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Gente de Opinião

Abnael Machado

Brevíssima História da Origem do Estado Acre (I)


A extração de látex da árvore seringueira (hévea brasiliense) produtora de borracha, matéria prima imprescindível à produção de diversos artigos industrializados e da Revolução Industrial, em principio na Inglaterra, França e Estados Unidos da América do Norte, foi a mola propulsora da migração interna da região Nordeste principalmente dos estados do Ceará, Maranhão e Paraíba para a região Norte localizando-se nos vales dos seus rios, aonde abundasse em maior densidade as seringueiras, tais como os do Madeira, Purus, Juruá, Acre, Iaco Javari ultrapassando os migrantes desbravadores e conquistadores da selva as raias de limites com os paises vizinhos Bolívia e Peru, assentando vastos latifúndios gomíferos produtores de borracha, artigo em elevada cotação no mercado internacional. Essa ultrapassagem decorreu de dois preponderantes fatores: 1º O espaço ser desabilitado por bolivianos e peruanos, assim como os seus meios fisiográficos serem mais favoráveis à penetração do fluxo migratório brasileiro; 2º, a falta de definição da demonstração dos limites fronteiriços entre o Brasil e os paises supramencionados, que desde o período colonial era uma questão divergente sem consenso entre Portugal e a Espanha. O primeiro propugnava que fosse uma linha reta traçada a partir da confluência do rio Guaporé com o rio Mamoré seguindo rumo ao Oeste até alcançar a nascente do rio Javari. O espaço situado a direita seria pertencente ao império português e a esquerda ao império espanhol, o qual discordava com a tal divisão. Pretendia que o ponto inicial da linha fosse à margem esquerda do médio curso do rio Madeira, um local em frente a atual cidade de Humaitá/AM, posteriormente constando dos Tratados de Madri/1750 substituído pelo de Santo Idelfonso/1777, o qual foi declarado nulo pela Espanha e Portugal/1801*. O óbice quase insolúvel para o balizamento das fronteiras era o desconhecimento das nascentes do rio Javari, problema herdado pelos estados independentes originários dos dois impérios coloniais. O Brasil em guerra com o Paraguai foi impelido por questões políticas e estratégicas, a firmar em 1867, mesmo desconhecendo o imenso espaço compreendido entre os rios Madeira e Javari, assim como a nascente desde ultimo rio, o Tratado de Ayacucho com a republica da Bolívia, o qual dispunha que a linha Madeira-Jari seria uma reta paralela a latitude 10°20' sul, seguindo a direção Leste/Oeste, a partir da foz do rio Beni ate alcançar a nascente principal do rio Javari, dava direito de posse à Bolívia as vales dos altos cursos dos rios Purus, Juruá, Acre, Iaco e Javari, áreas totalmente isoladas de seu espaço territorial e em fase de ocupação pelos brasileiros, originando o traumático litígio, a guerra do Acre.

Os Precursores do Desbravamento e Colonização do Acre

A ocupação e exploração do rio Purus iniciou-se em 1852, pelo pernambucano Manoel Nicolau de Melo se instalando no lago Aiapuá, porém já era freqüentado desde o início do século XIX, pelos coletores das drogas da selva. Ainda em 1852, o cearense João Gabriel de Carvalho acompanhado, por quarenta famílias do Ceará e do Maranhão, se estabeleceu em Itapá na foz do rio Purus, da qual em 1862 se deslocou rio acima para os rios Beruri e Tauari instalando um pouco acima da foz deste último, uma povoação extrativista de drogas nativas, borracha e de cultiva de salsa.

O Presidente da Província do Amazonas, João Batista Tenreiro Aranha, em 1852 determinou a realização de duas expedições de exploração do rio Purus tendo como um dos seus objetivos descobrir uma ligação fluvial que constava existir entre este e o rio Madeira, por cuja via seria transportado gado boliviano importado da Bolívia para suprir o mercado de Manaus. A primeira chefiada por João Rodrigues Cametá subiu o rio em canoa, durante cinqüenta e três dias regressando devido o baixo nível de suas águas. A segunda chefiada por Serafim Salgado, ainda no mesmo ano, percorreram a trilha de João Cametá, passou pela foz do rio Iaco e pela do rio Aquiri alcançando a ultima maloca dos índios cocamas, navegando 4.950 km, retornando em vista a estreiteza do rio e obstrução do seu canal não permitindo a navegação nem a pequenas canoas. Serafim foi considerado o desbravador do T.F. do Acre no vale do rio Purus.

Em 1861 foi realizada a terceira expedição chefiada por Manoel Urbano da Encarnação, determinada pelo Presidente da província do Amazonas Manoel Clementino Carneiro da Cunha, com a finalidade das duas primeiras, encontrar uma via de junção com a Bolívia (Purus/Madeira). O expedicionário dirigiu-se ao rio Purus, deste passou-se para o rio Ituxi do qual retornou ao Purus, subindo-o penetrou no rio Aquiri (Acre) navegando-o vinte dias atingindo as terras do Acre. Voltou ao Purus, entrando no seu afluente pela margem direita, o rio Macuim do qual por terra atravessando alguns quilômetros alcançou a margem esquerda do rio Madeira retornando ao rio Purus, tendo percorrido 6.190 Km.

O engenheiro João Martins da Silva Coutinho acompanhado por Manuel Urbano realizaram a quarta expedição ao rio Purus, regressando à Manaus antes de concluí-la por falta víveres para o sustento dos expedicionários (1862).

O geógrafo W. Chandless a serviço da Real Sociedade Geográfica de Londres, em 1864, acompanhado por Manoel Urbano esteve no rio Purus com a missão de descobrir se realmente existia a propalada ligação aquática entre esse rio e o rio Madeira. Subiu o Purus e seu afluente Acre, até suas cabeceiras fazendo o levantamento dos seus pontos astronômicos e atestando não existir ligação fluvial entre os rio Purus/Madeira.

Em 1866, Manuel Urbano chefiando a quinta expedição oficial voltou ao rio Purus com a finalidade específica de explorar o rio Ituxi a tão procurada ligação fluvial entre os rio Purus e Madeira. Partindo da margem esquerda desse último, acima da cachoeira do Teotônio, no divisor de águas Ituxi/Madeira na face ocidental nascem rios afluentes do Ituxi (o Curuquete) os quais conectados por uma rodovia de pequena extensão à margem esquerda do rio Madeira na confluência com o ri Abunã, o ligaria ao Purus (rodovia foz do Abunã, nascente do rio Curuquete, descendo seu curso até sua foz no rio Ituxi, descendo por este até a sua foz no rio Purus). Manuel Urbano subiu o rio Mucuim, tributário do Purus, por terra desceu a cachoeira de Teotônio no rio Madeira, subindo-o durante quinze dias estacionando próximo a foz do Abunã, daí prosseguindo por terra rumo ao Oeste, após dois dias de caminhada atravessou o divisor de águas (serra Três Irmãos), Ituxi/Madeira, chegando ao vale do Purus. Pretendia penetrar no rio Ituxi para fazer o seu reconhecimento, porém desistiu, retrocedendo no meio da viagem por falta de víveres para manutenção dos expedicionários. Esses pioneiros abriram o caminho para a colonização do Vale do rio Purus. Em 1865 numa extensão de 612 km entre o rio Beruri e o sitio Boa Vista existiam 240 colocações com casa cobertas de palha habitadas por famílias brasileiras tendo por atividade econômica o extrativismo da borracha e das drogas nativas.

