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Matias Mendes

A CORRUPÇÃO CRISTALIZADA: O Governo Bianco


Por MATIAS MENDES

É curial compreender que esta série que disseca o processo da corrupção institucionalizada no Estado de Rondônia não visa a favorecer ou desfavorecer esse ou aquele ex-governante, não se trata de nenhum ato especificamente hostil em relação a ninguém, são apenas fatos históricos de há muito conhecidos, mas nunca analisados de forma sistemática no seu conjunto. Não faltam néscios que se arvoram de comentaristas pretendendo pôr em dúvida a minha qualificação sem perceberem que tal atitude apenas põe a nu a cavalar burrice deles mesmos, provando somente que continuam sendo os mesmos sabioranas que interviram em outros assuntos para os quais também não estavam preparados para discutir de forma séria e aprofundada. São exatamente aqueles tipos que no conceito do Professor Doutor Dante Ribeiro da Fonseca “têm uma cultura tão profunda que jamais conseguem fazê-la vir à tona”. E como a ignorância é a mãe de todas as injustiças, a mim pouco se me dá a ideia que gente de tal laia emburrecida faz de mim. São apenas monoglotas ressentidas, ex-oprimidos acovardados que blateram tanto contra as truculências de passados regimes, mas que na época desses regimes nunca tiveram coragem para oferecer qualquer resistência contra os eventuais abusos que porventura sofreram e não me perdoam por eu haver tido essa coragem de me contrapor aos abusos, de haver trocado tiros com os meus potenciais abusadores, de haver sido competente para escapar ileso desses episódios. Ego sum qui sum, não importando o idioma que eu tenha que usar para dizê-lo...

Toutefois, en revenant à nos moutons, como de fato se diz em francês, vamos agora tratar do Governo controvertido do ex-Governador José de Abreu Bianco, que ganhou a eleição em 1998 contrariando quase todos os prognósticos das tais empresas de pesquisas de opinião pública, configurando a alternância de poder entre as duas correntes políticas que predominam ainda em Rondônia, os cutubas e os peles-curtas. A eleição de José Bianco foi bastante favorecida por uma considerável campanha conduzida à margem do processo eleitoral por segmentos da Imprensa insatisfeitos com o desempenho do Governo Raupp, principalmente em relação ao sangrento episódio da Chacina de Corumbiara e outros escândalos ocorridos ao longo do seu período de Governo.

José de Abreu Bianco montou o seu Governo com o pessoal da sua confiança, em meio ao qual se destacava a corrupta figura de José Batista, escroque ligado ao grupo político de Bianco desde os tempos da Assembleia Legislativa. José Batista era um tipo tão incompetente que, embora inserido no quadro efetivo da Assembleia Legislativa como Técnico em Assuntos Legislativos, quando José Bianco ficou sem mandato na tentativa de se eleger Governador em 1986, o seu protegido só pôde ser aproveitado como operador de fotocopiadora na Assembleia Legislativa, pois nenhum serviço de natureza técnica ele tinha capacidade de fazer. No entanto, no Governo Bianco, ele tornou-se a eminência parda do Governador, o todo-poderoso Secretário de Administração que se dedicou a infernizar a vida dos servidores, inventando os mais humilhantes processos de massacre contra os funcionários, inclusive as intermináveis filas para bater ponto num abafado cubículo da SEAD. Foi nessa época de fausto e poder que o antes obscuro operador de fotocopiadora tornou-se famigerado galanteador que distribuía caríssimos bouquets de flores à mulherada, apresentando-se já como bacharel em Comunicações Sociais, formado supostamente por uma misteriosa faculdade do Estado de Goiás. Estranhamente ele não apresentou tal diploma à Polícia Federal, quando foi preso na Operação Termópilas, para desfrutar o direito de prisão especial, indo mesmo parar no caldeirão do presídio comum, onde foi duramente açoitado e sodomizado pela população carcerária, padecimentos dos quais ele nunca se queixou depois que foi solto.

Bem de conformidade com o princípio latino que ensina que “Abyssus abyssum invocat”, com inegável favorecimento da inexorável Lei de Murphy, a boçalidade e a tirania da eminência parda do Governador José Banco redundou na criminosa demissão dos dez mil servidores do Estado, a maioria com mais de vinte anos de serviço público, resultando no dantesco quadro de muitos desses servidores, já em idade avançada, morrerem de causas diversas decorrentes da depressão causada pela inominável injustiça e covardia do Governo Bianco. E foi nessa mesma época, em 1999, que eu tratei de abater e banir da vida pública o Ícaro de Jaru, que pretendia também demitir servidores na Assembleia Legislativa e julgava-se já o sucessor natural do Governador José Bianco. Eu permaneci no serviço público, mas o Ícaro de Jaru está sem mandato até hoje, depois de mais de treze anos de me haver afrontado com suas bravatas demagógicas. Eu não precisei nem da Lei da Ficha Limpa, que ainda não existia, para remover o mandrião do cenário político da minha terra, bastaram apenas vinte e poucos artigos para enviá-lo ao inferno do ostracismo. Sorte dele até, pois por muito pouco ele não foi mandado ao outro inferno.

Em meio a tantos acontecimentos traumáticos, sem que José Bianco tomasse qualquer providência em relação aos atos de tirania promovidos pelo seu Secretário de Administração e eminência parda do seu Governo, o Estado de Rondônia mergulhou em profunda depressão econômica, milhares de pessoas arribaram do Estado e, pela primeira vez desde o início da década de 70 do século passado, Rondônia apresentou queda em seus índices demográficos, teve uma sensível redução populacional. E como se já não bastassem tantas desgraças, a eclosão de uma revolta no presídio Urso Branco resultou em quase cinquenta mortes, acarretando ao Brasil sérios problemas na OEA e duras penalizações decorrentes dos desrespeitos aos direitos humanos.

José Batista e outros fizeram fortuna no Governo de José Bianco, tornaram-se grandes fazendeiros, especialistas na criação das mais famosas raças bovinas do mundo e se estabeleceram também no mercado financeiro, operando rendosos esquemas de empréstimos aos servidores públicos, associados já à quadrilha de Válter Araújo Tocaia Grande, que veio a ser desbaratada já no Governo Confúcio pela ação saneadora dos Ministérios Públicos Federal e Estadual e os duros e certeiros golpes assestados pela Polícia Federal nas hostes do crime organizado no Estado de Rondônia.

E, mais uma vez, de conformidade com o velho conceito latino de que “Abyssus abyssum invocat”, nas eleições de 2002, o Governo de Bianco irremediavelmente marcado pelo terrorismo contra os indefesos servidores públicos, foi apeado pelo mais criminoso dos grupos políticos do Estado, a famigerada quadrilha de Ivo Narciso Cassol, que estendeu seus tentáculos de arapongagem por todos os setores do serviço público, até que caíram nas mãos da Polícia Federal e da contraespionagem de verdadeiros serviços de inteligência.

Sic transit gloria mundi...

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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