Terça-feira, 18 de junho de 2013 - 05h38
O ano de 2013 parece mesmo ser um daqueles anos que temos que esquecer, pelo menos no que se refere à ausência das instituições públicas responsáveis pela condução da política cultural, seguidamente negligente para com a cultura popular.
Não é de hoje que a mídia estadual estampa, em letras garrafais, a relutância do poder público em apoiar, ou criando todo tipo de dificuldades para diminuir – ou mesmo eximir por total - a participação do ente público nos grandes eventos tradicionais da cultura popular.
Vejamos o exemplo do Arraial Flor do Maracujá, em Porto Velho, colossal certamente criado pelo próprio Governo do Estado de Rondônia, que expõe a genialidade criadora de caboclos e beradeiros das terras e barrancas do Rio Madeira, há mais de três décadas, na iminência de não acontecer pela exata vontade da autoridade pública.
O mesmo fenômeno, de atitude contrária ao patrimônio cultural popular, também se registra em terras do Mamoré. O Governo de Rondônia, de maneira insensível e com total descomprometimento, na maior cara de pau, tacitamente ensaia sair de cena do Bumbódromo da Pérola do Mamoré, desaparecendo pela tangente, sem assumir suas necessárias e imprescindíveis responsabilidades para realização do 19º Festival Folclórico de Guajará-Mirim.
E quando os brincantes, os produtores culturais e amantes da cultura popular pensam não ser possível piorar, mais ainda, a atual situação de incertezas do Festival Folclórico de Guajará, se surpreendem com o que está acontecendo com o Boi-Bumbá Flor do Campo.
A história de criação do Boi-Bumbá Flor do Campo é sempre contada de forma romântica e apaixonante, como sendo a vontade abnegada de uma professora exemplar e comprometida com a cultura popular, Georgina Ramos da Costa, que no ano de 1981, em uma das salas da Escola Estadual Almirante Tamandaré, se utilizando de sucatas, cipós, pontas e sobras de tecidos, cola, papelão, jornal, cordão, buchas de cordas, agulhas e linhas, confeccionou um boi de pano, nas cores branca e preta, dando-lhe o nome de Famosinho que, posteriormente passou a ser denominado e conhecido por Boi-Bumbá Flor do Campo, defensor das cores vermelha e branca.
Como vemos, não é possível falar das origens do Boi-Bumbá Flor do Campo, ou até mesmo discorrer sobre o que deu início ao famoso Duelo da Fronteira, sem passar pelas salas de aulas da Escola Estadual Almirante Tamandaré.
Pergunto-me: qual a unidade escolar deste município, ou mesmo deste Estado, que não gostaria de entrar na história da cultura popular do Estado de Rondônia, como sendo a escola-manjedoura do ilustre, colossal e grandioso Boi-Bumbá Flor do Campo? Respondo: a Escola Estadual de Ensino Fundamental Almirante Tamandaré, pasmem todos!
Há alguns anos a escola vem dificultando a entrada dos brincantes da Nação Vermelha e Branca na quadra da escola, onde costumeiramente, ao longo dos anos, o Boi do Bairro Tamandaré realiza seus ensaios. A atual Diretora da Escola, Professora Rosane Couteiro Lemos, reluta e nega, intransigentemente, um espaço que não é seu, mas sim público, de uso comum de todos.
A atitude da Professora Rosane Couteiro Lemos contraria uma das diretrizes do próprio Ministério da Educação, que preconiza trazer para os limites internos da escola, todos os cidadãos e cidadãs da comunidade moradora nos arredores da escola.
A Professora Rosane Couteiro Lemos passa longe – muito longe mesmo - dos modernos princípios que entendem que a educação não pode mais ficar limitada aos muros escolares. A construção de uma nova escola, com ambiente ético solidário, transformador e includente, que ultrapasse o anacronismo do velho jeito de ensinar, requer uma atitude pedagógica ousada, ressignificada e necessariamente contemporânea, indo além do preconceito sociocultural e do comodismo, ultrapassando inclusive os ‘muros’ escolares, estendendo a ação pedagógica a toda comunidade onde a unidade escolar está inserida, incluindo também, no processo da educação, as relações com as famílias dos estudantes, as demais pessoas e organizações e movimentos socioculturais que convivem em seu entorno.
E assim caminha a cultura popular em Guajará-Mirim e em Rondônia: enfrentando analfabetos estéticos; lutando contra gestores escolares preconceituosos, acomodados, conformados e defensores de uma escola alienadora e excludente; mendigando o apoio das instituições públicas culturais e de seus respectivos gestores, comprometidos apenas com o projeto econômico de grandes empresários da indústria da cultura de massa; ouvindo não do Excelentíssimo Senhor Governador Confúcio Moura, um vaidoso blogueiro que pensa que a cultura popular - marcadamente perpetuadora da identidade cultural do povo de Rondônia e do Brasil – aquela praticada pelo povo humilde, realizada pelo artista simples e admirada por gente moradora das comunidades carentes, pelo turista e pelo mundo inteiro, não precisa do apoio de seu governo pífio.
Fonte: Ariel Argobe
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