Sábado, 8 de dezembro de 2007 - 15h32
A tão aguarda licitação para esta obra será realizada no dia 11 de dezembro
Minéia Capistrano*
A notícia de reparo no Forte Príncipe da Beira é animadora como uma noite de chuva após um dia ensolarado: depois de 225 anos, o monumento histórico pode receber uma obra de manutenção já no início de 2008. Segundo o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a licitação da obra será realizada no dia 11 de dezembro, com participação aberta de empresas interessadas e que atendam ao perfil de não descaracterizar a fortaleza.
O valor gasto no empreendimento parece pouco para quem aguardou tanto tempo por cuidados, mas soa como um bom sinal. “O projeto prevê R$ 300 mil, que serão usados numa obra de estabilização, para evitar a ruína das paredes”, diz Beto Bertagna, superintendente do Iphan. CLIQUE E VEJA FOTOS DO FORTE PRÍNCIPE DA BEIRA.
Os engenheiros do Instituto, que visitaram o monumento, em setembro, identificaram que o Forte necessita inicialmente de contenção para prevenir a sustentação das paredes. Há séculos sem a devida recuperação, o Forte corria o risco de ruir, sensível a um dos principais problemas que deixam a fortaleza vulnerável: a ação da chuva. “O acúmulo de água terminou desgastando e roendo as paredes”, detalha Bertagna.
De acordo com ele, neste estudo preliminar os profissionais afirmaram que a situação do Forte estava complicada. “Os engenheiros encontraram paredes completamente ocas e será preciso preencher o mais rápido possível, além de ser necessário ajustar outras, já que muitas estão inclinadas”.
O estudo dos futuros responsáveis pela obra deve iniciar no mês de janeiro ou fevereiro e as obras, tão logo seja encerrado o irônico período de chuva. Os critérios para a restauração também deverão seguir um rigoroso padrão de qualidade: “O Forte é uma obra de grande mensuração e teremos muito respeito com sua originalidade. Se for preciso usar argamassa para compactar as pareces será usado, mas a recuperação terá que deixá-lo semelhante à época em que foi construído”, afiança Bertagna.
Turismo deve ser motivado a confirmar a preservação da história
De acordo com Beto Bertagna não existe nenhum projeto em tramitação, que proponha transformar o patrimônio num local exclusivamente turístico, mas lembrou que o Forte já aberto à visitação pública. “Ele está numa área militar, mas não é restrito ao público. O 6º Bis é responsável pelo acompanhamento dos visitantes”, resume.
Mesmo sem muita facilidade para chegar ao local, quem tem a oportunidade de conhecer o Real Forte Príncipe da Beira sente a sensação de vivenciar uma viagem aos castelos medievais, com direito a visita a masmorras, baluartes e até um fosso, que teve ponte elevadiça e os temidos jacarés, exatamente como a história transmite o simbolismo de poder e nobreza.
A idéia que se tem de que o Forte Príncipe da Beira foi construído para proteger a região do Guaporé e que hoje é somente um patrimônio do Exército é apagada no primeiro contato com o lugar, mágico. Rústico, o local atrai pela grandiosidade e pela riqueza de detalhes, principalmente se for considerado o tempo em que foi construído e as dificuldades que as embarcações tinham de levar mercadorias até o local. Para se ter uma idéia, uma viagem até o Mato Grosso do Sul - que fornecia parte da matéria prima - durava até três anos. O local onde o Forte foi erguido dificultava ainda mais as viagens. “Ter sido construído às margens do trecho mais pedregoso do rio Guaporé aumentava o valor militar do terreno, mas evitava qualquer aproximação”, explica o comandante da guarda, Walker Lopes Lima, 1º tenente de Infantaria, que faz o papel de uma espécie de guia turístico do Exército durante a visita de civis ao monumento.
