Domingo, 3 de agosto de 2014 - 08h55
‘Guajará Mirim era um município muito grande, vinha do rio Mamoré até a foz do rio Cabixi e toda borracha, toda castanha produzida nessa região ia pra lá, nos reunimos e decidimos eleger Vereadores para nos representar na câmara e trabalhar pela nossa emancipação’
Costa Marques – Histórias do Chico Território
Costa Marques a Princesinha do Vale do Guaporé é uma das cidades mais apreciadas pelos turistas que visitam o estado de Rondônia, pois além de suas belezas naturais, abriga o lendário Forte do Príncipe da Beira e no verão, belas praias onde as tartarugas e tracajás desovam e provocam a eclosão, um espetáculo acompanhado por muitos. Nesse município nasceu e vive até hoje, aliás, é o atual prefeito, um dos cidadãos mais queridos do Vale do Guaporé, não porque é prefeito, mas, pelas suas qualidades como benzedor, parteiro e manipulador de remédios naturais e até Amo de Boi Bumbá. Francisco Gonçalves Neto conhecido como Chico Território.
São as histórias do Chico Território que contaremos na edição de hoje 03 e na edição do próximo domingo 10. Vamos as histórias do menino que escapou da descarga de um raio e se transformou em “O Curandeiro do Vale do Guaporé”.
E N T R E V I S T A
Zk – Qual o dia, mês e ano do seu nascimento e a localidade?
Chico Território – Me chamo Francisco Gonçalves Neto. Nasci no dia 6 de maio de 1953 num lugar que chama Livramento entre Porto Murtinho e Limoeiro, no famoso Vale do Guaporé. O apelido de Chico Território vem do seguinte: Meu pai guardava como relíquia um terçado que tinha o timbre “Território Federal de Rondônia” e quando chegamos em Costa Marques, brincando com meus colegas, eles esconderam o facão e eu gritava, quero meu Território, daí pra frente quando me aproximava eles diziam “Lá vem o Chico do Território” eu ficava fulo da vida e até brigava, assim o apelido pegou.
Zk – O que você conhece sobre a história de Costa Marques?
Chico Território – A história de Costa Marques conheço de 1959 pra cá. Acontece que lá em Livramento, gostava de tomar banho no rio e certa vez caiu um raio e eu fui atingido, consegui correr até em casa e cai na porta, me juntaram e chegaram a me colocar em cima de uma mesa pensando que eu estava morto. Isso foi no inicio de 1959 e em virtude da superstição de que se o raio voltar a cair no mesmo lugar a pessoa vítima morre, quando foi em fevereiro, meu pai me trouxe pra casa da minha avó em Costa Marques, essa minha tia avó no mês passado completou 102 anos de idade. Quando cheguei aqui estava tudo alagado, essa enchente deste ano de 2014 quase ultrapassa a de 59, faltou 20 cm. Na época pouca gente morava aqui, o povoado era mais em Santa Fé e Nazaré.
Zk – Quais as festas que aconteciam no lugar?
Chico Território – Todo ano tinha brincadeira de Boi Bumbá e Quadrilha. Acontece que o povo que vinha dos seringais ficava aqui nos barracões e os seringueiros gostavam de promover essas brincadeiras no dia de Santo Antônio, São João e São Pedro e a nossa família por parte da minha mãe, veio do rio São Miguel e depois a minha avó por parte de pai veio também. A gente cortava seringa lá em São Bartolo e no mês de maio, descia pra cidade e passava as festas juninas brincando Boi Bumbá e dançando Quadrilha.
Zk – Por falar em Boi Bumbá qual era sua função na brincadeira. É verdade que você também é parteiro?
Chico Território – Eu era o Amo cantador e tirador de toada. Além disso, Deus me deu o dom de ser Rezador (reza pra quebranto, espinhela caída e outras mazelas), aprendi a fazer remédio natural e fiz muito parto. Esse conhecimento sobre remédio natural aprendi com minha avó Protásia que é parteira e como eu era um menino muito esperto e fazia questão de ajudar nos partos fui aprendendo. Quanto ao rezador, foi porque nos barracões a gente via os mais velhos rezando nos meninos, e também fui pegando a maneira de rezar. Quando já estava grande, as pessoas vinham comigo: Chico Território vem aqui colocar o braço do fulano no lugar, vem dar massagem, vem rezar no meu filho que está com quebranto, fulano tá com espinha de peixe atravessada na garganta vem rezar nele, era e é assim. Pisava mastruz, amor crescido e colocava no machucado e assim fui desenvolvendo o conhecimento sobre as plantas medicinais ao ponto de aprender a arte da manipulação de remédios. Fazia remédio pra coqueluche, banho pra sarampo e catapora tratava as pessoas que estavam com impaludismo (malária). A Vivax tratamos com Quina Quina e a Falciparum com Fedegoso.
