Segunda-feira, 20 de novembro de 2006 - 13h32
Uma das maiores falcatruas que o governo de Lula da Silva cometeu não passa pelo Mensalão, nem pelos sanguessugas, nem pelos vampiros, publicidades ou fundos de pensões. Nem mesmo da morte da esperança por conta do aumento dos juros e dos lucros exorbitantes de banqueiros. Passa pela falta de uma política social. Nenhum crime de Lula da Silva foi maior, até porque em cima da classe que sempre o apoiou, do que o da Reforma da Previdência feita a ferro e fogo sob o argumento hediondo de um déficit inexistente. Não fosse a Previdência a fonte de recursos de grande parte dos brasileiros em especial dos que já contribuíram e não tem mais como contribuir por falta de capacidade e de força física.
A Previdência foi feita em cima de cálculos atuariais e quem, como a grande maioria dos aposentados públicos e privados, a vida inteira contribuiu não deveria ser, na velhice, penalizado sob o argumento injusto e safado de que a Previdência dá prejuízo. E foi feita para dar lucros? Ou para manter as pessoas na velhice? Então para manter as contas vamos matar os velhos? Negar-lhes o direito de vida, de existência que até os animais têm? É preciso falar da Previdência como o único suporte da vida de pessoas que fizeram, muitas vezes, anonimamente muito mais pelo país que muitos que tem seus nomes em placas, porém deveriam estar na cadeia, inclusive pela falta de humanidade que demonstram com os mais velhos.
A verdade é que a Previdência Social não precisaria ser sustentável, mas é. É se, com o mínimo de rigor, se levantar como dilapidaram os recursos arrecadados com más administrações, roubos, fraudes e péssimas aplicações que precisam ser combatidas e, se possível, recuperadas. É se considerar as receitas realizadas em seu nome e que não chegam aos seus cofres. É se nos seus cofres forem repostas as despesas que não deveriam ter sido custeadas com seus recursos. Este o maior crime de Lula da Silva. Dele era de se esperar, quando de sua primeira eleição, que assumiria o poder para fazer justiça social e não assistencialismo eleitoral. Havia confiança num processo de reformas centrado num novo caminho a ser trilhado em prol da maioria. Não foi o que aconteceu. A reforma da Previdência, feita sob a ótica rasteira do livro-caixa, foi o golpe de misericórdia das esperanças. Condenou toda e qualquer política social a ficar refém do pagamento de juros. Só na corrida eleitoral as medidas bondosas de aumentar o mínimo e dar um pouco de gás ao funcionalismo enganou um pouco o caráter financeiro do governo, mas passou a eleição. Já se fala de novo em mais arrocho para os aposentados e menos impostos para especuladores e grandes conglomerados. Já se fala de novo que a questão não é administrar para criar bem estar e sim fazer superávit para pagar os juros. E em nova reforma da Previdência.
Fonte: Sílvio Persivo - [email protected]
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