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Gente de Opinião

Silvio Santos

Nonato Cavalcante Segregação - Vence XII SART


 
O artista em artes visuais Nonato Cavalcante (Raimundo Nonato Cavalcante), foi um dos vencedores do XII Salão de Artes de Rondônia – SART, com a obra “Segregação”. De acordo com descrição do próprio artista, apresentada à comissão do SART, o Objeto “Segregação”, composto por duas cadeirinhas postadas em duas astes de madeira, em posições opostas, ou seja, uma para o lado de cima e outra para baixo, representa a Segregação Social, existente principalmente no seguimento da educação, onde os menos favorecidos financeiramente, não têm acesso a uma educação adequada. “Não questiono a qualidade dos educadores, mas, a condição de trabalho oferecida a eles na escola pública”. Nonato Cavalcante Segregação - Vence XII SART - Gente de Opinião

Se levarmos o significado da palavra “Segregação” ao pé letra, no caso do Nonato Cavalcante, vamos nos deparar com um período recente de sua vida, que em virtude do vício do álcool, morou por algum tempo em um sítio onde segundo suas próprias palavras, se sentia isolado do mundo. “Não estava abandonado, mas, estava me sentindo muito solitário e então caí na bebida”. Foi justamente no sítio, onde Nonato concebeu a obra “Segregação” vencedora do XII SART no seguimento “Objeto”. Em virtude de problemas com a bebida depois de relutar muito, o artista foi internado por seus familiares na clinica Apatoxi, uma entidade que trabalha com a recuperação de pessoas dependentes químicos.  Na realidade, o que o fez aceitar a internação, foi uma intimação de sua filha que estava grávida. “Papai, o senhor não quer ver pelo menos o seu neto antes de morrer?”. Hoje afastado do vício, Nonato se diz uma pessoa feliz e agradece a todos que o ajudaram em sua recuperação. Em especial aos seus familiares e ao Marcelo Luna e dona Francisca da Apatoxi.

Com vocês o artista plástico Nonato Cavalcante vencedor do XII SART com a obra “Segregação”.

 

E N T R E V I S T A

 

Zk – Fala pra gente sobre esse trabalho que foi premiado no XII Sart?

Nonato Cavalcante – Pra falar a verdade, eu apresentei três trabalhos, dois na categoria pintura em tela e um na categoria “Objeto”. Dos três apenas o trabalho na categoria Objeto intitulado “Segregação”, foi classifico e premiado.

 Nonato Cavalcante Segregação - Vence XII SART - Gente de Opinião

Zk – Essa obra se constitui em que?

Nonato Cavalcante – Se constitui em duas cadeirinhas assimétricas, que representam a discriminação que exclui os menos favorecidos, em todas as áreas sociais, principalmente na educação onde existe a escola particular e a escola pública. A escola pública é um caos, não por falta de qualidade dos educadores, mas, existe a diferença. Na escola pública existe a greve dos professores, existe a mudança do calendário. O professor vai pro colégio mal humorado, desmotivado com a falta de incentivo salarial, pega ônibus essas coisas todas que deixam qualquer ser humano estressado. Na escola particular não existe isso. Os professores recebem em dia, têm bons salários. Essa diferença é o que quero questionar com minha obra.

 

Zk – Mas, por que duas cadeirinhas?

Nonato Cavalcante - Elas representam exatamente uma sala de aula, onde tem o de melhor poder aquisitivo que é a cadeira que está em cima e a outra cadeirinha que representa o de menor poder aquisitivo que fica pro lado de baixo. É uma em cima e outra embaixo. Na visão dos julgadores, minha obra fez jus ao prêmio e isso me deixou muito feliz!

 

Zk – Por um bom tempo você andou sumido do meio artístico. Por onde você andava?

