Não partiram do blogueiro as previsões apocalípticas sobre a instabilidade do coeficiente de segurança da barragem da hidrelétrica de Jirau. Elas foram levantadas pelo próprio consórcio construtor. Não se sabe exatamente se são apenas um blefe para impedir a elevação da cota da barragem de Santo Antônio ou se o risco de ruptura da estrutura da barragem realmente existe. É exatamente o esclarecimento dessa situação que as autoridades rondonienses querem exigir do Consórcio Energia Sustentável do Brasil.
Embora as autoridades procurem evitar previsões alarmistas capazes de disseminar o pânico em meio à população, o pior cenário não é descartado. Não se pode deixar de trabalhar com perspectivas realmente assustadoras. Há sim, bases científicas para os indicativos de catástrofe. A barragem se sustenta em dois fatores: peso e coeficiente de atrito. Se é formado um lago à jusante, ou seja, após a barragem rio abaixo, que é a situação da qual o consórcio ESBR reclama, a própria água reduz o peso da estrutura – princípio de Arquimedes – e a barragem pode sofrer um arrasto com o consequente rompimento.
Mas a formação do lago à jusante significa também uma redução no volume de energia produzida por Jirau, o que pode vir a ser a verdadeira razão da manifestação do consórcio, o que também é possível. É claro que caso isso se confirme o empreendedor terá que ser adequadamente responsabilizado. A situação, afinal, foi criada pelo próprio consórcio ESBR, que forçou para baixo os preços na licitação e mais tarde compensou os prejuízos com a transferência da barragem para o chamado “Caldeirão do Inferno” (chamei equivocadamente de “caldeirão do diabo”, mas o chifrudo é apenas o dono da casa), 13 quilômetros abaixo da localização original, em Jirau. Com isso, a barragem foi instalada exatamente no lago de Santo Antônio, daí a razão da celeuma entre os empreendedores.
É claro que não se pode culpar Santo Antônio ou Jirau pela totalidade dos problemas vividos hoje por Rondônia com as cheia do Madeira. Mas boa parte deles são de responsabilidade dos empreendedores sim senhor. O Ministério Público já havia advertido sobre isso. Os gestores de Santo Antônio vêm a público dizer que a mesma quantidade de água que entra na barragem é a que sai. Mas nada diz sobre o efeito remanso, que bloqueia a saída e represa os rios e canais tributários, levando a inundação para muito além do lago propriamente dito. E mais: se nada de pior acontecer, ou seja, no mais otimista dos cenários, Porto Velho vai amargar um desbarrancamento verdadeiramente catastrófico depois que as águas baixarem.
Quinta-feira, 28 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)