Ele explica que para a proteção da região, outros detalhes também foram inseridos na construção do Forte, como por exemplo, o que os militares chamam de certeiro. Um enorme corredor onde todas as portas foram feitas uma de frente para a outra para evitar que o provável invasor se escondesse. “Não tinha como a pessoa fugir. Se corresse só poderia ir para a frente e com isso certamente seria alvejado”, detalha o tenente. Mas a engenhosidade arquitetônica hoje só possui um elevado valor turístico. O certeiro é um dos locais mais fotografados do Forte, que curiosamente nunca atendeu sua necessidade de construção. Ou seja, nunca entrou em combate, porque a Espanha reconheceu que as terras a Oeste do Guaporé pertenciam a Portugal e com isso o Forte deixou de ter importância bélica estratégica. Funcionou como presídio político no século XIX, mas foi desativado e abandonado logo após a proclamação da República permanecendo assim por 40 anos. Durante esse período, o monumento sofreu diversos saques tanto de brasileiros quanto de bolivianos e perdeu muito de sua característica original. “Até parte do telhado do Forte foi visto em cobertura de casas, tanto em terras brasileiras quanto em bolivianas”, narra Walker.
Difícil manutenção
O Forte Príncipe da Beira foi redescoberto em 1914 pela comissão do marechal Cândido Mariano Rondon e hoje é patrimônio do Exército, que promove toda sua manutenção. Mas cuidar do monumento histórico parece não ser das tarefas mais fáceis. Sem cobertura, o local é praticamente invadido por animais. Numa visita de cerca de uma hora e meia, um pequeno grupo de artistas que visitava o local, se deparou com um casal de corujas, uma aranha caranguejeira, pássaros de várias espécies e ninhos das temidas formigas tucandeiras. A entrada do Forte, que é a única parte que é coberta possui um odor quase insuportável de urina de morcego. “Aqui tem revoada de morcego no final da tarde”, conta o tenente Walker.
No período de chuvas, a situação complica um pouco mais: “Não adianta capinar porque a chuva aduba o mato dentro de dois dias”, explica o militar.
Por isso, ele alerta que o melhor período para fazer visita ao Forte é durante a seca, entre os meses de abril e outubro. Também momento em que o rio está baixo e despontam as pedras do Guaporé e dá para imaginar o quanto eram arriscadas as manobras naquele trecho.
Mas pelos registros da história, dificuldades nunca foram a desculpa para espantar visitantes da região, pois até hoje o acesso ao local é difícil. Mesmo aéreo, o tempo de viagem entre Porto Velho e o Forte é de uma hora e meia, mas extremamente compensador. O guardião da região do Guaporé é também o guardião da história e conhecê-lo é como fazer dela. Foi assim e é assim. E os registros deixados pelos prisioneiros da masmorra estão lá para contar a história.
Ao redor do Forte
Muita coisa acontece nas proximidades do Real Forte Príncipe da Beira onde uma pequena cidade começa a despontar. A comunidade Real Forte Príncipe possui atualmente 314 pessoas. As casas com janelas protegidas por telas justificam a necessidade de espantar os mosquitos. Na comunidade funciona a escola General Sampaio, que atende toda a demanda local. Próximo ao Forte também funciona um museu que ajuda a contar sua história. Lá os visitantes podem apreciar pedaços de espada portuguesa, garrafa de vidro de vinho português do século XIX, chaves, peças em ferro, bronze, porcelana e outros resíduos arqueológicos encontrados em 1988 no fosso dos lados esquerdo e direito do Forte.
Essa avalanche de informações atraiu, este ano, ao local, o ministro da Defesa Nelson Jobim, que veio a Rondônia conhecer o Forte Príncipe da Beira e verificar a missão do 1º pelotão de fuzileiros de selva, que conta com 74 militares.
Artistas se emocionam com grandiosidade do Forte
Cinco artistas plásticos rondonienses foram contemplados com uma viagem aérea, para conhecer o Real Forte Príncipe da Beira, resultado de uma mostra de Artes Plásticas promovida pela Base Aérea de Porto Velho. A viagem foi realizada no dia 03 de novembro e no total contou com oito integrantes.
