiles de corsos dos primórdios carnavalescos, os bailes de clubes sociais, os blocos de rua e escolas de samba, todas as cenas momescas, estão representadas na Banda do Vai Quem Quer, a gigantesca e irreverente confraternização da ralé com a elite comandada por Manelão.

Ao publicar o que testemunhou no arriscado e prazeroso convívio com o rei da folia, Silvio Santos imortaliza um anedotário que deu a Manelão a fama de mentiroso pelo excesso de purpurina nos causos que contava em rodas etílicas.

Era mais quem queria ouvir Manelão narrar, com um cigarro na mão e o copo de cerveja na outra, como ele metralhou uma viatura da polícia depois de ser expulso da boate Cambuquira.

“Conta aquela da noite em que levou o que pode de um motel pra se vingar da conta cobrada no dia anterior!”, pediam os espectadores com insaciáveis ouvidos.

A história dos aviões Paulistinha do Aeroclube de Porto Velho que quebrou aprendendo a pilotar, também era favorita do seleto público que batia ponto no Chaveiro Gold.

A do voo num avião sem asas até a Taba do Cacique, Silvio confirma: é mentira!

O livro traz esses e outros causos que pela intensa sonoridade popular tornaram Manelão um personagem folclórico inesquecível, polêmico, divertido e capaz de gestos generosos que poucos ficaram sabendo.

Na véspera de um carnaval o rei da folia partiu, mas deixou selado o compromisso com os foliões de proteger a tradição da Banda.

E todo sábado gordo a cidade muda seu ritmo, abre alas de preconceitos e na brincadeira entra quem quiser.

Cada página virada neste livro ecoa os clarins de momo que a ninguém causa indiferença ao anunciar: “Lá vem a Banda, venha ver como é que é. Vamos todos com a banda, a Banda do Vai Quer Quer.”

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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