Antonio Rodrigues Labre, maranhense, em 1871 se instalou com seu pessoal na margem do rio Purus, no local que originou a atual cidade de Lábrea. Enquanto os colonos se dedicavam ao extrativismo vegetal, a pesca a caça, ele empreendia expedições na região, uma das quais em 1887 teve a duração de oito meses num percurso circular de 5.002 Km, iniciando-se em Lábrea no mês de fevereiro percorrendo o seguinte roteiro: Lábrea, Manaus, Santo Antonio do Alto Madeira, rio Beni, rio Madre de Dios, rio Òrton estes rios na Bolívia, rio Acre alcançado em julho de 1887, no barracão do seringal Flor do Ouro do coronel Geraldo Correia Lima. Descendo o rio Acre penetrou no rio Purus por este descendo até a sede do seu seringal, em Lábrea. Um dos objetivos de sua expedição era descobrir uma ligação fluvial navegável unindo o rio Beni ao rio Purus. Caso, existisse, evitaria a perigosa navegação do trecho encachoeirado do baixo Mamoré e do alto Madeira facilitando o escoamento da produção de exportação do oriente boliviano, assim como seu abastecimento com os artigos de importação. Labre registrou em seu relato que o Acre era o mais rico e o mais populoso afluente do rio Purus, com uma população de dez mil habitantes sem incluir os indígenas. Uma produção anual de quinhentas toneladas de borracha e seu movimento comercial de exportação e importação feita por mais de quinze navios de médios e grandes portes ligando os seus seringais à Manaus e à Belém, bem como transportando novos imigrantes para esses núcleos produtores de borracha. Essa expedição foi especial para o reconhecimento dos títulos de posse de propriedades brasileiras e o direito de 'uti-possidetis post facto' e a manutenção do 'status quo', pela Bolívia quando firmado o Tratado de Petrópolis em 1903.

Exploração do rio Juruá

O rio Juruá teve sua penetração iniciada em 1847 pelos comerciantes droguistas do sertão os quais exerciam o comércio de escambo trocando com os índios artigos manufaturados por especiarias, as drogas coletadas e extraída na selva. Porém estes não permitiam a fixação de colonos no Vale do Juruá.

O presidente da província do Amazonas João Batista Tenreiro Aranha, em 1852 ordenou a primeira expedição oficial ao rio Juruá, designado para chefiá-la o pratico Romão José de Oliveira. Este subiu o rio até um local conhecido por Mineroá na margem do seu médio curso daí retornando. João da Cunha Correia considerado o desbravador de Juruá, nomeado diretor dos índios em 1854, pelo Presidente da província do Amazonas João Pedro Dias Vieira, neste mesmo ano subiu o rio Juruá até alcançar Juruá-Mirim, daí penetrou no rio Tarauacá, deste se passou para o rio Envira, deixando-o prosseguiu por terra alcançando a margem esquerda do rio Purus, percorrendo cursos d'água e florestas até então desconhecidas. Além desses desbravadores, entre tantos outros, destacam-se Francisco Manoel da Cruz Flores, Nicolau José de Oliveira os quais liderando os seus comandados enfrentando a resistência de indígenas hostis, assentaram seus seringais. Pelo caminho por eles aberto, seguia o fluxo migratório se estabeleceu nas margens do Juruá e de sua foz em direção a sua nascente, em provisórias barracas de palha, com passar do tempo substituídas pelos barracões, construções mais sólidas sedes administrativas e empórios comerciais dos núcleos populacionais de borracha e drogas nativas.

Os colonizadores em 1894 alcançaram o rio Breu. Francisco F. de Carvalho em 1870 fundou seringais em Riozinho da Liberdade, Antonio Petrônio Albuquerque, Miguel Fernandes e João Busson estabeleceram-se em seringais no rio Taruacá em 1877. Antonio Marques de Menezes em 1883, assentou seringal na foz do rio MU. Os pioneiros João Dourado e Balduino de Oliveira estabeleceram-se em seringais do alto Juruá além das desconhecidas e desabitadas fronteiras peruanas. Os vapores das empresas fluviais de navegação Melo & Cia. E Antonio Cruz & Cia. Faziam a ligação desses núcleos produtores com Manaus e Belém. Ao findar o século XIX a bacia do Juruá estava ocupada por uma população totalmente brasileira.

Rio Aquiri ou Acre

O rio Aquiri ou Acre afluente do rio Purus teve sua ocupação iniciada por João Gabriel Carvalho e Melo, o qual chefiando uma expedição composta por famílias nordestinas fundou em 3 de abril de 1877 um pouco acima da foz rio Acre o seringal Anajás, o primeiro estabelecido nesse rio. Seguiram-se as fundações de outros seringais, o Boca do Acre do Coronel Alexandre Oliveira Lima; Silêncio e Desterro em 1880, do Coronel Caetano Monteiro da Silva; Empresa (originou a cidade de Rio Branco/Acre), do coronel Neutel Maia. Iracema, em 1892, de Raimundo Vieira Lima. O rio Iaco foi explorado e colonizado pelo Coronel Hermínio Rodrigues Pessoa.

Essa atividade de exploração da floresta transformando-a em fonte produtora de riqueza econômica do mercantilismo, tinha como base de apoio Manaus e Belém fornecedores dos recursos financeiros, dos implementos, dos víveres e dos artigos necessários à produção de borracha e à vida nos seringais, transportados pelos navios a vapor elemento primordial ao desenvolvimento comercial e social e para absorção deste grande espaço pelo fluxo migratório. Assim, o Acre que por direito era boliviano, porém de fato, pelas circunstanciais fisiográficas, sociológicas e as de caráter antropológico, as de adaptação do nordestino a um meio físico de natureza totalmente diversa do de sua origem, o sertão deserto da seca, para habilitar trabalhar e produzir na selva equatorial, deserto das águas, era brasileiro.

O nordestino principalmente o cearense, sem dispor de recursos técnicos, desprovido de todos os meios modernos de trabalho, superou os obstáculos naturais impostos pela natureza e os humanos, o regime de trabalho imposto pelo pelos patrões e a hostilidade dos indígenas, transformou o Acre, de fronteira vazia em uma frente pioneira geradora de riquezas, bens econômicos e sociais, contribuindo para a geração de divisas e para que o homem da Amazônia detivesse a maior renda per capita do país.