Atraídos pelo fascínio do Forte, os artistas declararam que saíram do local mais inspirados do que nunca. “Foi como um sonho. Eu tinha ouvido falar da grandiosidade, mas não imaginava que tivesse essa dimensão”, disse o artista plástico Pedro Carlos Lira.
Para o artista plástico João Zoghbi, o momento também foi favorável para a aproximação entre os colegas de trabalho. “Foi um momento mágico, tanto de interação com os outros artistas, quanto pelo contato com o pessoal da Base, que fez uma recepção maravilhosa”, destaca. “Este Forte nos faz lembrar o quanto nossos antepassados lutaram para deixar registrada essa parte da história. Isso com certeza inspira coisa boa, por isso acho que deveria ser mais visitado pela nossa população. Não pode ficar desconhecido”, atenta.
O artista Amélio Gentil Chipola destacou a sensibilidade dos organizadores do evento e chamou a atenção de sua categoria. “Devemos valorizar mais oportunidades como a Mostra de Artes, para poder colher novos frutos relacionados ao nosso próprio trabalho”, destacou. “Esse é um marco importante para a história da arte de Rondônia”, completou.
O coronel Sérgio Roberto de Almeida, comandante da aeronave que conduziu o grupo, declarou que o resultado da Mostra produziu mais efeitos do que o que se imaginava. “Ficamos receosos com a premiação, que constava basicamente da viagem, mas a visita ao Forte fez com que todos ficassem satisfeitos, além de ter sido um excelente momento de aproximar as categorias e quebrar o estigma de que militar não gosta de arte”, sintetizou.
A Mostra de Artes da Base Aérea de Porto Velho contou com a participação de 14 artistas, que concorreram com esculturas e telas com temas relacionados à aviação. Foram premiados o primeiro e o segundo lugar de cada categoria.
História do Forte
O Real Forte Príncipe da Beira localiza-se à margem direita do rio Guaporé, no município de Costa Marques. A Fortaleza é considerada uma das maiores edificadas pela Engenharia Militar portuguesa no Brasil Colônia. "Príncipe da Beira" é o título dos primogênitos dos herdeiros dos Reis de Portugal , e assim foi batizado em homenagem ao príncipe D. José, neto de D. João V.
A pedra fundamental do Real Forte Príncipe da Beira foi lançada no dia 26 de junho de 1876. Cerca de 200 homens trabalharam em sua construção, que demorou sete anos para ficar pronta. O projeto foi idealizado pelo engenheiro Domingos Sambuceti, mas durante as obras, Sambucetti faleceu vítima de malária, sendo substituído pelo Capitão de Engenheiros Ricardo Franco de Almeida Serra.
O Forte do Príncipe da Beira é abaluartado pelo sistema Vauban. Os quatro baluartes que o compõe foram batizados com nome de santo, para dar sorte durante as batalhas. São eles Nossa Senhora da Conceição, Santa Bárbara, Santo André do Avelino e Santo Antônio de Pádua. Em cada baluarte há 14 canhoneiras. O projeto original tinha 56 canhões de bronze, mas a depredação chegou ao ponto de praticamente extinguir essas armas restando apenas um, porém o Exército já conseguiu restaurar 10, que funcionam sem fragmentos nem estilhaços em dias de festa.
Nas dependências do Forte funcionava em 1797 um Armazém Real, depósito de armas, munições, fardamentos, ferramentas, alimentos, equipamentos náuticos, e tudo o que era necessário ao uso das forças militares da Coroa ou mesmo das suas repartições civis. Também funcionava no Forte uma capela, masmorra, enfermaria e uma latrina.
O Exército também conseguiu resgatar bandeiras e outros adereços da época para preservação da história.
*Matéria publicada no Jornal Diário da Amazônia
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