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Gente de Opinião

Hiram Reis e Silva

Plágio Centenário - Rio Aquidauana


Luiza Duarte Cavallieri - Gente de Opinião
Luiza Duarte Cavallieri

Bagé, 10.04.2020

 

Rio Aquidauana...

(Agenor Martinho Correa)

 

Sentado à margem do teu leito amigo,

Na paz que na cidade não consigo

Ante a balbúrdia de todos os instantes,

Vejo passarem tuas águas murmurantes

Entoando doce canção levada ao vento,

Vejo tu desceres preguiçoso, lento,

Beijando as barrancas timidamente...

E a tua paz misteriosa, envolvente,

Faz-me esquecer dos conflitos meus. [...]

 

O período de 1987 a 1889 que passei em Aquidauana, MS, servindo no 9° Batalhão de Engenharia de Combate (9º BE Cmb) – Batalhão Carlos Camisão, foi extremamente gratificante, e resolvi, por isso, programar, para 2015, a Descida dos Rios Aquidauana e Miranda, no Mato Grosso do Sul, em setembro ou outubro período menos sujeito às chuvas e mais propício para reportar as belas paisagens pantaneiras.

 

A ideia era ir acampando nas margens dos Rios, mas um canoísta, que conhecera, em Aquidauana, na década de oitenta, sugeriu o mês de julho com apoio de uma chalana que seria patrocinada, segundo ele, por empresários locais. O propalado patrocínio não se concretizou forçando-me a solicitar, mais uma vez, o apoio de meus fiéis amigos investidores do Projeto Desafiando o Rio-mar.

 

Fiquei hospedado, antes de iniciar a Pantaneira Jornada, nas instalações do 9° Batalhão de Engenharia de Combate, comandado pelo Coronel de Engenharia José Diderot Fonseca Junior e, depois de concluí-la, na residência de minha querida amiga Noise Resstel Correa Santos e de seus filhos Mauro e Marco Túlio.

José Francisco Lopes, o Guia Lopes - Gente de Opinião
José Francisco Lopes, o Guia Lopes

Nesta magnífica “Jornada Pantaneira” tive a honra e o privilégio de ter como parceira a amiga Luiza Duarte Cavallieri, uma criaturinha magnífica, singular mesmo, e excepcional atleta. Esta descida, como todos as outras, tinha um forte vínculo histórico, desta feita, seria uma justa homenagem a José Francisco Lopes, o Guia Lopes, herói do Exército Brasileiro na Guerra do Paraguai que guiou as tropas brasileiras durante a Retirada da Laguna.

 

Compulsado à uma quarentena indesejada, estava revisando meu 24° livro – “Jornada Pantaneira” quando esbarrei, ao traçar o perfil do asqueroso Francisco Solano López, com uma “Ode” ao abominável “Mariscal”. A poesia dedicada Exm° Mariscal Presidente tinha sido publicada originalmente no Jornal “El Cabichuí” n° 47, no dia 16.10.1867, e, mais tarde divulgada em todos os periódicos paraguaios.

 

El Cabichuí

 

O jornal “El Cabichuí”, fundado por Juan Crisóstomo Centurión Y Marttínez, o Padre Fidel Maíz e Natalício de Maria Talavera, seus redatores chefes, foi impresso, durante a Guerra da Tríplice Aliança, no Quartel General Paraguaio de “Paso Pacú” pela “Imprensa Del Ejercito”. O periódico, de duas edições por semana, impresso de 13.05.1867 a 20.08.1868, depois da 95° publicação foi extinto por falta de matéria prima e pessoal especializado. Ricamente ilustrado, repercutia caricaturas satíricas dos principais líderes políticos e militares envolvidos na conflagração. A redação tinha a intenção premeditada, devidamente manipulada pelo “Mariscal”, de usando uma crítica mordaz denegrir a imagem dos seus adversários taxando-os de pusilânimes e bárbaros e de exaltar o heroísmo e determinação dos militares e povo paraguaio, ao mesmo tempo que transferia, sem pejo, as ações criminosas do seu exército como se estas tivessem sido promovidas pelos adversários.

Silveria Espinosa de Rendón - Gente de Opinião
Silveria Espinosa de Rendón

Silveria Espinosa de Rendón

 

Façamos, antes de tudo, uma pequena apresentação da poetisa plagiada.

 

A poetisa Silveria Engracia Antonia de los Dolores, nasceu, no dia 20.01.1815, na Hacienda Zamora, em Sopó, na antiga Nova Granada, hoje município da Colômbia no Departamento de Cundinamarca, cuja sede municipal está localizada 39 km ao norte de Bogotá. Silveria Espinosa faleceu em Bogotá no dia 16.08.1886.

 

Sua família administrava “La Imprenta Granadina”, que, desde 1776, tinha sido designada oficialmente, pelo Vice-rei Manuel Antonio Flórez, como “Impressora Real”.

 

Silveria Espinosa foi educada em uma atmosfera bastante intelectual de Santa Fé, despertando nela, desde cedo, um interesse muito especial pela literatura em geral e, em especial, pela poesia. Nos saraus de que participava com os familiares e conhecidos recitava com entusiasmo invulgar seus poemas e poesias que logo em seguida, incentivada pelos familiares, passou a publicá-los.

 

Sua poesia rompeu o círculo dos familiares e amigos quando publicou nos periódicos colombianos como “La Guirnalda”, “El Papel Periódico Ilustrado”, “La Caridad” e “La Lira Granadina”.

 

Foi a primeira poetisa colombiana que teve suas obras publicadas na Europa e defendeu veementemente o direito das outras mulheres se tornarem escritoras.