Encontros e Desencontros Políticos – Diplomáticos e Reações dos Acreanos

A prosperidade econômica alcançada pelas comunidades brasileiras dos vales dos rios – Acre, Iaco, alto Purus e Juruá, em decorrência da alta cotação para borracha do mercado internacional, atrativo à novas levas de migrantes e a expansão de seringais em terras bolivianas, começou a causar apreensão na Bolívia e despertar o seu interesse por um espaço geográfico o compreendido entre o rio Madeira e o rio Javaria, ate então por essa desconhecido, relegado ao abandono. Não havendo nenhuma iniciativa oficial ou privada, no sentido de promover a sua efetiva ocupação demográfica e fomentadora de atividades econômicas e de seu progresso. É iniciada em 1894, uma campanhia contra o abandono do Acre e sua ocupação por brasileiros, exigindo do governo a tomada de medidas acauteladoras em prol da integridade do território boliviano e do respeito a soberania da Bolívia. 

Protagonistas 

O major-general Dom José Manuel Pando, após sua estada em Santo Antonio do Alto Madeira e no Acre, em 1894, neste ultimo foi hóspede do coronel Neutel Maia e do coronel Felício Maciel, respectivamente proprietários dos seringais Empresa e Entre Rios, apresentou um minucioso relatório ao presidente da Bolívia sobre o qual constatou, ressaltando o perigo que representava para o país a ocupação do alto Purus , Acre e Iaco, por povoadores exclusivamente brasileiros. Aniceto Arce Presidente da Bolívia, mediante esse relatório adotava medidas políticas e diplomáticas, visando a tomada de posse dos citados territórios ate então remotos e desconhecidos dos bolivianos. Instruiu o seu ministro Frederico Diez, no Rio de Janeiro para providenciar junto ao governo brasileiro a retomada da demarcação dos limites da área compreendida entre os rios Madeira e Javarí paralisada a dezesseis anos. Nomeando em 1894 o major-general Pando para o cargo de Comissário da  Comissão demarcadora. O ministro Frederico Diez em suas insistentes apelações, conseguiu em 19 de fevereiro de 1895, assinar com o Ministro do Exterior do Brasil, Carlos Carvalho, um Protocolo determinando a complementação da demarcação dos limites do Brasil e da Bolívia no espaço compreendido entre os rios Madeira e Javarí. O Delegado Nacional da Bolívia, Dom Juan Francisco Velarde foi incumbido de instalar uma aduana no Acre. Com essa missão chegou a Manaus em 11 de junho de 1898, mantendo entendimento como governo do estado do Amazonas José Cardoso Ramalho Junior quanto sua concordância e apoio, esse alegando não haver recebido do governo federal nenhuma instrução a respeito do assunto, se negava a permitir a instalação do posto alfandegário pretendido. Mediante essa recusa Velverde regressou à Bolívia. O major Benigno Gamarra do exército boliviano, em 12 de setembro de 1898, acompanhado por trinta soldados chegou à vila de Xapurí/Acre, com a incumbência de prestar apoio a Dom Juan Velarde no estabelecimento e funcionamento da aduana, bem como instalar uma Delegação Nacional para tomar posse dos territórios pertencentes à Bolívia, cientificando por ofício, os fins de sua missão ao Coronel da Guarda Nacional Manuel Felício Maciel, Sub-prefeito de Segurança no Alto-Acre brasileiro. O embaixador da Bolívia no Rio de Janeiro, Dom José Paravicini propunha em 1898, ao seu governo, a imediata integração do Acre à Bolívia por via diplomática e se necessário pela força. Empenhava-se junto ao Ministro do Exterior do Brasil Dionísio de Cerqueira a sua concordância na instalação de um posto aduaneiro. Após muita delonga o ministro aquiesceu, comunicando a sua decisão ao governador Ramalho Junior do estado do Amazonas,  observando que a aduana deveria ser instalada no rio Acre alem da linha de limite Brasil/Bolívia, o Ministro Paravicini organizou sua expedição fretando em Belém/PA o navio Rio Tapajós seguindo para o Acre, aonde chegou na noite de 30 de dezembro de 1898, aportando na vila de Floriano Peixoto no rio Purus, sede do governo municipal do estado do Amazonas no Alto Purus, Acre e Iaco, estacionando por pouco tempo, seguindo em frente penetrando no rio Acre, subindo este até defronte a Barraca  Pombal, um pouco acima do seringal  Caquetá. Ancorando o Rio Tapajós, foram desembarcados os expedicionários e o carregamento de materiais, equipamentos e víveres, ficando o navio como sede provisória da aduana. Foi feito o desmatamento da área escolhida e dado inicio as construções das instalações administrativas, dos armazéns, do cais do porto e casas de morada dos funcionários e trabalhadores, sendo o povoado aduaneiro denominado Puerto Alonso. No dia 03 de janeiro de 1899, Paravicini solenemente tomava posse das terras do Alto Purus, Acre, Iaco e Alto Juruá em nome da Bolívia, registrando o ato em escrita lavrando em ata. Hasteava o pavilhão boliviano pela primeira vez, na margem do rio Acre. Foi intimado pelos brasileiros para no prazo de quatro horas se retirar do Acre, a essa intimação escrita respondeu verbalmente, aos emissários, que na qualidade de ministro Plenipotenciário só se entendia de potencia à potencia. Esses retornaram à vila Floriano Peixoto. Paravicini permaneceu no Acre no período de 30 de dezembro de 1898 a 23 de abril de 1899, instalando a aduana, implantando um forte regime político-administrativo estabelecendo regras corretivas fiscais, comerciais, policiais, de produção e relacionamento patrão/empregado. Em 23 de abril passou à administração para cônsul Dom Moises Santivanez, retornando ao Rio de Janeiro. Em passagem por Belém/PA, manteve confabulação com os cônsules Luiz Truco da Bolívia e Kennedy dos Estados Unidos da América do Norte, com vista a ser firmado um acordo entre os Estados Unidos e Bolívia, pelo qual o primeiro apoiaria a segunda a manter a posse dos territórios do Acre, Alto Purus e Iaco, forçaria o Brasil a reconhecer os limites estabelecidos pelo Tratado de 1867, e em caso de guerra entre o Brasil e Bolívia, forneceria a essa numerário e material bélico. A segunda concederia 50% de abatimentos sobre o direito de importação em todas mercadorias norte-americanas e 25% sobre os direitos de exportação de borracha para os Estados Unidos pelo prazo de dez anos. Concederia em livre posse o espaço compreendido entre Boca do Acre e atual área por si ocupada. O projeto do acordo assinado pelos citados cônsules, a ser encaminhado ao presidente norte-americano Mac Kinley, foi descoberto e divulgado pela imprensa ocasionando uma avalanche de protestos e indignações em todo pais não tendo prosseguimento, sendo desmentida a sua existência por ambos secretos negociadores.

Reação Acreana - 1ª fase da Revolução Acreana

O coronel da Guarda Nacional Manuel Felício Maciel, Sub-Prefeito de Segurança no Alto Acre, intimou em novembro de 1898, o major do exercito boliviano, Benigno Gamarra a se retirar com seus soldados da Vila de Xapurí. Este por não dispor de condições de recusar a intimação, sob protestos reformulado por escrito ao Sub-Prefeito, retirou-se do Acre com seus comandados para Riberalta/Bolívia.

