Quarta-feira, 27 de maio de 2015 - 18h28
A tarde de hoje trouxe-me a realidade contundente de mais uma perda definitiva. Mesmo tendo praticado a medicina ao longo 40 anos, ainda não consigo passar impunimente pela perda de uma vida humana. Tomara que seja assim até o meu último instante.
Quem partiu desta vez foi o dileto amigo Sérgio Mello. Ele deu entrada em meu hospital quando me encontrava viajando; mas, logo no dia seguinte, ao retornar, fui informado que ele lá chegou em estado crítico, e que havia passado por instantes que pareciam ser os finais de sua existência. Felizmente que ante a atuação eficaz de especialistas que fazem parte de nossa equipe, ele sobreviveu. Todavia, os dias que se sucederam foram de grande apreensão. Vezes parecia bem, mas evoluía com episódios preocupantes diante da gravidade de seu estado de saúde e das múltiplas complicações decorrentes dessa condição extremamente adversa.
Mas nem sempre a ciência vence. Depois de sobreviver a um acidente vascular cerebral, a infartos e grave comprometimento renal, eis que a dona de nossa finitude o rouba de nosso convívio. Tanto nossa equipe, que já nutria por Sérgio grande afeição, quanto a mim e a todos os seus amigos ao serem informados do fato, fomos tomados por grande tristeza.
Quando um ser humano morre, resta apenas a lembrança de sua trajetória por este mundo. No caso de Sérgio Mello, a trajetória de um homem de postura irretocável. Não virou bom porque morreu. Era bom! Como jornalista e comunicador em rádio e televisão chegado há décadas em nossa cidade, Sérgio, em sua prática cotidiana, deu exemplos de como se faz nessa nobre profissão o bom combate. Tanto nos programas de rádio, como nos de televisão, entrevistando, apresentando e fazendo pertinentes comentários críticos, demonstrava competência e equilíbrio. Mesmo desabonando atos que envergonham a natureza humana, o grande Sérgio, sempre contido, a despeito do seu vozeirão que a todos que o ouviam, encantava, não se deixava tomar por emoções que descambassem para ofensas pessoais. Sua serenidade, mesmo em momentos adversos, inclusive até o seu derradeiro instante, denotavam serenidade.
A despeito das evidências de um fenecer que se anunciava, movido pela fé na ciência que pratico e, principalmente, no que transcende a ela, não via a hora de voltar a ver aquele Sérgio Mello que todos aplaudiam fazendo com competência o que amava fazer. Porém, os desígnios do destino impediram que isso acontecesse. A partir de agora, certamente teremos menos uma voz altiva, plena de credibilidade, defendendo as mais lídimas causas de nossa gente. Rondônia está de luto.
Pedir segunda opinião médica: um dilema dos pacientes
Até que ponto é válido ouvir uma ou mais opiniões de outros médicos quando se quer avaliar a do médico que nos trata? Essa atitude tem resultados pr