Gostaria de esclarecer uma questão levantada por pessoas que provavelmente se detiveram na leitura das primeiras linhas de meu texto, publicado ontem no Blog do CHA, que recorri à imagem de um tsunami para ilustrar o poder destrutivo das águas no caso de rompimento da barragem de Jirau, ou Caldeirão do Inferno, como acredito ser a denominação mais apropriada. O que parece estar acontecendo é um claro desejo de punir o mensageiro pela má notícia.
Acrescento que embora as usinas afirmem agora que não há risco, a possibilidade de instabilidade na barragem foi levantada por diversas vezes nos últimos dois anos pelo Consórcio Energia Sustentável do Brasil. Isso foi deixado claro em documento protocolado junto à Aneel, à Agência Nacional de Águas (ANA), ao Ibama, à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) afirmando que a hidrelétrica de Santo Antônio estaria desrespeitando o limite permitido pelo projeto e que esse acúmulo de água no reservatório estaria comprometendo as estruturas de Jirau.
Não tenho bola de cristal, nem sou candidato aparecer como a reencarnação de Nostradamus, como andaram sugerindo no Facebook. Não importa se a palavra empregada foi “previsão” ou “estimativa”. Interessa que o raciocínio lógico indica que se, de fato, houver o “comprometimento das estruturas da barragem”, conforme – repito – declarou o consórcio, Porto Velho corre sério risco de ser destruída pela fúria das águas. Se tudo não passou de um blefe cujos efeitos os autores tentam agora minimizar, então terão que ser devidamente responsabilizados.
A publicação do texto no Blog do CHA levou o presidente da Câmara, vereador Alan Queiroz, a pedir esclarecimentos aos responsáveis pelas usinas de Santo Antônio e Jirau, “sobre a informação divulgada pelo blogueiro Carlos Henrique Ângelo, de que existe a possibilidade do rompimento das barragens que contêm as águas do Rio Madeira, o que provocaria um verdadeiro tsunami, arrastando a Usina de Santo Antônio e tudo o que tivesse na frente, chegando à Capital e arrasando 30% da cidade, ocasionando a morte de pelo menos 50 mil pessoas”.
“A equipe técnica nos garantiu que a possibilidade do rompimento de uma dessas barragens é quase zero. De acordo com os técnicos, as usinas foram construídas para absorver 82 metros cúbicos de água, ou seja, quase o dobro do nível de 51 metros cúbicos que se encontra hoje com toda essa enchente. É preciso tranquilizar a população diante de tantos boatos para que não haja pânico”, explicou o vereador Alan Queiroz.
A verdade é que até mesmo a assessoria da Usina Hidrelétrica de Santo Antônio, segundo matéria publicada pelo portal +RO, ao classificar como “boato” o rompimento da barragem o acontecimento que jamais foi afirmado aqui – disse que “se, de fato, o problema tivesse acontecido, Porto Velho estaria debaixo d’água”. O estrago seria então pior do que foi estimado no pior dos cenários.
Quinta-feira, 28 de novembro de 2024 | Porto Velho (RO)