O Superintendente (Prefeito) do município de Floriano Peixoto Coronel Francisco Monteiro de Souza Junior, o seu Secretario José Carvalho, o Juiz do Direito José Martins de Souza Brasil, o coronel Joaquim Vitor da Silva proprietário do Seringal Bom Destino quartel general dos revolucionários, intimaram o ministro boliviano Dom José Paravacini a se retirar de Puerto Alonso e todo território do Acre, Iaco e Alto Purus. Este como ficou adiante citado, reagiu em sentido contraditório, permanecendo no Acre até 23 de abril de 1899, quando transferiu o governo para Dom Moises Santivanez. O citado grupo reunido em Floriano Peixoto decidiu enviar José Carvalho à Manaus para expor ao governador do estado do Amazonas a situação e pleitear medidas saneadoras, nada conseguindo regressou ao Acre.

José Carvalho assume a liderança da reação contra a ocupação do Acre pela Bolívia. Reuniu-se no seringal Bom Destino com os principais revoltados, sendo decidido a expulsar os bolivianos. Redigiram um oficio assinado pelo Juiz de Direito José Martins de Souza Brasil, expondo a Dom Moises Santivanez o estado de exaltação em que se encontrava o povo, contra o domínio da Bolívia, sendo a mais viável alternativa para evitar a geração de incontrolável violência, que os bolivianos se retirassem do Acre. A resposta do ministro foi uma exposição de motivos sobre os direitos de jurisdição da Bolívia naqueles territórios.

Em decorrência a atitude de Dom Móises Santivanez, foi realizada uma reunião em Caquetá sendo decidido pelos revoltosos, expulsão dos bolivianos sem demais delongas. Pela manha de 30 de abril as cinco horas saíram de Caquetá em várias canoas, e as sete horas chegaram a Porto Alonso. José Carvalho  desembarcou e solicitou ser recebido pelo Ministro, este o recebeu, sendo-lhe comunicado que a finalidade da entrevista era em nome do povo do Acre exigir que se retirasse do solo brasileiro. Após longas argumentações de parte a parte, Dom Santivanez solicitou que tal exigência fosse feito por escrito, bem como firmado do mesmo modo, o compromisso garantindo a sua retirada , de seus auxiliares e da guarnição militar com toda segurança. No dia 1o. de maio foi entregue a intimação por escrito, no dia 3 de maio os bolivianos deixaram Porto Alonso embarcando no navio Botelho rumo a Manaus e Belém. Os acreanos da Junta Revolucionaria  assumiram seu controle e o governo do Acre. No dia 24 de maio José Carvalho  acometido de beribere, gravemente enfermo viajava a Manaus. Melancolicamente encerrava-se a 1a. fase da Revolução Acreana.

2ª fase da Revolução Acreana

Entra em cena Luiz Galvez Rodrigues de Arias, cidadão espanhol, natural de Cadis, descendente de famílias nobres por parte materna e paterna. Seu pai era almirante chefe da base naval de Ferrol na Espanha. Galvez formado em direito ingressou no corpo diplomático do seu pais , servido nas embaixadas de Roma e de Buenos Aires  deixando o emprego mudou-se para o Rio de Janeiro de onde   dirigiu-se à Manaus em 1897, portando carta do Ministro da Espanha Dom José Llaveria, o recomendando ao Vice-Consul Manoel Rodrigues de Lira. Em Manaus empregou-se como redator no jornal Comércio do Amazonas  e como taquigrafo na Secretaria da Assembléia Legislativa, este segundo por indicação e nomeação do Governador do Amazonas, Eduardo Ribeiro, que o tinha como amigo. Viajou à Belém/PA a fim de conseguir autorização do Cônsul da Bolívia Dom Moisés Santivanez, para ir a Puerto Alonso no Acre, fazer uma reportagem sobre o funcionamento da aduana para o jornal Comércio do Amazonas. O cônsul não concedeu sua solicitação, porém os contatos mantidos com esse no consulado, o colocou em relacionamento com figuras representativas da vida pública do Pará e da diplomacia internacional, entre as quais o deputado federal paraense Serzadelo Correa , Dom José Paravicini Ministro Plenipotenciário da Bolívia, Guilherme Uhthoff, comandante geral da fronteira , Ladislau Ibarra, administrador da aduana, ambos em Puerto Alonso no Acre, Luiz Truco e Kennedy consuos da Bolívia  e dos Estados Unidos da América  do Norte respectivamente e Antônio Lemos jornalista, o qual o empregou no jornal Província do Pará, para este entrevistou o ministro Paravicini, com grande repercussão nacional e internacional. O que lhe facilitou conseguir emprego no consulado da Bolívia, tendo acesso ao texto do Acordo Américo-Boliviano, sobre o qual já nos referimos. Guilherme Uhthoff lhe conficou o documento para redigi-lo um texto em espanhol e outro em português  para serem entregue ao Ministro Paravicini. Ardilosamente Galvez fez cópias para si. Solicitou demissão do emprego no consulado, e diante da gravidade do acordo pretendido, altamente lesivo ao Brasil, na condição de representante da Junta Revolucionária do Acre nos estados do Amazonas e Pará, entidade organizada em 24 de fevereiro de 1899, presidida por Joaquim Domingos Carneiro, solicitou audiência ao Governador do Pará, Pais de Carvalho, cientificando-o sobre a trama em urdimento entre ao Bolivia e os Estados Unidos. Repassou cópias aos jornais dos quais era repórter, o Província do Pará e o Comércio do Amazonas. O primeiro o divulgou em 03 de junho de 1899, artigo na primeira pagina intitulado ''Caso Sensacional``. E o segundo no dia 08 do mesmo mês e ano gerando grande repercussão, protestos e indignação nacional, abortando o acordo de cedência do Acre aos Norte-Americanos pela Bolívia, cujos governos negaram a existência de tal negociação. Regressando à Manaus, propõe ao governador do Estado do Amazonas, José Cardoso Ramalho Junior, uma alternativa de solução para a questão do Acre e sua definitiva posse pelo Brasil, considerando sua relevante importância econômica, produzindo e exportando 2.000 toneladas de borracha por ano, cotada a treze mil reais o quilo, rendendo vinte e seis mil contos de reis aos cofres públicos estaduais, a qual seria ele proclamar a independência do Acre e em seguida  solicitar que fosse anexado ao Brasil. Concordando ser a proposta a mais viável solução, secretamente financiou a expedição de Galvez  ao Acre, dando-lhe quatrocentos contos de reis, armas munições e viveres. Ele ainda mais contratou empréstimo com a empresa Braga Almeida & Cia a ser pago com a borracha produzida no seringal que ia instalar no rio Acre. Em 4 de julho de 1899, partiu de Manaus com seus vinte contratados seringueiros nordestinos e espanhois, estes artistas de uma companhia de teatro que se apresentava na cidade. Embarcados no navio Cidade do Pará, chegaram ao Acre, desembarcando no seringal São Jerônimo um pouco acima de Puerto Alonso, sede de Junta Central Revolucionária do Acre. Ai se reuniu com os proprietários de seringais e comerciantes contrários ao domínio da Bolívia e decidiram proclamar no dia 14 de julho de 1899, a independência do Acre, o que ocorreu na data marcada, as 9 horas da manhã, em sessão solene em Puerto Alonso com a participação de todos os membros da Junta Revolucionaria, do povo e de Galvez representante da Junta nos estados do Amazonas e do Pará. Este em caloroso e patriótico discurso discorreu  sobre a situação vexatória e humilhante que se encontrava o povo do Acre, abandonado pelo Brasil, submetido ao domínio  estrangeiro, o da Bolívia. Concluiu sua oratória conclamando o povo dos territórios do Acre, Purus e Iaco a aceitarem a independência constituindo o Estado Independente do Acre, valoroso, forte e digno pelo patriotismo de seus filhos, poderoso pelas suas riquezas inesgotáveis que ousados estrangeiros nos querem usurpar. Por unanimidade e por aclamação foi aceita a República do Acre. Joaquim Domingos Carneiro presidente da Junta, declarou a necessidade de ser eleito o governo provisório tendo o Presidente, plenos e ilimitados poderes. Imediatamente, o povo escolheu Galvez. Este declarou aceitar o cargo comprometendo-se a formar o Governo Provisório tendo por base a liberdade e a Justiça. Encerrou-se o ato de Proclamação da Republica do Acre e posse de seu Presidente, lavrando-se em ata, 22a. da Junte Revolucionaria o registro das ocorrências. O nome da capital da República foi escolhida Cidade do Acre em substituição ao boliviano Puerto Acre. Galvez organizou o ministério e comunicou a independência do Acre ao Presidente do Brasil Campos Sales, o qual declarou a neutralidade do país, ao governador Ramalho Junior do Estado do Amazonas. O Ministério foi assim constituído.. Justiça, Ministro Coronel Hipólito Moreira, Exterior, Dr. Albino dos Santos Pereira, Fazenda, Joaquim Domingos Carneiro, Guerra, Coronel Jose Galdino de Assim Marinho, Marinha, João Francisco Xavier. Com status de ministro.. Chefia de Palácio, Coronel João Passos d`Oliveira, Secretario Geral, Professor Ezequiel Alves de Araújo Primo. Estruturou o sistema econômico e tributário, organizou as for;as aramadas e policiais, elaborou a constituição da República. Comunicou a independência do Acre aos principais países do mundo ocidental solicitando destes, o devido reconhecimento.

