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Gente de Opinião

Silvio Santos

Capitão Esron Penha de Menezes (II-II)



História Antiga - CEM
Capitão Esron Penha de Menezes (II-II)

No governo do Marques Herinques vieram pra cá, dois oficiais do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro e com pouco tempo, eles foram chamados de volta para o Rio. Foi então que o Rodolfo disse ao Marques Henrique que eu havia sido formado no Corpo de Bombeiros do Rio, mas, disse também, ao governador que não tinha certeza se eu aceitaria ser o comandante de novo. Na época eu trabalhava no Jornal "O Guaporé". Estava no Comando dos Bombeiros o Antônio Araújo Lima que não estava agradando o governador. O Marques Herinques mandou me chamar como jornalista, alegando que gostaria que eu o entrevistasse para O Guaporé. A entrevista exclusiva seria em seu gabinete. Quando cheguei lá, ele não tocou em Bombeiro. Começou me perguntando, "você sabe de que cor são as letras da bandeira brasileira"? Respondi, são verdes! Pouca gente sabe disso. Depois ele chamou a dona Conceição Teixeira e disse. Traga aquele Decreto que assinei hoje de manhã e então me disse: Capitão, lamento, mas, eu já lhe nomeei Comandante do Corpo de Bombeiros de Rondônia. Argumentei, Coronel fazem 17 anos que deixei de atuar como bombeiro e aquilo muda todo tempo, eu não estou em condições de assumir o comando do Corpo de Bombeiros. Ele disse, vamos fazer o seguinte, você vai passar 15 dias no Rio fazendo uma reciclagem, fui fiz uma reciclagem meia boca, já que 15 dias, era muito pouco tempo, voltei pra cá e assumir o Comando, primeiro no prédio onde funcionou a Câmara de Vereadores e depois no quartel da Olaria. Ele mesmo me demitiu e eu fiquei muito chateado. Acontece que ele nomeou o Dr. Carbone que era delegado da Federal como secretário de segurança de Rondônia. Aí o Cezar Zoghbi, Odacir Soares e outros, foram falar com o Carbone que ele não podia me demitir porque não tinha ninguém aqui, qualificado para o cargo. Ele garantiu que não iria me demitir. Foi só eles saírem da sala e ele me demitiu e o governador acatou. Ele me demitiu porque queria dar uma gratificação ao Coronel Ferro. Essa história começou quando ele prendeu um jeep e um dia chegou comigo e perguntou se eu queria comprar aquele carro para o Corpo de Bombeiros, depois dos trâmites legais o governador Marques Henriques mandou ele me entregar o jeep, aí ele disse que queria que o jeep ficasse pra ele, por isso ele ficou danado comigo e me demitiu. Capitão Esron Penha de Menezes (II-II) - Gente de Opinião

Essa e outras histórias que você vai conhecer nessa entrevista, fazem parte de parte da história vivida e presenciada pelo Capitão Esron Penha de Menezes que aos 93 anos de idade passa o dia jogando paciência e "matando" palavras cruzadas em sua residência do bairro Caiari. "Fico muito feliz quando alguém vem conversar comigo aqui em casa". Com vocês o Capitão Esron Menezes – CEM.


E N T R E V I S T A


Zk – Eu entrevistei o professor Abnael Machado de Lima e ele declarou que seu pai, juntamente com o pai dele, cansou de tomar café na choupana do Velho Pimentel. É verdade?

Capitão Esron – Eu acredito, pelas pesquisas que nós fizemos quando começou a Guarda Territorial ali na Arigolândia e justamente onde hoje está o barracão da escola de samba Pobres do Caiari, existia um curre (abatedouro de gado) e tinha muita cabeça de boi jogada no barranco. Descendo por ali, achamos um bananal e restos de uma palhoça. Ali, diziam, morou esse Velho Pimentel.


Zk - E seu pai?

Capitão Esron – Meu pai nunca se deu com essa gente, ele apesar de ser seringalista, viveu todo tempo em Porto Velho, ele foi comerciante em Santo Antônio, depois foi delegado de polícia e vice prefeito aqui em Porto Velho.


Zk – Vice prefeito?

Capitão Esron – O negócio é o seguinte, é preciso que lhe conte. O primeiro prefeito de Porto Velho foi o major Guapindáia de Souza Brejense que foi nomeado pelo governador do Amazonas Jonathas Pedrosa. O segundo, foi o Dr. Tanajura que foi eleito, naquele tempo o período de governo era de três anos; Depois do Tanajura, o terceiro prefeito de Porto Velho foi o padre Raimundo Oliveira. Meu pai foi eleito Intendente (vereador), na mesma eleição que elegeu o padre Raimundo e como ele era o mais velho, foi nomeado presidente do Conselho (Câmara de Vereadores), como presidente do Conselho aconteceu o seguinte, o padre andou em desavença com a direção Madeira Mamoré por causa de religião, o padre era católico e os americanos protestantes. A Empresa Madeira Mamoré fornecia água, luz, casa e gelo as autoridades do município e luz e água também para o comercio. A cidade ia até onde hoje fica a Praça Jonathas Pedrosa dali pra frente não tinha mais nada. Quando aconteceu a encrenca, o povo se reuniu, chamou meu pai e pediu que ele intercedesse junto à diretoria da Madeira Mamoré no sentido de resolver o problema. Acontece que um genro do meu pai era funcionário da Madeira Mamoré Guilherme Acelino de Almeida, que foi marido de Amália minha irmã e através dele, meu pai se dava muito bem com os americanos. Bom, os americanos só aceitavam voltar a fornecer luz, água e gelo, caso meu pai assumisse a prefeitura. Foi então que o papai convenceu o padre Raimundo Oliveira a se licenciar por dois meses e assumiu a prefeitura. Quando o padre voltou, eles cortaram tudo de novo. Esses benefícios só voltaram, quando o Tanajura assumiu o seu segundo mandato.


