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Cleuber Pereira

MISÉRIA NÃO PODE SER CULTURA DE UM POVO


Cleuber Rodrigues Pereira 

Durante anos a comunidade, os estudantes, e os intelectuais vêm buscando meios e melhores alternativas para dar, de modo equilibrado, notícia da indignação do povo do Norte de Minas, que por ironia do destino e muito mais pela falta de sensibilidade dos que operam a política da região, amarga, ano após ano, toda sorte de dificuldade de um povo sertanejo, não diferente da população do Nordeste brasileiro.

Não é objetivo deste artigo dar nomes ou indicar os responsáveis pela tragédia humana que é viver numa região assolada pela estiagem prolongada sem qualquer programa e/ou projeto de desenvolvimento que possa gerar emprego e renda. Os responsáveis somos todos nós. Uns porque têm o poder mas elegem as prioridades que pessoalmente lhes interessam; outros porque de alguma forma se beneficiam dessa atitude de quem tem o poder; outros por omissão pura e simples, e os outros, a maioria absoluta, que por um problema cultural desconhecem a sua condição de cidadão.

Na verdade, o que se pretende é chamar a atenção de toda a comunidade mineira, para que, num esforço conjunto, possamos todos trabalhar para diminuir as desigualdades inter-regionais (MG). O ressurgimento das comunidades que antes povoaram o Vale do São Francisco é, a bem da verdade, uma dádiva da Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco (Codevasf). Graças aos benefícios do programa desenvolvido pela Companhia (Projeto Jaíba), foi possível resgatar um pouco da dignidade daquele povo, diminuindo a pobreza e a fome que ainda é a grande vergonha do Estado de Minas. Naquela região ainda há muito por fazer, mesmo por que a maioria das propriedades foi abandonada, ressentida com a ausência do Poder Público, que se afastou do projeto sem dar satisfação a quem quer que seja. Como é uma região de cultura ordeira e religiosa, resta ainda esperança e fé nas pessoas, e elas ainda acreditam na última promessa: o Projeto Jaíba vai ser retomado.

Como toda a discussão sobre o norte mineiro, ninguém jamais conseguiu responder concretamente o que leva um Estado tão rico manter – ou quem sabe até patrocinar – discriminadamente um povo e sua região em explícito abandono, vivendo ainda com as mesmas dificuldades de um tempo por demais distante que marcaram a vida e a cultura locais.

Na verdade, ninguém (do Poder Público) ousou responder por que certamente não se sentiu à vontade para fazê-lo, pois as dificuldades de hoje, pelo menos no que diz respeito a Montalvânia e região, praticamente não diferem das mesmas denunciadas e enfrentadas por Antonio Montalvão, Antonio de Anjinha e João Rodrigues, entre outros, nas décadas de 1950 e 1960, período “pré-revolucionário” do lugar. Ainda hoje o sertanejo de Montalvânia não sabe o que é uma estrada asfaltada, o que é lamentável.

O governo, seja no âmbito Federal, Estadual ou Municipal, deve ter disposição para implementar medidas que promovam o desenvolvimento, criando meios e incentivando a iniciativa privada. No caso dos prefeitos, há de existir, sem ficção, além da própria comunidade, fiscais e/ou instituições capazes de cobrar resultados das ações que lhes competem adotar e gerir, tanto nas áreas de saúde e educação, quanto na execução de obras de caráter fundamental, como a manutenção e recuperação de estradas. A comunidade não deseja piedade e tampouco esmola das instituições e do Governo. Reivindica sim o respeito e as condições básicas necessárias e constitucionalmente garantidas, para que possa produzir, desenvolver e crescer – investimentos em tecnologias, garantia de preços e mercado para a produção local -, além dos serviços essenciais já citados que são obrigação do Estado. Citar que esta região está inserida na área do polígono da seca, sem dúvida, é suficiente para fundamentar qualquer discussão neste sentido.

Ante a toda essa discussão e baseado na importância e sucesso do Projeto Jaíba, há de se indagar o motivo pelo qual o projeto da Codevasf não se estende ao Vale do Cochá, que está na mesma região? Qual é o impedimento? Ou porque não se cria a Companhia de Desenvolvimento do Vale do Cochá? Parece desnecessário dizer que esta é uma região tão pobre quanto esquecida e relegada ao plano que a situação (interesse) impuser.

Minas Gerais tem sido exemplo em vários aspectos. Os governantes mineiros, contudo, com algumas exceções, nunca demonstraram boa vontade e sensibilidade com a causa do Norte de Minas. O mundo globalizado não permite mais banalizar a miséria, tornando-a algo normal como se fosse traço da cultura de um povo. Miséria é miséria em qualquer lugar, e não pode ser considerada uma característica cultural, seja onde for. O Governo Federal (do PT), que simbolizava a esperança, parece virado as costas para a discussão e enfrentamento das grandes questões nacionais, como a pobreza, por exemplo. O que se pode esperar? O jovem governador Aécio Neves - é bom que se diga que Minas Gerais e o Brasil esperam muito dele – é sem dúvida é um homem de boa cultura e sensível, sem falar das marcas históricas que carrega, mas precisa demonstrar essas qualidades. E os nossos representantes regionais? Os deputados Humberto Souto, Saraiva Felipe, Jairo Ataíde, Gil Pereira, Arlen Santiago, Carlos Pimenta, Elbe Brandão (no Poder Executivo), entre outros? É preciso concluir a obra da BR 135; reerguer o Projeto Jaíba. As comunidades de Montalvânia, Manga, Itacarambi, Januária, Mirabela, Janaúba, Jaíba e de nossa Montes Claros sentem muito à distância de seus nossos representantes.

MISÉRIA NÃO PODE SER CULTURA DE UM POVO - Gente de Opinião
João Rodrigues observa Antonio de Anjinha e Edgard Pereira, que cumprimentam eleitores em Caio Martins (Montalvânia)

Fonte: Cleuber Rodrigues Pereira – 14.069/MTb-SP
Contato: [email protected]

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