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Francisco Matias

O LEGADO DE JERÔNIMO SANTANA 2014


Por Francisco Matias(*)

1. Quis o destino que a morte do político Jerônimo Garcia de Santana, ocorrida no dia 11 de setembro 2014, fosse entrelaçada por atos políticos presentes e passados, regionais e internacionais. O dia 11 setembro marca os treze do ataque terrorista às torres gêmeas nos EUA. O dia 13 setembro, mas os setenta e um anos da criação do Território Federal do Guaporé. O mês de setembro marca o final da campanha eleitoral para as eleições/2014. Jerônimo Santana, o homem da bengala, era assim mesmo, um animal político. Alimentava-se, respirava e sonhava com a política. Foi com essa genética que ele aportou no Território Federal de Rondônia, nos idos de 1968, portando seu diploma de advogado com um olhar aquilino e voraz sobre um butim político que parecia pronto para abrigá-lo.

2. No território federal de Rondônia o regime militar se fazia presente com força total. A censura, o aparato policial e militar, as convulsões sociais provocadas pela garimpagem manual de cassiterita e pela chegada dos imigrantes sulistas para serem assentados, poderiam ser obstáculos para ele, mas atuaram como vertente política para seus discursos contra o governo militar e favoráveis a esses novos povoadores. Em cada um deles ele via um potencial eleitor. Na cidade de Porto Velho, um vazio estava instalado desde o enfraquecimento das disputas entre Cutubas e Peles-Curtas. Os Cutubas representavam a direita e o bloco de apoio à ditadura militar. Os Peles-Curtas formavam a oposição socialista, de esquerda ou de centro-esquerda. Era um butim que o jovem advogado Jerônimo Santana precisava. Ele caberia direitinho nesse lugar vazio e ávido por uma liderança populista.

3. Foi assim que ele se elegeu a deputado federal por três mandadosseguidos (1970, 1974 e 1978). Foi assim que fundou o MDB (atual PMDB), do qual se fez caudilho, dono e presidente regional. No ano de 1981, quando a pauta regional era a criação do Estado de Rondônia, o deputado federal Jerônimo Santana ficou num beco sem saída. Seu partido, a nível nacional, posicionava-se contrário à criação do Estado. Portanto, na ora da onça beber água, Jerônimo Santana perdeu a bengala. Ele não podia votar a favor e não queria votar contra o projeto de criação do estado. Resolveu sair do plenário e não votou. Arrependeu-se, retornou ao plenário e não pode mais votar. Estava no final do beco sem saída. Mas deu a volta por cima, e, em 1985, tornou-se o primeiro prefeito eleito de Porto Velho, enquanto capital do estado de Rondônia. No ano seguinte, desincompatibilizou-se para concorrer às primeiras eleições para governador. Ganhou. Tornou-se o primeiro governador do Estado eleito pelo povo. Seu vice-governador era o advogado Orestes Muniz.

4. Como governador, ficou mais uma vez num beco sem saída. Tido e havido como o maior líder político de Rondônia, ele não soube lidar com o governo, os parceiros e partidários e, sobretudo, com o destino. Fez um bom governo, mas não se fez um líder com raízes definidas. Aos poucos, sua figura política foi sendo desfigurada e ele não tinha meios para reconstituir-se. Chegou a sofrer um processo de impeachment na Assembleia Legislativa, que chamava de “Gaiola de Ouro”. No final do seu mandato, não conseguiu conduzir o processo eleitoral. Esta só e isolado politicamente. Quando tentou recomeçar sua carreira política, estava fora do PMDB, praticamente abandonado por quem havia se sentido por ele abandonado: o seu partido. Jerônimo Santana estava em mais um beco sem saída.

5. Ao morrer em Brasília, depois de ter sofrido um derrame cerebral e sofrer muito com isso, ele não estava rico, morava em uma casa simples, localizada, paradoxalmente, em uma rua sem saída. Seu legado: a luta sem medo contra a ditadura; ter representado um segmento da sociedade rondoniense que estava sem um líder. Ter contribuído para a democracia no Brasil e em Rondônia. Ter sido o homem da bengala. “Bengala Neles, Jerônimo!”

Historiador e analista político(*)

Porto Velho, 13.09.2014

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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