Sábado, 15 de dezembro de 2012 - 05h59
William Haverly Martins
O estelionato é tão velho quanto o homem. Delito fragmentado em várias figuras típicas impressiona pela criatividade. Na maioria, os casos são conhecidos como “contos do vigário”: o meio, o ardil e o artifício são variados, comum é a forma desonesta do uso da linguagem. A popular “lábia”, espécie de retórica marginal, é a forma de convencer incautos a caírem nos golpes. Segundo alguns juristas, no conto do vigário ocorre uma torpeza bilateral ou simultânea: o otário se acha esperto e, depois de um tempo, descobre-se otário, o que significa dizer “otário” por livre e espontânea vontade. Entretanto o consenso é que a moralidade do agente passivo não exclui a culpabilidade do agente estelionatário.
Os gregos vendiam o fogo de Zeus aprisionado em pedras: para vê-lo bastava esfregar bruscamente uma pedra na outra; o dente do Leão estraçalhado por Hércules; pedaços da corrente com que Zeus aprisionara Prometeu ao monte Cáucaso, para que uma águia viesse bicar-lhe o fígado. Os romanos vendiam mechas dos cabelos dourados de Vênus. Vendedores de sonhos, manipuladores da realidade, colocando os desejos de suas vítimas ao alcance das mãos, a preços módicos.
Os descendentes da cultura grega e da moral judaico-cristã venderam/vendem a estátua do Cristo Redentor, do padre Cícero, terrenos no céu, vidros com a água do Jordão, pedaços da cruz de cristo, óleo das oliveiras de Israel. O passado nos trás inúmeros exemplos de estelionatários, mas os mais conhecidos vendiam relíquias e indulgências, o que naquela época significava passagens para o céu.
O Vendedor de Passados, título do livro do escritor angolano José Eduardo Agualusa, que recentemente serviu de base para um filme global, foi publicado em 2004, o livro é uma sátira político social da Angola atual. Mas o nosso vendedor de passados, andou por Porto Velho há alguns anos e enganou muita gente da considerada alta sociedade rondoniense, principalmente os mais sentimentais. O golpe funcionava assim:
O sujeito era branco, alto, corpulento, bem afeiçoado e bem vestido, se apresentava na antessala de um médico, ou de um advogado, ou de um empresário que possuía um ente querido enterrado no Cemitério dos Inocentes e pedia para falar com a possível vítima. De segunda a sexta, peregrinava pela cidade, vendendo passados, escolhia um por dia.
Durante a exposição de motivos, com retórica impecável, se apresentava como amigo do defunto, um admirador do homem ilustre, de passado irretocável. Não dispensava voz emocionada e uma lágrima furtiva. Dizia-se filantropo, priorizando a educação: construíra uma escola no km 80 da BR 364, no sentido Acre, e pretendia prestar uma homenagem ao insigne defunto, laureando a escola com o belíssimo nome do homenageado. ENTRETANTO, a escola precisava apenas dos acabamentos finais para a ruidosa inauguração prometida para dali a alguns dias.
Na inauguração não poderia faltar os familiares e a imprensa. Depois de conseguir uma polpuda ajuda para ultimar os preparativos da festa, convidava a todos para a inauguração no domingo próximo e fornecia um mapa da localização.
No domingo marcado, era intenso o tráfego de veículos indo e voltando às imediações do distrito de Jacy Paraná. Só depois de muitas perguntas e de perceberem que havia muitos nomes para uma escola inexistente, os bacanas se davam conta de que haviam sido enganados e se entreolhavam envergonhados.
A única coisa que em mim não muda é o meu passado: a memória do meu passado humano. O passado costuma ser estável. Está sempre lá, belo ou terrível, e lá ficará para sempre.
Detalhes biográficos: baiano de nascimento, mas rondoniense de paixão, cursou Direito na UFBA e licenciou-se em Letras pela UNIR, é professor, escritor, presidente da ACRM – Associação Cultural Rio Madeira e vice-presidente da ACLER – Academia de Letras de Rondônia, onde ocupa a cadeira 31.
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