Não gostaria de me envolver, até porque a prudência recomenda absoluta cautela. Mas fui cobrado por uma leitora muito especial e não posso fugir. Não acompanhei a entrevista do procurador Ivo Scherer, publicada no Tudo Rondônia. Mas se ele efetivamente disse tudo aquilo, suas palavras conflitam com a ideia de absoluta isenção auto atribuída pela longa nota oficial emitida pelo Colégio de Procuradores da Instituição. Ivo Scherer, segundo a matéria, disse que “já temia, quando foi emitir seu parecer sobre as medidas cautelares pedidas à justiça pela polícia, que a Operação Apocalipse descambasse para no que de fato se transformou: uma tentativa de destruir a reputação política dos desafetos do Governo”.
E mais: Ivo Scherer não usou meias palavras para definir o que pensa da operação comandada pelo secretário Marcelo Bessa, da Segurança Pública. “É uma devassa na vida privada dos desafetos políticos. O objetivo é a destruição política", e alertou: "Os interesses pessoais não devem se sobrepor aos interesses públicos. Ninguém está acima da lei”. A matéria diz também que “procuradores e promotores de justiça repudiaram a atitude da juíza Sandra Silvestre de tentar - segundo eles- desmoralizar o procurador-geral, Éverton Aguiar, insinuando que este tenha conversado algo de criminoso com o deputado Hermínio Coelho no dia da Operação Apocalipse”.
O site afirma que Ivo Scherer, “já antevendo o que poderia acontecer”, negou, em seu parecer, as medidas cautelares requisitadas pela polícia à justiça, entre elas, o afastamento do deputado Hermínio Coelho da presidência da Assembleia e de suas atividades parlamentares. E esclarece que Hermínio é o principal opositor do governador Confúcio Moura (PMDB) e foi o responsável pela aprovação e uma lei que impediu o secretário Marcelo Bessa de assumir uma vaga no Tribunal de Contas de Rondônia.
Estranhamente, nem o site, nem o Colégio de Procuradores em sua nota, fizeram qualquer alusão à montanha de provas reunidas pela Polícia Civil contra os acusados. Toda aquela indignação do parquet foi direcionada a dois contatos telefônicos mantidos pelo procurador geral do MP, Éverton Aguiar, e ao “jogo de palavras” da juíza Sandra Silvestre, “que teria consignado em decisão judicial um suposto tratamento anormal e diferenciado do Procurador-Geral de Justiça”.
Também não consegui encontrar nas declarações de Ivo Scherer sobre sua decisão premonitória a respeito da Operação qualquer referência à consistente fundamentação da Sesdec. O procurador falou sobre a emenda de Hermínio a respeito da ocupação da vaga no TCE, mas não se lembrou de outra emenda do mesmo autor, que tira do governador a prerrogativa constitucional de indicar o procurador geral a partir de uma lista tríplice.
A nota demonstra que o MP está absolutamente atento ao que é postado nas mídias sociais. Diz que “Surpreendentemente, por volta de 22h30 do dia 03 de julho de 2.013, ou seja, na noite anterior à manhã da deflagração da ‘Operação Apocalipse’, a pessoa de Valbran Júnior postou no Facebook contagem regressiva e afirmando que a partir das 5h da manhã ‘o chão iria tremer’. Mas deixou de lado uma questão absolutamente pertinente, também recentemente veiculada no Facebook, sobre uma possível candidatura de Everton Aguiar ao Senado pelo PSOL com apoio de Hermínio. Uma questão que chegou a provocar um desmentido do procurador.
De tudo o que foi dito na cansativa, porque exageradamente longa, nota do Ministério Público, é reconfortante saber que, conforme ficou assinalado no parágrafo final, “o Ministério Público garante que eventuais pressões e ataques contra qualquer de seus Membros não o afastará da ligalidade nem do combate ao crime organizado e à corrupção. Neste caso específico, como destinatário da investigação policial, formará seu livre, equilibrado e imparcial juízo acerca dos fatos investigados e emitirá maiores esclarecimentos após análise dos inquéritos e conclusão das investigações”. Resta a nós, mortais comuns esperar que o equilíbrio prevaleça, para o bem de Rondônia.
Domingo, 24 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)