No Alto Acre e Purus foi organizada a Comissão Garantidora dos Direitos dos Brasileiros, sediada na vila de Xapuri  tendo como presidente o coronel Manoel Odorico de Carvalho, como vice-Presidente Gastão de Oliveira e como membros.. Coronel Augusto Maria da Rocha Neves, Jose Nogueira, Delfino Antonio Soares, Raimundo Maziarino Pereira e José Simplicio Vieira de Souza. Organização discidente da Republica do Acre, a ação conciliadora enérgica de Galvez deteve a disseção sendo dissolvida a Comissão em 11 de dezembro de 1899 por seus membros. O ex-vice-Presidente Gastão de Oliveira foi nomeado subinspetor da alfândega da Cidade do Acre.

Galvez nomeou Rodrigo de Carvalho e Diocleciano Coelho de Souza para em comissão viajarem à Manaus, Belém e ao Rio de Janeiro para exporem os verdadeiros motivos da revolução, ao presidente da Republica (Campos Sales) e o que o povo do Acre justifica em defesa de seus procedimentos revolucionários perante a República da Bolívia, também o cientificar sobre os últimos acontecimento ocorridos no Acre. Em Belém-PA conferenciarem com o vice-cônsul da Bolívia, a fim de convencê-lo a  escrever ao ministro embaixador boliviano no rio de Janeiro, expondo-lhe sobre a verdadeira situação desfavorável   à Bolívia, cuja única solução para o conflito seria a via diplomática reconhecendo o direito de posse para os acreanos sobre os territórios por eles desbravados e ocupados. Visitarem nas três capitais as redações dos jornais e exporem aos seus redatores os reais objetivos da luta sustentada no Acre em defesa dos interesses do Brasil. Missão que não foi possível executar em decorrência da deposição do presidente Galvez, pelo coronel Antonio de Souza Braga proprietário dos seringais Benfica e Riozinho. 

Alguns empresários extrativistas, comerciantes e comandantes de navios faziam oposição ao governo de Galvez, em desacordo à determinadas medidas por ele adotadas. O coronel Neutel Maia proprietário do seringal Empresa e o capitão Leite Barbosa do Seringal Humaitá, apregoavam que a independência do Acre era uma ridícula palhaçada que em breve deixaria de existir, que tropas do exército Boliviano se deslocavam por terra rumo ao Acre e navios de guerra da Marinha Brasileira Subiam o Rio Purus para restabelecerem os bolivianos na aduana da Cidade do Acre, (ex-Puerto Alonso), e o domínio desses nos territórios  do Alto Acre, Purus e Iaco. O capitão Leite Barbosa em Belém-PA, acertava com os bolivianos a venda do seu e de outros seringais com os bolivianos. O coronel Neutel em seus navio Rio Acre passou pela alfândega da Cidade do Acre sem parar para o cumprimento das formalidades legais, tendo, hasteada no mastro de popa, a bandeira da Bolívia identificando –o como nau boliviana. Em seu percurso rio acima foram distribuídos panfletos de propaganda contra a Republica do Acre. Foi descoberto que além das mercadorias de abastecimentos dos seringais, o navio transportava um carregamento de armas e munições. Galvez ordenou e seqüestro do arsenal bélico, o aprisionamento do barco como presa de guerra, por se encontrar a serviço de espionagem e a prisão de seu proprietário e de seu comandante, decidido, em julgamento de Tribunal de Justiça, a aplicação de banimento do coronel Neutel e do capitão Leite, da República do Acre. O capitão Leite encontrava-se em Belém-PA, foi julgado a revelia.

Tendo por finalidade forçar ao governo brasileiro reconhecer o direito do governo do Acre, cobrar imposto de exportação de borracha produzida em seu território, ao que se opunha, expediu um decreto sustando a expedição desse produto com destino a Manaus e a Belém, até que o Brasil mudasse de atitude em favor do Acre. Ao cumprimento desse decreto se opôs o coronel Antonio Souza Braga apoiado por outros discidentes, decidiram depor Galvez da presidência, substituindo-o por Souza Braga.

No dia 28 de dezembro de 1899, as 11 horas da manhã, reuniram-se a bordo do navio Rio Afuá aclamando Souza Braga, presidente da Republica do Acre, sendo lavrada a ata de registro do ato de aclamação e o de deposição de Galvez. O presidente aclamado nomeou Sergio Ferreira de Souza para o cargo de Secretario Geral , encarregado de redigir os atos administrativos.
 
