Quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013 - 07h15
Carolina Gonçalves
Agência Brasil
Brasília - Em uma fazenda no interior do Pará, um adolescente de pouco menos de 18 anos ouve, no rádio, o apelo de uma mãe que procura pelo filho há 12 anos, desde que o marido a expulsou de casa. Sem documentos e sem autorização do pai, o ouvinte da Rádio Nacional da Amazônia precisou esperar dias para que representantes do Conselho Tutelar de Pacajá se sensibilizassem com o caso e organizassem toda a documentação para o retorno ao convívio com a mãe. Os dois vivem juntos até hoje.
A história que se assemelha a um enredo de novela não apenas é real como é acompanhada pela comunicadora Sula Sevillis, que apresenta o programa Ponto de Encontro da Rádio Nacional da Amazônia, há 28 anos. O ouvinte ainda mantém o contato com Sula para contar detalhes da nova vida. As cartas com esse tipo de apelo, com recados para parentes ou dúvidas sobre direitos e serviços, chegam diariamente ao estúdio do programa. Pelos telefones, ouvintes ocupam por mais de uma hora a programação, com mensagens e agradecimentos.
“Sabemos que quase 60 famílias se reencontram por ano por causa do programa. Mas esse número pode ser maior porque muitos não voltam a ligar”, contabiliza ela. “Rádio é minha vida. Não me vejo fora daqui. Isso que faço é a principal coisa na minha vida”, conta, emocionada ao destacar a capacidade do veículo de chegar aos lugares mais distantes levando informação e serviço.
No caso da Rádio Nacional da Amazônia – que, desde 1977, quando iniciou as transmissões em ondas curtas, chega a regiões onde internet e televisão são serviços restritos – a relação entre os comunicadores e a comunidade é ainda maior. “Os ouvintes dizem que sou a companheira diária deles, porque estou em suas casas, preparamos o almoço 'juntos', 'vou para a fazenda com eles'. O comunicador entra na casa dessas pessoas e elas sentem como se nós fizéssemos parte da família delas”, descreveu Sula Sevillis.
Quase 60 milhões de pessoas em toda a Região Norte e os moradores de estados como o Maranhão, o Piauí, a Bahia, Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás recebem os sinais da emissora. “A Nacional da Amazônia nunca foi uma emissora apenas de entretenimento, sempre levamos informação e serviço para essas pessoas e uma visão diferente de um mundo que estão longe dessas regiões remotas que não têm, em muitos casos, acesso à internet, por exemplo”, disse ela.
Os relatos de reencontros se somam, na trajetória da emissora, a histórias de pessoas que retomaram estudos ou de idosos que descobriram direitos e conseguiram mudar suas vidas. Essa aproximação do ouvinte é uma característica também da Rádio Nacional AM de Brasília. A emissora tradicional e popular mantém, desde 1958, o espaço na programação para a participação do ouvinte.
Uma das primeiras pessoas a testemunhar o início dessa relação entre ouvintes e as emissoras da Empresa Brasil de Comunicação (EBC) foi Edson de Jesus Nery, conhecido carinhosamente como Burrinho. O operador que chegou à Rádio Nacional como estagiário em 1965, hoje coordena a área responsável pela logística dos programas e apresenta, há 35 anos, programas com canais diretos com o ouvinte.
“Eles sabem que aqui a gente ouve as mensagens. Os ouvintes ligam para brincar, para mandar recados para os parentes que estão longe. A emissora sempre esteve do lado do povo e transmite tudo pensando no interesse de quem nos ouve”, disse ele, ao destacar que “as pessoas ligam para agradecer”.
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