 

Plágio Sesquicentenário

 

Vejamos, a poesia original e depois o plágio do “El Cabichuí n° 47” de 16.10.1867:

 

 

Flores Del Jénio, 1864

Cochabamba, Bolivia – Abril de 1864

 

Para el Álbum de la Señorita M. Q.

(Silveria Espinosa de Rendón)

 

 

La hermosa flor que nace en la pradera

Y que embalsama el aura con su aliento,

¡Oh! siempre, Margarita, un pensamiento

De santa gratitud despierta en mí:

El mismo que me inspira tu sonrisa,

Tu gracia virginal, tu donosura ([1]);

Que si Dios, a las flores da hermosura,

Inocencia i candor te, ha dado a ti.

 

Si alguna vez, al despertar, escucho

Del canto de las aves la armonía,

Uno a sus ecos la plegaria mía

I es más férvida, entonces mi oración:

I si vibran, por dicha, en mis oídos

De tu voz los armónicos acentos,

Suben a Dios, también, mis pensamientos

De santa gratitud y admiración.

 

Más, algo admiro en ti, que es más hermoso

Que tus gracias y noble gentileza,

Que con mayor placer y más viveza

Arrebata mi mente hasta el Señor:

Algo que vale más que tu sonrisa,

Que tu precioso talle y que tu acento;

Algo que vale más que tu talento...

¿Sabes qué es, Margarita? ¡Tu pudor!

 

¡Oh! guarda, pues, mi candorosa amiga,

Ese santo y riquísimo tesoro,

Que es de una virgen la corona de oro

Y el blasón de su bella juventud:

Guárdalo,, con todos los encantos

Que bondadoso te concede el cielo;

Y si brillas espléndida en el suelo,

No olvides que tu gloria es la virtud.

(FLORES DEL JÉNIO, 1864)



[1]      Donosura: honra.

El Cabichuí n° 47 - Gente de Opinião
El Cabichuí n° 47

El Cabichuí n° 47

Paso Pacú, Paraguay – Miércoles [1], 16.10.1867

 

Poesía a Exm° Sr. Mariscal Presidente

 

 

La hermosa flor que nace en la pradera

Y que embalsama el aura con su aliento.

¡Oh! Siempre, Gran Guerrero, un pensamiento

De santa gratitud despierta en mí;

El mismo que me inspiran tus bondades.

Tu coraje sin par y tu bravura;

Que si Dios a las flores dio hermosura

La clemencia y bondad te ha dado a ti.

 

Si alguna vez, al despertar, escucho

Del canto de las aves la armonía,

Uno a sus ecos la plegaria mía,

Y es más férvida entonces mí oración:

Y si vibran por dicha en mis oídos

De tu voz paternal dulces acentos,

Suben a Dios, también, mis pensamientos

De santa gratitud y admiración.

 

Más, algo admiro en ti, que es más hermoso

Que tu bondad y noble gentileza,

Que con mayor placer y más viveza

Arrebata mi mente hasta el Criador:

Algo que vale más que regias pompas,

Que ese de esclavos terrorozo acento;

Algo que vale más que joyasciente:

Esta prenda, Señor, es tu valor.

 

Hoy más que nunca reconoce el Pueblo

Ese santo y riquísimo tesoro,

Que es de esta Patria la corona de oro

Y de esclavos abyectos el terror.

Los ha mostrado Señor, en las victorias

Que bondadoso te concede el Cielo;

Y si brillas cual astro en el suelo,

¿Quién duda que tu gloria es el valor
(EL CABICHUÍ N° 47)

 

Bibliografia:

 

EL CABICHUÍ N° 47. Poesía a Exm° Sr. Mariscal Presidente – Paraguay – Paso Pacú – El Cabichuí n° 47, 16.10.1867

 

EL CENTINELA N° 28. Hermosa Poesia – Asunción, Paraguay – El Centinela n° 28, 31.10.1867.

 

FLORES DEL JÉNIO, 1864. Para el Álbum de la Señorita M. Q. – Bolívia – Cochabamba – Imprenta Del Siglo – Flores del Jénio – Tomo 1, Entrega 3ª, abril de 1864.

 

Solicito Publicação

 

(*) Hiram Reis e Silva é Canoeiro, Coronel de Engenharia, Analista de Sistemas, Professor, Palestrante, Historiador, Escritor e Colunista;

 

·    Campeão do II Circuito de Canoagem do Mato Grosso do Sul (1989)

·    Ex-Professor do Colégio Militar de Porto Alegre (CMPA);

·    Ex-Pesquisador do Departamento de Educação e Cultura do Exército (DECEx);

·    Ex-Presidente do Instituto dos Docentes do Magistério Militar – RS (IDMM – RS);

·    Ex-Membro do 4° Grupamento de Engenharia do Comando Militar do Sul (CMS)

·    Presidente da Sociedade de Amigos da Amazônia Brasileira (SAMBRAS);

·    Membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil – RS (AHIMTB – RS);

·    Membro do Instituto de História e Tradições do Rio Grande do Sul (IHTRGS – RS);

·    Membro da Academia de Letras do Estado de Rondônia (ACLER – RO)

·    Membro da Academia Vilhenense de Letras (AVL – RO);

·    Comendador da Academia Maçônica de Letras do Rio Grande do Sul (AMLERS)

·    Colaborador Emérito da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG).

·    Colaborador Emérito da Liga de Defesa Nacional (LDN).

·    E-mail: [email protected].



[1]      Miércoles: Quarta-feira.

Plágio Centenário - Rio Aquidauana - Gente de Opinião
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