No dia 30 de dezembro eram assinados os decretos números 1 e 2, banindo do Acre o presidente deposto e declarando livre trânsito aos navios mercantes, o comércio e a exportação de borracha, respectivamente. O coronel Luiz Barroso, no dia 01 de janeiro de 1900, em Riozinho prendeu Galvez o conduzindo a presença do coronel Souza Braga a bordo do navio  Rio Afuá. No qual encontrava-se  instalado o gabinete presidencial.  Este renunciou formalmente a presidência da republica e lançou um manifesto conclamando aos acreanos a se unirem apoiando o seu sucessor. Retirou-se escoltado por guarnição militar para o seringal Riozinho, no qual aguardaria condução o levando para fora do Acre. Por sua vez, o presidente  Souza Braga, em seu navio Rio Afua subiu o rio com destino ao seringal Soledade  aonde se encontrava preso no navio Rio Acre o coronel Neutel Maia, nele descendo o rio expulso do Acre. Souza Braga anulou sua sentença de banimento, libertando-o. Enquanto isso, em Xapuri, Augusto Maria da Rocha Neves, ex-corregedor do governo boliviano, em carta datada de 17 de janeiro de 1900, enviada a Ladislau Ibarra o comunica ter reassumido a corregedoria em 15 de janeiro e as medidas em providência a favor da Bolívia. (Carta interceptada pelos revolucionários). Souza Braga encontrava-se no seringal Bagaço sendo informado pelos passageiros do navio Cearense sobre a iminente chegada de uma comissão boliviana  chefiada por Ladislau Ibarra, conduzida pelo navio Manaus escoltado pelo aviso-de-guerra Jutai da armada brasileira, em apoio a tal comissão. Esta desacompanhada do Jutai chegou ao Acre, a integrava o capitão Leite Barbosa, nomeado comandante-geral das armas bolivianas. Quando o navio Manaus chegou a Cidade do Acre a encontrou praticamente desabitada, visto os membros do governo encontrarem-se em viagem no alto rio Acre e do povo em seus afazeres nos seringais. Os bolivianos desembarcaram e levaram para bordo do Manaus, as mercadorias, armamentos , munições, tecidos, vestuários, artigos de medicamentos e combustíveis saqueados dos armazéns e casas comerciais e residenciais. Arrombaram as malas das poucas pessoas que estavam na cidade, reembarcaram seguindo rio acima até o seringal Humaitá de propriedade do capitão Leite escolhido para sede provisória da Aduana.

Ladislau Ibarra decretou estado de sitio ficando suspensas todas as garantias constitucionais dos revolucionários acreanos aplicando-lhes e aos seus cúmplices e instigadores, as penalidades prescritas pela lei do estado de sitio na Bolívia. Porém, seriam anistiados os que abandonassem a luta armada e política, submetendo-se ao regime legal boliviano, seriam-lhes assegurados o gôzo de todas as garantias individuais dispostos na Constituição da República da Bolívia. Ibarra chefe da Delegação Nacional decidiu ocupar a Cidade do Acre, seguindo para essa acompanhado pelo capitão Leite deixando em Humaitá uma pequena guarnição com ordem de atacar o navio Rio Afuá. Este ao chegar no porto do seringal, foi cercado pelo pessoal do capitão Leite, na tentativa  de invadi-lo. O Secretário de governo  Sérgio Ferreira contornou a situação, apelando para a dignidade dos atacantes exortando eles estarem sendo ludibriados por seu patrão capitão Leite, prestando serviço a Bolívia lutando contra sua pátria e seus irmãos acreanos. Os comandados do capitão Leite aderiram aos revolucionários  embarcando no Rio Afuá. Este seguiu para a Cidade do Acre alcançando-a no dia 12 de janeiro, tendo ancorado no porto o navio Manaus no qual estava no comando das tropas o capitão Leite, essas constituíam-se de seus seringueiros fardados com uniformes do exército boliviano, desse irrompeu intensa fuzilaria respondida pelos revolucionários do Rio Afuá sob o comando dos coronéis João Pessoa de Oliveira  e Hipólito Moreira , após uns dezoito minutos de troca de tiros, os combatentes do Manaus ergueram bandeira branca sendo o navio ocupado pelos acreanos e seus defensores aprisionados. O presidente Souza Braga foi pessoalmente prender Ladislau Ibarra, os seus assessores e o capitão Leite. Este considerado réu de alta traição, foi condenado a dez anos de prisão e seus bens confiscados. Os membros da Comissão Boliviana ficaram detidos. Esta vitória consolidou Souza Braga no governo. Porém seus atos perdoando o capitão Leite e concedendo liberdade aos comissionados bolivianos, os quais imediatamente viajaram para Manaus, causaram contestações e descontentamentos dos revolucionários e do povo em geral. Souza Braga alegando motivos de tratamento de saúde fora do Acre, renunciou a presidência repassando o governo  a uma junta governativa, essa mandou chamar Galvez em Riozinho para reassumir  a presidência , a qual lhe transmitiram, dando-lhe posse em 30 de janeiro de 1900.

No dia 09 de fevereiro de 1900, chegou na Cidade do Acre o vaso de guerra Jutai  da flotilha amazônica conduzindo o vice-cônsul Raimundo Ferreira do Vale, para exercício nessa cidade, foi gentilmente recebido por Galvez. Nesta ocasião chegou o vapor Rio Tapajós, o cônsul dirigiu-se a esse para vistoriar, constatando o seu desembaraço por intermédio de documentos da republica do Acre, o que considerou procedimento ilegal, visto ter como sua atribuição tal ato, na condição de cônsul do Brasil junto a Bolívia. Galvez contestou expondo ao cônsul, que ele se encontrava em território da República do Acre e não da Bolívia, assim sendo, competia ao governo do Acre a exercer os seus direitos alfandegários, os quais só poderiam ser impedidos pela Bolívia se para tanto tivesse condições.  O cônsul Raimundo Ferreira do Vale resolveu retirar-se da Cidade do Acre, reembarcando no Jutai no dia 10 de janeiro, descendo o rio Acre até a localidade de Antimaria e aguardar a chegada das forças da marinha de guerra brasileira.

Enquanto isso, na Bolívia, o general Pando assumia a presidência da republica tendo como prioridade solucionar a questão do Acre, para tanto invadiria o estado do Mato Grosso se apossando de suas aduanas, forçando o governo brasileiro a negociar e por fim no conflito acreano.  O Dr. Guachalla ex-ministro do Exterior propunha ao general Pando celebrar um acordo de intervenção dos norte-americanos no Acre, em troca de concessões territoriais. O ministro brasileiro na Bolívia, Eduardo Lisboa, em carta confidencial, em 21 de março de 1900 cientificou ao chanceler Olinto de Magalhães sobre o que se tramava contra o Brasil. 
 
Em Manaus o governador do estado, Ramalho Junior, em atenção as recomendações do presidente da republica, Campos Sales , no dia 19 de fevereiro de 1900, reuniu-se com seu secretariado e as principais autoridades federais sediadas na cidade , o presidente do Congresso Estadual, senadores, deputados e o comandante da flotilha amazônica de guerra, tenente Armando Burlamaqui, para acertar medidas inclusive repressivas, a fim de cessar em definitivo o  conflito no Acre deixando-o livre ao domínio da Bolívia. Tais medidas entre outras consistia na ida de uma flotilha de guerra da armada brasileira para debelar a revolução e empossar o cônsul representante do Brasil junto a Bolívia. 

