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APROVEITEM O FIM DO MUNDO


APROVEITEM O FIM DO MUNDO - Gente de Opinião
William Haverly Martins
 

Catástrofes, juízo final, apocalipse, dilúvio, profecias, bug do milênio, conspirações, calendário maia, histórias profetizando o fim do mundo existem desde que o homem adquiriu consciência crítica da sua própria existência, assimilou o medo inerente e transferiu ao imaginário cerebral suas fantasias escatológicas.

A maioria humana sempre foi fascinada por extremos, principalmente quando a ciência não consegue desvendar segredos convenientemente: o início e o fim da vida, ou o início e o fim do mundo, deus e o diabo, ou o bem e o mal. Se focarmos o olhar com mais rigor, veremos que não se trata de um problema de evidência, mas de crença.

A razão tem medidas pra quase tudo, a ciência explica a maior parte dos fenômenos que nos cerca. Mas na fronteira do quase com a verdade científica, existe uma região cerebral dominada pela emoção, que especula com a imaginação, com a fé, com a metafísica.

E a grande diferença entre esses dois ramos Gente de Opiniãodo conhecimento é que o metafísico não tem laboratório: o homem não aceita a morte, ele quer a perenidade; as maravilhas materiais do mundo não o satisfazem, insiste com o sobrenatural; os limites da terra e a simples existência o angustiam, sonha com o manjar infinito do céu; ignora as evidências e acredita em varinha de condão.

A conciliação é deveras difícil, diria impossível, a emoção é o afago humano às obscenidades da razão e às agruras da vida, nós acalentamos as nossas crenças e os nossos sonhos. O Big Bang, o universo em expansão, os buracos negros, imensidão do espaço, bilhões de anos, nanotecnologia, células tronco, física quântica, isto são coisas para os nerds. Nada como sonhar simples, viver a expectativa da ficção, imaginar a estética da perfeição, vibrar com o sexo, apreciar os astros como enfeites da Terra, nada como acreditar na eternidade na companhia da corte celestial.

Início e fim do mundo estão entrelaçados na emoção humana, de tal forma que pseudobruxos de vários naipes e épocas e teorias pseudocientíficas e místicas, ocupam espaços nos meios de comunicação, transitam livremente pela imaginação, com foro de verdade absoluta: o fim dos tempos será no dia 21 de dezembro de 2012 – ou, mais precisamente, o fim do calendário Maia. Não se sabe a hora, mas se sabe o antídoto: a desconfiança. Segundo Nietzsche, “a objeção, o desvio, a desconfiança alegre, a vontade de troçar são sinais de saúde: tudo o que é absoluto pertence à patologia.”

Atendendo à sinalização nietzschiana, uso a troça para lembrar que onze dias depois do fim do mundo, ocorrerá o início do mandato do prefeito eleito, Dr. Mauro Nazif. Isto não significa dizer que o prefeito vai encontrar a cidade em ruínas, apesar dos destroços dos viadutos e das inúmeras obras inacabadas.

Como a parte que sobressai em mim não é mística, nem possui ranços fundamentalistas de qualquer tendência, acorro em desejar ao prefeito eleito que a festa da vitória e o sucesso administrativo se estendam além dos ciprestes, além do fim do mundo, além de 1º de janeiro de 2013.

Sucesso mediante transpiração e fé no homem, fé no trabalho, fé nas boas propostas. Esperamos nesse instante de escolhas que todo e qualquer “eu” seja dominado e morto, que sobreviva a coletividade, o pensamento desinvidualizado. A cidade está precisando de mais gente compromissada com o progresso e menos com a corrupção. A ACRM (Associação Cultural Rio Madeira), entidade não governamental comprometida em participar, fiscalizar e indicar obras e serviços na área da cultura, está à disposição, atenta e vigilante.  

Não esqueça, Excelência, que o prédio da velha Câmara Municipal, localizado na ladeira Comendador Centeno, tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal, precisa ser arrebatado das mãos de Eris, deusa grega do caos e da destruição. Procure, com a equipe de transição, o projeto arquitetônico feito pelo arquiteto Carlos Roberto A. de Souza, afiliado à ACRM, e os projetos complementares, concluídos pela Fundação Iaripuna, sem custos para a Prefeitura. Até o financiamento já foi prometido pela Caixa Econômica Federal, só falta boa vontade para resgatar das ruínas, com a competente restauração, um dos prédios mais significativos da história do nosso município.

A ACRM, a ACLER, o Projeto Viva Porto Velho, professores da UNIR, diretores da Fundação Cultural Iaripuna e o público que participava das reuniões efetuadas nas próprias ruínas do prédio da velha Câmara, há dois anos, decidiram que o prédio deverá ser restaurado e no local instaurado o Museu da Imagem e do Som, dividido em cinco partes: museu da oralidade, museu da fotografia, museu da música e museu dos vídeos e filmes documentários, desde que o tema seja Porto Velho. A curadoria permanente será da ACRM que passará a ter sede no próprio local, onde funcionará, também, um estúdio para gravação e montagem dos vídeos e fotografias.

Por outro lado, para ocupar o espaço ocioso da área que fica localizada atrás do prédio em tela, seria construída a sede da ACLER (Academia de Letras de Rondônia), verdadeira guardiã da cultura histórico/literária do nosso município e do nosso estado, há 26 anos sem um local próprio para suas deliberações.

No mais, Senhor Prefeito, basta cumprir as promessas de palanque no que toca a creches, escolas, saneamento básico, pronto socorro municipal, asfalto para a periferia, enfim tudo que caiba na dosimetria estabelecida pelos eleitores: 4 anos de mandato, com direito a repetir a dose, desde que não extrapole nas suas funções, não se envolva com corrupção, nem esqueça as palavras de Abraham Lincoln: “se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder.”

[email protected]

Detalhes biográficos: baiano de nascimento, mas rondoniense de paixão, cursou Direito na UFBA e licenciou-se em Letras pela UNIR, é professor, escritor, presidente da ACRM – Associação Cultural Rio Madeira e vice-presidente da Acler – Academia de Letras de Rondônia, onde ocupa a cadeira 31.             

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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