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Dom Esmeraldo Farias

Cristãos Leigos (as) – Sal da terra e luz do Mundo



Dando continuidade ao que escrevi na semana passada a respeito de alguns pontos do Texto de Estudos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (107): Cristãos leigos e leigas na Igreja e na Sociedade - Sal da Terra e Luz do Mundo – apresento a importância do olhar da fé. 

A expressão bíblica “Sal da Terra e Luz do Mundo”, que encontramos em Mateus 5,13.14), traz duas imagens que nos ajudam a compreender melhor a profundidade da missão dos cristãos leigos(as). Atuando nos âmbitos da família, da comunidade eclesial, do trabalho profissional, da política partidária, da educação e da cultura, da saúde, do lazer, das comunicações e tantosGente de Opinião outros na vida da sociedade, os cristãos leigos(as) são chamados a ser sal que atua de modo bem discreto, mas deixa sua marca de preservação e de gosto bom em meio a realidades que incentivam o relativismo, o individualismo, o consumismo... O cristão leigo(a) também recebe do próprio Jesus Cristo a missão de ser luz do mundo.

Em qualquer ambiente, onde haja um cristão leigo(a) consciente de sua missão, uma luz de Deus vai aparecer e vai iluminar porque será a luz do Evangelho; mesmo que isto lhe traga sofrimentos. Enraizado no Evangelho, o cristão leigo (a) procura iluminar os projetos que marginalizam ou instrumentalizam os pobres transformando-os em objeto e não sujeitos de ação, questionando-os e apontando sugestões. Essa luz deve chegar também aos que moram nas periferias e nas linhas a fim de que possam ter sua dignidade de pessoa humana respeitada. Iluminar a vida da comunidade eclesial para que seja mais missionária, dando atenção às pessoas que ainda não participam da vida da comunidade; indo ao encontro dos doentes, dos idosos e daqueles que ainda não descobriram o sentido de pertencer à comunidade eclesial e dela não participam; abrindo mais possibilidades de participação para os adolescentes e jovens. Diante de nossa forte realidade de migração, quando recebemos tantas pessoas de outros lugares, ajudar para que a Pastoral da Acolhida seja uma constante na vida da comunidade.

O Papa Francisco, na exortação apostólica “Alegria do Evangelho” (EG), afirma: “Cada um dos Batizados, independentemente da própria função na Igreja e do grau de instrução da sua fé, é um sujeito ativo de evangelização, e seria inapropriado pensar num esquema de evangelização realizado por agentes qualificados enquanto o resto do povo fiel seria apenas receptor das suas ações” (EG 120).

Mas, como viver essa missão? O texto de Estudos da CNBB orienta: “O presente documento pretende animar leigos e leigas a se compreenderem e atuarem como sujeitos eclesiais nas diversas realidades em que se encontram inseridos. Dá especial ênfase a uma necessária superação do clericalismo, do individualismo (fechamento em si mesmo) e do comunitarismo (fechamento em grupos). A noção e a perspectiva do sujeito eclesial perpassam as três partes do documento, que segue o método ver-julgar-agir. Sujeito eclesial não é uma realidade pronta, mas um dom que se faz tarefa permanente para toda a Igreja, em sua missão evangelizadora” (Estudos 107, nº 13).

O cristão leigo (a) vive nas realidades do mundo e não está somente no mundo, mas também dele faz parte; pois por sua vocação e missão é chamado por Deus para transformar as realidades sociais, culturais, econômicas e políticas a partir do olhar da fé e da razão. A fé em Jesus Cristo ilumina os cristãos no modo de olhar os vários fatos, suas causas e consequências; os processos; as estruturas e o seu funcionamento para discernir a serviço de quem e de que são colocados. Mas, o olhar da fé não para na constatação; ele se lança para aquilo que a sociedade deve ser conforme o desígnio de Deus. As sementes de Deus já estão aí lançadas pela graça do Espírito Santo. Então, precisamos descobrir os sinais da ação de Deus e perguntar: o que Deus quer de mim como cristão leigo (a) no trabalho profissional, na família, na comunidade eclesial, do grupo, da pastoral, do movimento eclesial, da associação, do sindicato ou do movimento social do qual faço parte? O que Deus está pedindo à comunidade eclesial com as pastorais, movimentos e serviços e aos movimentos sociais?

O olhar da fé é fundamental para que possamos também descobrir as forças que maquinam contra a vida, contra a dignidade da pessoa, contra o bem comum, organizando a sociedade em vista da acumulação da riqueza em mãos de poucos, da concentração do poder que beneficia essa elite e da disseminação de uma cultura que não só favorece mas induz à lógica individualista. Esta lógica se apresenta e se firma através do cultivo do subjetivismo, do consumismo, da satisfação dos desejos que essa própria cultura consumista cria; do relativismo; da banalização da vida, da violência, da indiferença em relação aos sofrimentos das pessoas; do tratamento aos pobres como como descartáveis. Isso nos leva perguntar: quais são os sinais de morte na sociedade da qual fazemos parte?

O cristão leigo (a) não pode estar de olhos fechados, nem tão pouco anestesiado diante dessas realidades que trazem muita ilusão e escondem os fortes gritos dos pobres e de tantos quantos são jogados para as periferias geográficas, existenciais e sociais. “O cristão é chamado a viver como sujeito no mundo de forma consciente, autônoma e ativa. A tomada de consciência da realidade em que se encontra inserido é tarefa que vem da própria fé que busca os caminhos de identificação com o Cristo encarnado na história (cf. EG 24). Portanto, precisamente por seu sujeito eclesial, todo cristão é sujeito histórico: é membro do Corpo de Cristo e participa de seu múnus de reger o mundo (cf. LG 36d; AA 2b). Pertencer à Igreja é pertencer a uma comunidade em missão, que tem sua razão de ser na busca do Reino de Deus nas condições concretas em que vivemos em cada tempo e lugar” (Estudos CNBB 107, nº 16).

O cristão leigo (a) em seu testemunho pessoal e como membro participante da comunidade eclesial encontra na Palavra de Deus a luz e a força para animar e sustentar a missão que de Deus recebeu: a luz para discernir o que é e o que não é de Deus na vida e na cultura da sociedade de hoje. A força para enfrentar “esse rolo compressor” que impõe a lógica individualista, consumista e da indiferença propondo e dando testemunho do valor da comunidade, da partilha, da solidariedade, da esperança, da paz.

Iluminado e fortalecido pela Palavra de Deus, o cristão leigo (a) pede a graça para estar sempre atento aos sinais da ação de Deus nas várias realidades que enfrenta: a atenção e acolhida às pessoas; o respeito à dignidade da pessoa; o valor da pluralidade; a sede de Deus; a busca da espiritualidade; a importância que é dada à solidariedade; o valor da visita gratuita; a defesa dos direitos das pessoas; a sensibilidade diante do meio ambiente e da ecologia humana... Estes e outros sinais são decisivos para que a ação do cristão leigo (a) se concretize de modo pessoal e coletivo apontando sempre para o mundo que Deus deseja, como sinal do seu Reino que vai muito mais além do que aquilo que se pode ver, sentir, experimentar.

Olhando o meio em que você reside, trabalha e celebra, quais os fatos que mais chamam sua atenção? Por que?

Qual o chamado de Deus para sua vida e missão como cristão leigo (a), como pessoa de fé?
 

Deus abençoe sua vida. Um grande abraço. D. Esmeraldo.
 

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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