A convocação das autoridades para essa reunião no palácio do governo tinha por objetivo discutir os detalhes das medidas a serem tomadas, em especial da expedição militar. Ramalho Junior fez minuciosa exposição, ao fim da qual o tenente Bularmaqui se pronunciou ressaltando que o fazia não como militar, visto que, como tal cumpria ordem. Assim o expunha como simples cidadão, sua impressão sobre o que julgava ser a melhor decisão para interesse do estado do Amazonas como para o Brasil. Que o seu sentimento de brasileiro, e de que a revolução acreana é um ato patriótico, portanto, não se deveria combater os revolucionários, mas buscar a fórmula que permita ao Brasil conciliar seus compromissos diplomáticos com os interesses do povo acreano, considerando os elevados sentimentos que guiam a revolução que sustentam  contra a Bolívia, sendo o mais aconselhável que o governo do Amazonas tome a iniciativa de encontrar uma fórmula conciliatória com os revolucionários. Porquanto, na condição de militar mandado com forças só lhe restava obedecer, empregar a força para debelar a revolução, declarando que tudo faria ao seu alcance para evitar que o Acre se tornasse para a marinha, o que Canudos foi para o exército. As ponderações do tenente Bularmaqui foram ouvidas em silêncio e com máxima atenção. Concluídas, o governador Ramalho Junior declarou estar de pleno acordo com o pensamento do tenente e ser esse o seu propósito e o do presidente da republica com o qual se havia entendido quanto nomear um delegado do estado do Amazonas para se entender com os revolucionários em busca de uma pacifica solução para o conflito. Não houve divergências de opiniões, ficando deliberado que a flotilha constituídas pelos avisos-de-guerra Juruena, Tefé e Tocantins e o navio mercante Belém, este conduzindo cem soldados e doze oficiais, seguiriam para o Acre em missão pacificadora. A flotilha saiu de Manaus as 14 horas do dia 24 de fevereiro de 1900, ao passarem pela vila de Floriano Peixoto (ex-Antimaria), encontraram o aviso de guerra Jutai, juntando-se a esse a flotilha, seguiram para o Porto Central aonde estacionaram no dia 10 e março. O comandante em chefe capitão José Ramos Fonseca promoveu uma reunião exclusivamente militar para ser definido o plano final de ação da expedição. Mais uma vez o tenente Bularmaqui externou a sua opinião de que não deveriam empregar a força das armas contra brasileiros que lutavam pela incorporação do Acre ao Brasil. Foi unanimente aprovado sua forma de pensar. O comandante Ramos, o tenente Bularmaqui, o cônsul Eduardo Otaviano e o delegado do Estado do Amazonas Lupo Neto embarcaram no aviso-de-guerra Tocantins seguindo para a Cidade do Acre na qual  chegaram na manhã seguinte, dia 12 de março. No porto um oficial da Guarda Patriótica cumprimentou o comandante do navio, indagando sobre o objetivo de sua vinda ao Acre. O tenente Bularmaqui explicou ter vindo entender-se com o presidente Luiz Galvez solicitando-o que o levasse a sua presença. Seguiram para o palácio, no patamar do qual se encontrava Galvez com os membros de seu gabinete e alguns chefes revolucionários. Após as apresentações protocolares, Galvez convidou o tenente para acompanhá-lo a sala de jantar sendo-lhes servida ligeira refeição, este comunicou-lhe que era o comandante  do navio de guerra ancorado no porto no qual se encontrava as autoridades incumbidas pelo governo federal de porem fim na revolução. Galvez iniciou uma exposição interrompida pelo tenente, solicitando-lhe que a fizesse ao comandante da expedição. Em seguida dirigiram-se para o navio Tocantins, o tenente Bularmaqui apresentou-o ao capitão-de-corveta José Ramos da Fonseca, ao cônsul e ao delegado do Estado do Amazonas. Trocados os cumprimentos o capitão Fonseca expôs ter vindo de Manaus no comando de três navios de guerra e um navio mercante, este conduzindo tropas, para em nome do governo federal empossar o cônsul doutor Eduardo Otaviano, garantir o direito dos brasileiros livremente navegarem e comerciarem no Acre, bem como conclamá-lo a por termo ao conflito armado em uma região em litígio. Galvez expôs os objetivos da revolução, salientou que obedeceria a intimação do governo federal mediante as garantias do acatamento e garantia do cumprimento dos ítens do acordo a ser firmado assegurando total anistia e indenização ao grande número de brasileiros envolvidos na revolução do qual ele era o chefe único responsável. Ressaltou que todos eles haviam abandonado os trabalhos e empreendimentos, fizeram alguns até sacrifícios monetários pata atender ao ideal de um Acre livre, porque seus habitantes queriam ser brasileiros e o Brasil não os devia obrigar a reconhecerem outra pátria. Que não era possível ignorar a sorte desses abnegados companheiros que agora entregam as armas, munições e mercadorias num patrimônio constituído em meio das maiores dificuldades acarretando despesas extraordinárias. O comandante Ramos Fonseca em resposta, ponderou que a presença do cônsul Eduardo Otaviano era uma sólida garantia para a proteção dos interesses dos cidadãos brasileiros. Lupo Neto se manifestou declarando estar autorizado a se entender com ele, a fim de assisti-lo nas despesas decorrentes de sua saída do país. Luiz Galvez refutou que a garantia em causa, era de ressarcimento financeiro aos seus companheiros de revolução, firmado em documento formal. Finda a reunião Galvez foi relatar aos seus ministros e assessores diretos, os detalhes da entrevista e posição por ele assumida, solicitando a cada um que se pronunciasse sobre a mesma. Todos aprovaram a sua deliberação. Galvez fez questão de cientificar e ouvir a respeito a opinião do coronel Joaquim Domingos Carneiro ex-presidente da Junta Revolucionaria e ministro da fazenda de seu governo que se encontrava no seringal Bom Destino, para este seguindo acompanhado pelo tenente Bularmaqui embarcados no navio Tocantins. O coronel Domingos Carneiro cientificado da ocorrência aprovou a atitude de Galvez. Retornaram a Cidade do Acre no dia 14 e no seguinte 15 de março de 1900, foram estabelecidas as condições de rendição e o repasse de quatrocentos e quarenta contos de reis, destinados a indenização dos revolucionários e custear os compromissos financeiros do Estado Independente do Acre e mais a aquiescência de Galvez deixar imediatamente o Brasil. Foi lavrada uma ata constando o fim da Republica do Acre, os compromissos  assumidos pelos revolucionários e pelos governos federal e do estado do Amazonas, as garantias individuais e de manutenção da posse de seus bens e propriedades, garantias de ficarem livres de quaisquer atos de injustiça e perseguição por parte das autoridades bolivianas. No dia seguinte (16 de março), o tenente Bularmaqui seguiu para Manaus a fim de cientificar o governador Ramalho Junior sobre o ocorrido no estado do Acre e o fim pacífico da revolução, obter sua aprovação e a liberação dos quatrocentos e quarenta contos de reis a serem repassados aos revolucionários. Galvez transferiu o governo e a posse da cidade do Acre, das armas munições e viveres aos interventores. Dia 21 de março o tenente Bularmaqui chegou em Manaus  e imediatamente  foi recebido pelo governador relatando-lhes as ocorrências e entregando-lhe as cartas remetidas pelo comandante da expedição  pelo cônsul e pelo delegado do estado do Amazonas. Enquanto isso no dia 23 de Março no seringal Caquetá os ex-ministros, e ex-assessores do presidente Galvez e os chefes revolucionários redigiram um documento por todos eles assinado, ratificando as decisões e acordos assumidos por Galvez com os interventores dos governos federal e estadual, extinguindo a República do Acre e cessando o estado de beligerância. No dia 1º de abril o tenente Bularmaqui retornou a Cidade do Acre trazendo a concordata do Governador e o dinheiro no valor acordado. Em vista do cônsul Eduardo se recusar a permanecer no Acre, decidindo retornar a Manaus no regresso da flotilha, foi nomeado o coronel Joaquim Domingos Carneiro ex-ministro da fazenda da extinta Republica do Acre, para substituí-lo na condição de vice-cônsul. Galvez retirou-se do Acre retornando a Espanha, hospedando-se no percurso em Belém e Recife. 