Zk – Se não tinha laboratório como é que você sabia qual era o tipo de malária?
Chico Território – A gente sabia pelo horário que o frio e a febre chegava. Você teve frio e febre que horas? De acordo com o horário a gente sabia o tipo da malária e então “receitava” o Fedegoso, Melão São Caetano ou a Quina Quina. Depois de dez dias a gente aplicava um purgante na pessoa para limpar o fígado.
Zk – Purgante de que?
Chico Território – Fervia o Picão com a Raiz do Açaí e fazia aquele chá que a pessoa tinha que tomar por 30 dias, para purificar o fígado, os rins e o baço. Quando era caso de sarampo a gente fazia o chá do Cravo de Defunto, o chá da folha do Café dava pro paciente e depois jogava milho debaixo da cama pro sarampo sair rápido. Catapora a gente dava logo o chá do Café pra que ela saia de uma vez e no terceiro dia a gente começa a fazer os banhos de Quina Quina com Melão Caetano que aí não fica coceira e nem fica marca.
Zk – Qual foi o parto mais difícil?
Chico Território – Foi o de uma senhora que tinha gêmeos. Foi no dia 11 de agosto 1969. Quando cheguei na colocação ela estava com 15 dias sofrendo. O marido disse, entra Território as parteiras estão aí faz dias e não conseguem nada. Quando vi a grávida disse, essa mulher está inchada em virtude de tantos dias sofrendo, vamos primeiro fazer uns banhos. Depois dos banhos peguei na barrigada dela e falei: aqui tem duas crianças e então passamos a trabalhar para um parto de gêmeos, pariu a primeira ainda era de dia e a noite veio a outra. Os dois estão vivos até hoje.
Zk – Devido a atividade de rezador, benzedor, parteiro, manipulador de remédios você chegou a ser chamado de Macumbeiro?
Chico Território – Muita gente falava pra mim, você é macumbeiro e eu respondia não? Faço isso porque nasci com essa vocação, minha avó me ensinou e depois de adulto fui aprendo nos livros; Devo dizer que só aprendi a ler quando já estava com 12 anos de idade. As orações que minha vó me ensinava estão todas na Bíblia, isso é uma tradição que vem de pai pra filho de avo pra neto. Eles aprenderam com os ancestrais negros. Aliás, os negros chegaram no Vale do Guaporé e habitaram Rolim, Rio Piolho, Pedras Negras e a família da minha avó ficou em Bacabalzinho/Santo Antônio. Dizia minha mãe que eu com 2 anos de idade comecei a rezar. Quando passou a Coroa do Divino Espírito Santos depois eu pegava uma vela saia com as demais crianças rezando pelas ruas da localidade.
Zk – Você falou que era Amo de Boi. Qual Boi?
Chico Território – Quando a dona Gregória foi embora pra Guajará Mirim nós tomamos conta do Boi que era dela o Flor do Campo eu, seu Ferré e o finado Raimundo. Uma das toadas que a gente cantava dizia assim: Eu queria essa beleza pra ser um homem educado. Eu queria dar um viva ao governador do estado...
Zk – E Costa Marques município?
Chico Território – Guajará Mirim era um município muito grande, vinha do rio Mamoré até a foz do rio Cabixi e toda borracha, toda castanha produzida nessa região ia toda pra lá e então quando começou aquele movimento da criação de vários municípios em Rondônia, nos reunimos e decidimos eleger Vereadores para nos representar na câmara de Guajará e trabalhar pela nossa transformação em município. O aeroporto era no Forte Príncipe da Beira a gente tinha que ir pra Conceição de barco pra pegar o avião que nesse tempo era da Cruzeiro do Sul ou a Catalina da FAB, muitas vezes a gente perdia o avião porque o barco era lento e não chegava na hora. Fomos nos reunindo, Raimundo Oliveira marido da Maria Carmem, Abrão Ibanez, Raimundo Mesquita e outros e a gente foi se inteirando. Elegemos vereador em Guajará Mirim o seu Antônio Neném e o Raimundo Carmo Oliveira daí foi...
Zk – Vamos deixar essa parte da história para a edição do próximo domingo ok...!
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