Quarta-feira, 14 de novembro de 2012 - 17h41
Um rei de uma terra muito distante convocou uma audiência com seu conselheiro preferido, que tinha fino tato político e crítico. Por isso, era uma espécie de oráculo do imperador e nenhuma grande decisão do reino era feita sem a sua opinião. Mas nesse dia a convocação possuía um tom bastante peculiar. A missão exigiria uma longa viagem pelo mundo e isso não seria nada comum.
“Caro amigo, sei que você merece todas as honrarias que um reino pode oferecer a um súdito. Contudo, venho lhe pedir que faça uma árdua viagem pelos reinos mais distantes. Precisamos estreitar o contato com outras civilizações para que isso nos permita um avanço sócio-tecnológico maior. Nessa odisséia, peço que você faça um relatório para podermos comungar das boas idéias dos outros povos”. Nem terminou as suas palavras e o rei já ouviu a concordância do seu conselheiro e amigo, que sem demora se despediu de sua pátria e seguiu pelo mundo afora.
Depois de muitas semanas, a jornada desembarcou no arquipélago nipônico. E justamente nesse dia um terremoto atingiu a Terra do Sol Nascente. Seguido de um tsunami, o tremor fez um dos maiores estragos que o mundo já viu. Vilas inteiras desapareceram, prédios tombaram, navios foram amassados como barcos de papel, cidades viraram de cabeça prá baixo e, infelizmente, muitas vidas foram ceifadas.
Para sua surpresa, no dia seguinte à catástrofe, uma mobilização jamais vista ocorreu para reconstrução daquela região. Pessoas e maquinários dispostos a reconstruir tudo no menor tempo possível. Nesse processo, o profundo respeito à pátria mostrou a face: filas gigantescas em que todos esperavam pacientemente o momento de receber a água e os alimentos, não houve saques, arrombamentos de banco, invasão a domicílios, pequenos furtos. Cada mão tinha apenas a função de ajudar a reconstruir tudo.
Em poucos meses da tragédia, grande parte do estrago havia sido consertado: viadutos inteiros foram reconstruídos, ruas partidas ao meio tiveram novo e melhor recapeamento, escolas foram refeitas, hospitais reerguidos... Ficou a impressão de que algum designer utilizou o photoshop para remodelar tudo. Mas era apenas o esforço humano em demonstrar respeito por sua terra, pelo seu próximo. Eis um exemplo de vida.
O analista fez um elogioso relatório. Não poupou adjetivos para citar os acontecimentos que viu. Não teve dúvida em registrar tudo em imagens, para que nenhum São Tomé viesse dizer que tudo não passava de estória. Feito isso, não tardou a seguir viagem. Agora, era preciso ir para o Hemisfério Sul, precisamente para Terra do Pau-Brasil.
Após longa viagem pelo tempo-espaço, chegou às margens do Rio Madeira. Numa época em que se anunciava que a maior onda de recursos e investimentos aportaria na cidade. Notou que era a chance ímpar daquele povo sair da situação de cidade com baixos índices de desenvolvimento humano. Pensou com seus botões: “se se conseguiu reconstruir, em menos de 2 anos, muitas cidades após um terremoto de quase 9.0, esta terra vai, com o vultoso aparato financeiro que chega, em menos de 8 anos, transformar-se em um autêntico paraíso”.
Passados quase oito anos, o viajante desistiu de esperar alguma mudança significativa na cidade. Percebeu que não havia intenção de se fazer nada para melhorar a situação daquela população. Viu o grande número de obras inacabadas, malfeitas e ouviu as justificativas do fracasso: “a empresa quebrou”, “a chuva impediu”, “a gravidade derrubou a passarela”, “não podemos lutar contra o impossível”, “não temos culpa se o rio secou”. Contudo, tudo ficou registrado no relatório e de modo muito negativo. De fato, Porto Velho era uma história de desrespeito com a população. Uma lição de vida.
Na noite anterior da sua despedida, ele ligou a TV e viu como era inacreditável o noticiário local: “A cidade era uma nova Europa na Amazônia: a qualidade de vida beirava ao teto (9,500), escolas de primeiro mundo (computador, ar-condicionado, etc.), transporte público de qualidade e com preço módico, entrega de moradias condignas, viadutos concluídos, revitalização de todo o patrimônio histórico (o trem andava e apitava!), muito recurso em caixa, cidade com saneamento básico na faixa de 95%, dezenas centros poliesportivos, mais de uma dúzia bibliotecas municipais climatizadas, postos de saúde com pronto-atendimento e médico 24 horas (isso em várias especialidades), 0% de corrupção”.
O visitante quase teve um AVC ao ouvir tão fantasiosas notícias. Não acreditou no nível de cinismo das mensagens publicitárias que tentavam incutir a idéia de que a toda cidade teve grandes avanços sociais. Lembrou-se, nesse cenário, de um assassino nazista (Joseph) que pregava o discurso segundo ao qual qualquer mentira poderia se tornar verdade e para isso bastava muita repetição e dissimulação.
Então, o estrangeiro não titubeou em concluir que a maior das pragas não é o terremoto, tsunami ou o furacão. É a corrupção. A perda material tem grande chance de ser reconstruída. A decadência moral dificilmente é remediável. Mas elenão perdeu a convicção de que aquele povo não acreditaria naquelas mentiras. Não perdeu a esperança de que as pessoas pudessem ter uma nova postura diante da inegável verdade: a mentira não deve prevalecer. De qualquer forma, levaria a mensagem ao seu reino sobre os exemplos e as lições que apreendeu na viagem. Principalmente a lição de como é possível, se o povo aceitar, destruir-se uma oportunidade e, por via reflexa, uma cidade em oito anos...
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