Encerrava-se a terceira fase da Revolução Acreana, com o manifesto da rendição e do adeus de Galvez aos companheiros e ao povo em geral, que com ele se uniram para criarem o Estado Livre do Acre. Porém foi mantido aceso a chama da revolução, constituindo-se um governo revolucionário chefiado pelo coronel Joaquim Vitor, Paralelo a esses acontecimentos, o ministro do exterior Olinto de Magalhães sigilosamente mantinha entendimentos com o plenipotenciário da Bolívia no Brasil, Salinas Veiga visando a assinatura de um tratado de aquisição territorial, a fim de possibilitar ao governo federal amparar sob a égide da legalidade milhares de brasileiros estabelecidos no Acre.

Assim sendo a intervenção da armada brasileira financiada pelo governo do estado do Amazonas, no conflito do Acre extinguindo a revolução, foi inoportuna prejudicando o encaminhamento das negociações das chancelarias. Era de interesse político do governo brasileiro que os acreanos se mantivessem em guerra, pois pacificados a Bolívia se desinteressaria de concluir o acordo de venda dos territórios ocupados pelos revolucionários ao Brasil, o que realmente ocorreu. O ministro Olimpio Olinto de Magalhães, das Relações Exteriores afirmou que a intervenção da Marinha foi um lamentável e prejudicial desserviço a causa dos interesses nacionais.   

A Bolívia procura outras vias para exercer seu domínio no Acre, tais como.. a compra de seringais de proprietários brasileiros  intermediada pelo seu aliado capitão Leite Barbosa, a negociação com capitalistas europeus no sentido de organizarem empresas (sindicatos) destinadas a explorarem os seringais do Acre, entabuladas pelo ministro Felix Aramayo, negociação com a sociedade Alberto Moreira Junior e comendador Joaquim Arsênio Cintra de arrendamento da Alfândega de Puerto Alonso, acordado com o ministro Dom Salinas Veiga, contrato firmado em 12 de março de 1900, estipulando.. 33% da renda bruta da alfândega destinada à Sociedade; direito à Sociedade de construir ferrovias ligando rio Acre e Riberalta no rio Beni, desta prosseguindo para Reys, Santana e Cochabamba concedendo-lhe o prazo de 25 anos para explorá-la economicamente; concessão de terras devolutas numa extensão de 10 km do leito da ferrovia. Porem para a efetivação do contrato era exigido a comprovação da imediata pacificação dos revolucionários acreanos.

Alberto Moreira viajou à Belém para organizar a expedição ao Acre, enviando a este, Egídio Jorge Simas para contatar com os chefes revolucionários e deles obter a imprescindível comprovação da pacificação. Simas ardilosamente conseguiu ludibriar o coronel Joaquim Victor, Vice-governador dos acreanos, convecendo-o e a seus companheiros assinarem uma ata declarando fim da revolução acreana. Porém havia um sério problema a superar, no Acre não havia nenhuma autoridade que autenticasse ata e testemunhasse a pacificação, sem o que a invalidava. Simas solicitou do cônsul brasileiro que reconhecesse as firmas constantes na ata e lhe expedisse uma declaração autenticada, comprovando sua estada em Puerto Alonso nas condições de procurador do senhor Alberto Moreira Junior, sendo-lhes concedidos. Mas só essas não atendiam as exigências do acordo. Em fins do mês de junho de 1900, Moreira Junior acompanhado por Rogério Guanabara, Joaquim Cintra e o jornalista Frederico Rhonssard chegaram a Puerto Alonso. Moreira Junior despachou Guanabara à Mercedes no rio Ortón, para se apresentar a Dom André Muñoz o novo Delegado Nacional da Bolívia nos territórios do Purus, Acre e Iaco, dando-lhe ciência do contrato firmado com o cônsul boliviano no Rio de Janeiro e a ata atestando a pacificação dos acreanos, solicitando sua autenticação por aquela autoridade. A viagem pela floresta plena de riscos foi realizada em curto espaço de tempo. Guanabara no dia 17 de julho se apresentou a Dom Muñoz, sendo preso por ser considerado suspeito de espionagem, assim permaneceu ate o dia 8 de agosto quando o Delegado resolveu aceitar suas credenciais de emissário do consórcio Cintra/Moreira, reunindo-se com Guanabara discutindo os meios de ser pacificamente acolhido pelos acreanos. Concedeu-lhe um salvo conduto apresentando-o aos comandantes militares dos destacamentos ao longo do percurso. Dom Muñoz com sua comitiva chegou  no dia 22 de agosto no seringal Capatará na margem do rio Acre, seguindo para o seringal Riozinho no qual lhe esperava Alberto Moreira e seu grupo. Após o almoço de confraternização com a participação dos lideres revolucionários, Muñoz acompanhado por Moreira seguiram para Puerto Alonso. Este entregou ao Delegado a cidade pacificada, seus acervos documentais e bens materiais sob inventário assinado. Muñoz passou-lhe o competente recibo. Porém não deu posse a Moreira no cargo de concessionário das rendas alfandegárias de Puerto Alonso de conformidade com o acordo, assinado no Rio de Janeiro. Esse aborrecido escreveu ao Ministro Salinas informando-lhe que não tendo mais nada o que fazer no Acre, havia viajado à Manaus seguindo para o Rio de Janeiro, aonde chegou a 12 de novembro, nessa missiva comunicava a atitude do Delegado Muñoz e as providencias que seriam tomadas. Em seguida encaminhou queixa ao presidente da corte suprema da Republica da Argentina fórum especial eleito para dirimir as possíveis pendências resultantes da execução  do contrato. A empresa executante alegava inadimplência da parte do governo boliviano por não haver permitido entrar na posse da alfândega do Acre, exigindo o pagamento da multa contratual de cento e cinqüenta mil libras. Em vista do governo da Bolívia não ter sancionado o contrato, o processo foi arquivado, malogrando-se as aspirações dos lucros milionários do consórcio Cintra/Moreira.

Fonte: ABNAEL MACHADO DE LIMA

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