Nonato Cavalcante - Pra falar a verdade, passei um tempo desiludido com as artes plásticas. Para você sobreviver de artes plásticas, principalmente aqui em Porto Velho. Devo dizer que sou filho daqui. Nós não tínhamos incentivos, o material de pintura é caro, as pessoas não valorizam, preferem comprar essas gravuras que são feitas em série na gráfica. Bom! Fui morar num sítio, sítio onde inclusive produzi a obra vencedora do Sart e tive um tempo internado numa clínica de recuperação de alcoólicos, foi quase um ano internado. Graças a Deus até a presente data, não tive nenhuma recaída e agora estou voltando ao mundo das artes mais consciente, mais lúcido.

 

Zk – Como assim?

Nonato Cavalcante - Antigamente eu não ligava muito, fazia um trabalho e vendia por qualquer preço, só para arranjar dinheiro para beber cachaça com os “amigos”. Agora, to mais consciente em virtude da minha sobriedade. Graças a esse tratamento, ganhei esse premio.

 

Zk – Vamos valorizar mais esse tempo que você passou em tratamento. Vamos divulgar a entidade que lhe recebeu?

Nonato Cavalcante - Como disse, estava morando num sítio e lá estava muito solitário. Não estava abandonado, mas, estava me sentindo muito solitário e então caí na bebida. Para esquecer as mágoas da vida cai na bebida, já bebia, mas, passei a beber muito mais. Então minha família se reuniu e me propuseram o tratamento na clínica. No inicio, relutei muito, depois, num momento de sobriedade refleti e achei melhor aceitar a proposta. Porém o que mais contribuiu para a decisão de aceitar me internar foi um fato muito importante para mim e para uma das minhas filhas!

 

Zk – Qual foi esse fato?

Nonato Cavalcante - Minha filha estava para ter meu primeiro neto e vendo que eu estava realmente no fundo do poço, chegou comigo e disse: “Papai, o senhor não quer ver pelo menos o seu neto antes de morrer?”. Isso foi como uma tapa na minha cara, confesso que as lágrimas fluíram sem controle e então decidi aceitar a internação na clínica para dependentes de álcool.

 

Zk – E você foi para qual clínica?

Nonato Cavalcante – Me levaram para a Apatoxi e hoje eu agradeço muito. Lá aprendi a ser disciplinado, tive vários momentos com Deus e eu que achava que aquilo era coisa de vagabundo, na realidade eu abominava esse tipo de tratamento. No início foi difícil, porque você fica enclausurado, aquela história toda. Hoje graças a Deus, agradeço o pessoal que me acolheu lá o Marcelo Luna, dona Francisca que é a presidente das entidades e minha família. Passei nove meses em tratamento.

 

Zk – Você se considera curado? Não sente vontade de beber uma cachacinha?

Nonato Cavalcante – Não! Fui pra lá no inicio de 2007. Uma das coisas que eles te doutrinam é você evitar situações que levem à bebida, Nesses quase três anos, já estive em várias situações, em vários ambientes onde rola bebida e eu não sinto mais vontade de beber. Esse negócio que tomei remédio pra deixar de beber é balela. O que me fez deixar de beber, foi minha própria consciência que me educou a não aceitar bebida de forma alguma. A recaída é pior. Por isso devemos evitar qualquer contato com bebida alcoólica, tem pessoas que evitam até o vinagre pra não sentir o sabor do álcool.

 

Zk – Aí você sai de lá e se depara com as inscrições do Sart?

Nonato Cavalcante – Fiquei um tempo meio perdido, as pessoas queriam saber onde eu andava e tal. Uns já sabiam que estava internado e de repente vou à Casa da Cultura e me deparo com as inscrições para o Sart que estava previsto para acontecer no final de 2008. Eu recém saído da clínica, peguei o Edital e comecei a trabalhar. Essa obra que foi premiada já estava pronta, só dei uns retoques inclusive...

 

Zk – Opa! Inclusive o que?

