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Um símbolo da brasilidade - Por Petrônio Souza Gonçalves


 

Tudo é história e poesia no universo da viola caipira. Ela é, sobretudo, um símbolo de resistência musical e cultural. Flutuando em diversos universos musicais, ela tem mundo próprio, gravita sem se contaminar pelos modismos e sai fortalecida por todos esses períodos. A viola caipira é, acima de tudo, o canto dos esquecidos, como um protesto silencioso, harmonioso, que é a sua própria história.

Ela está nas casas dos ribeirinhos, nos galpões das grandes fazendas, nas periferias das grandes cidades, no interior do Brasil, no coração dos brasileiros. Em nosso país, em cada região, para cada sertão que ela migrou, ganhou vida e nome próprios, como a Viola de Queluz aqui em Minas, que nasceu na outrora cidade de Queluz, hoje conhecida como Conselheiro Lafaiete, a 100 quilômetros da capital de todos os mineiros. Lá a tradição da viola caipira era tão forte que chegou a ter 15 fábricas de viola na cidade, entre os séculos XIX e XX. E por estar tão presente ali, assim ficou conhecida, tornando-se uma iguaria musical nascida dentro das Minas Gerais.

Essas peculiaridades, raridades de cada povo, de cada lugar, fizeram com que a Viola de Queluz recebesse a visita de Dom Pedro II, que ao passar pela Estrada Real ganhou um pequeno concerto quando se hospedou na histórica Vila. A Viola de Queluz era uma das grandes honrarias daquele quinhão mineiro, onde hoje pouco ressoa o som do instrumento que tanto embalou os sonhos e as histórias do lugar. Coisas do nosso tempo, vamos perdendo as tradições e um pouco de nossas riquezas também.

Minas é terra de violas e violeiros, aqui tivemos Renato Andrade, mineiro de Abaeté, noroeste do Estado, que com seu talento e refinamento musical levou a viola caipira para os grandes salões e teatros do Brasil e da Europa, redimensionando o instrumento que é cheio de caminhos e possibilidades.

Discreta, nobre e singular, a viola caipira está por aí, pelos caminhos brasileiros, ressoando pelo país inteiro. No Pantanal mato-grossense ela ganhou nome de cocho e som enluarado. No nordeste ela ganha as rodas de repentes, fazendo duelos e rasqueados em plena luz do dia. Enquanto isso, São Gonçalo, padroeiro dos violeiros, vai remando sua canoa rio abaixo e ponteando a viola estradeira, que tem vários nomes.

E para falar da paixão dos violeiros pela viola e pela vida, lembro-me dos versos do poeta baiano Camillo de Jesus Lima, no poema Viola Quebrada, uma verdadeira ode a esse universo tão brasileiro e quase ignorado: “Ah! viola companheira/ Que as vezes pensava inté que tava mesmo abraçado/ Nos braços de uma muié./ Da viola pra muié é pequena a deferença./ Vosmeçe olhe, escuta, e pensa,/ Eu juro essa fala é franca,/ A viola tem cabelo/ Nas dez corda que ela tem/ Tal e qual uma mulher,/ Ela tem braço também/ Tem cintura/ Tem anca/ A viola faz chorar/ E chora a hora que quer/ Tal e qual uma mulher/ Derrete toda na mão/ Da pessoa que quer bem.”

E que assim sempre seja. Amém!

Petrônio Souza Gonçalves é jornalista e escritor

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