Nonato Cavalcante – Inclusive minha irmã... Essa obra estava no sítio e lá o fogão é a lenha e ela certo dia procurando madeira para fazer o fogo, viu o que para ela eram apenas dois pedaços de “pau” e já ia colocar no fogão, quando eu gritei de lá, não faça isso que esses paus são a minha vida. Disse assim sem perceber a profundidade da frase. Na realidade quando me inscrevi no Sart a intenção era apenas dizer que estava de volta. Inclusive no dia do vernissage o Zé Monteiro me deixou bastante emocionado ao fazer elogios a minha pessoa, foi muito legal!

 

Zk – Que dizer que de repente. Você chega, ganha um dos prêmios do Salão de Artes e para completar é contratado para ser o carnavalesco da escola de samba Diplomatas e a escola vence. Ta querendo mais o que?

Nonato Cavalcante – Acontece que além de fazer o tratamento, fui convidado a trabalhar na entidade Apatoxi ajudando outras pessoas a se livrar do vício. Certo dia, estava trabalhando quando chegaram o Eufrásio presidente da Diplomatas e o Carlinhos Maracanã me convidando para ser o carnavalesco da escola, que não tinha achado outro artista e tal aquele negócio todo... Há princípio relutei um pouco, porque estava fora do mercado fazia tempo, mas o Eufrásio me convenceu a aceitar. Fui lá e fizemos um bom trabalho eu o Bomba e a equipe da escola e fomos campeão. Por isso me considero vencedor em todas as áreas das artes visuais em 2009.

 

Zk – Para finalizar essa entrevista, gostaria que você falasse mais um pouco do Nonato Cavalcante o artista premiado. Quais os projetos futuros?

Nonato Cavalcante – Pretendo se tiver a oportunidade, fazer um trabalho social. Quero me colocar as entidades que forem classificadas ou contempladas com Ponto de Cultura nas áreas de artes plásticas e artesanato que estou disposto a colaborar ministrando oficinas em fim ensinando a arte que sei na periferia da cidade.

 

Zk – E o Nonato do Triângulo ainda existe?

Nonato Cavalcante - Eu nunca esqueço o Triângulo. Nasci lá apesar de hoje a maioria dos moradores não saber quem eu sou. Quero dizer que gosto do Triângulo, sou do Triângulo, me orgulho em dizer que nasci lá no Morro do Triângulo. Era do Boi Bumba Fortaleza do Cabo Fumaça.

 

Zk – Você brincava de que no Boi?

Nonato Cavalcante – Eu era Miolo. Era Miolo porque tinha vergonha de vestir fantasia, então preferia brincar debaixo do Boi e tinha o sangue do Boi que era o vinho. Depois fui dono de Boi.

 

Zk – Que Boi?

Nonato Cavalcante - Criei um grupo de Boi-Bumbá mirim. Eu mesmo confeccionava o “boizim”. Os brincantes eram, o Rubão e o Luiz meus irmãos. O Rubão era Amo e o Luiz era índio. Tinha o pessoal do Cardoso os filhos do Miguel.

 

Zk – Por falar nisso, estão começando os preparativos para as festas folclóricas. Você pretende trabalhar em algum grupo de Boi ou ser jurado no Flor do Maracujá?

Nonato Cavalcante – Para trabalhar em alegoria já não pretendo mais, porque já estou com certa idade e não tenho mais aquela mobilidade. Agora, se me derem à oportunidade de atuar como jurado de Boi-Bumbá e até de Quadrilha me disponho a colaborar.

 

Zk – Para encerrar. Você disse que sua filha lhe colocou na parede quando estava grávida. Cadê o netinho já nasceu, qual o nome dele?

Nonato Cavalcante – É o Augusto Cavalcante. Inclusive pedi para minha filha colocar o sobrenome Cavalcante, porque as gerações vão nascendo e vai sumindo o nosso nome e eu preservo muito esse Cavalcante. Minha filha atendeu e colocou o nome do meu netinho de Augusto Cavalcante que está com um ano e três meses de idade.

Fonte: Sílvio Santos / www.gentedeopiniao.com.br 
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* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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