Zk – O senhor tem uma explicação para a falta de consideração do povo de Rondônia para com os seus pioneiros ou com os governantes que fizeram alguma coisa pela nossa terra. Aluízio Ferreira criou o Território e foi embora desgostoso, tanto que morreu e não voltou aqui; Jorge Teixeira de Oliveira foi a mesma coisa; Jerônimo Santana está no ostracismo, Paulo Leal nem se fala. Tem explicação para isso?

Capitão Esron – O negócio é essa política. Se você não sabe, sou amigo do Jerônimo apesar de nunca ter voltado nele e ele sabe disso. Soube agora e fiquei intrigado, que ele está numa cadeira de rodas, aquela mulher que ele arranjou já não está mais com ele.


Zk – Como o senhor conheceu o Jerônimo Santana?

Capitão Esron – No tempo da construção da BR-29 (hoje 364), fui chefe do escritório da construtora CIB em Porto Velho e tinha um acampamento em Riozinho. Certa vez eu estava no Riozinho fazendo o pagamento do pessoal e chegou um caminhão que vinha do Rio de Janeiro com peças e gêneros alimentícios para Porto Velho e quebrou justamente a caixa de marcha no nosso acampamento. Na hora do almoço o chefe da oficina chegou comigo e disse: "Capitão tem aí um advogado que não tem onde ficar". - Arranja um lugar pra ele dormir, leva pra almoçar no restaurante da empresa, enfim, providenciamos toda a assistência aquele advogado que depois fiquei sabendo seu nome, Jerônimo Garcia de Santana. Dois dias depois, o Doutor Julio engenheiro chefe da empresa CIB chegou e meu deu a maior esculhambação. Ele não queria ninguém de fora dormindo no acampamento.


Zk – O senhor chegou a perguntar ao Jerônimo o que ele vinha fazer em Porto Velho?

Capitão Esron – Ele trazia uma porção de revolveres pra vender no garimpo. O tempo passou e quando vi, ele já era candidato a deputado federal.


Zk – O filho do seu Dionísio Xavier o Zola, há alguns meses está entrevistando as vítimas e algumas pessoas que conhecem pormenores sobre o que ficou conhecido como "Crime da Caçamba", que ocorreu durante a campanha política que elegeu o Dr. Renato Medeiros deputado federal. O que o senhor sabe a respeito desse assunto?

Capitão Esron – Ele já esteve comigo! Eu não vi, mas, me contaram a coisa como foi.


Zk – Como foi?

Capitão Esron – O Renato Medeiros fez um comício ali naquela rua que passa ao lado do quartel da Brigada a Gonçalves Dias que na Olaria, recebe o nome de Lauro Sodré. No mesmo dia a facção dos cutubas tinha feito um comício pro lado do Areal. Bom! Quando terminou o comício do Enio Pinheiro que era o candidato do Aluízio Ferreira, uma caçamba que era da prefeitura, foi deixar os correligionários cutubas que moravam lá para o bairro da Olaria e quando chegou nas proximidades do comício dos Peles Curtas a turba renatista que vinha em passeata, passou a apedrejar a caçamba, foi então que o motorista que também era da prefeitura, avançou com o carro pelo meio do povo e atropelou um bocado de gente. Assim me contaram e assim eu contei pro menino Zola.


Zk – Capitão, este ano vamos ter eleições para prefeito. Entre os candidatos que apontam por aí, encontramos o Garçom; Dr. Mauro e o Roberto Sobrinho. Qual deles o senhor aponta como vencedor?

Capitão Esron – Se eu ainda votasse, votaria no Roberto Sobrinho. Vou lhe dizer por quê. Quando ele se candidatou a prefeito, não sei por que, mandou me chamar para ir até o comitê de campanha e lá me convidou para ajudá-lo a organizar o corpo técnico da campanha. Eu respondi a ele que a única técnica que tenho conhecimento, é de Bombeiro. O certo foi que ficamos amigos. Ele foi eleito, eu fui demitido pelo Carlinhos Camurça. A primeira pessoa que ele mandou convidar para o seu governo fui eu. Ele queria que eu fosse trabalhar com ele e eu respondi: Professor Sobrinho, não tenho mais condições de trabalhar, já não me agüento em pé. Ele não desistiu, quando a Tocha do Pan passou por aqui, ele mandou me convidar para ser um dos condutores da tocha. Além do mais, ele tem trabalhado muito. Se eu votasse votaria no Roberto Sobrinho.


Zk – 93 anos de idade. Como está a saúde?

Capitão Esron – Acontece o seguinte: A gente vai ficando em casa e vai morrendo lentamente. Eu fico aqui o dia inteiro jogando paciência, fazendo palavra cruzada. Quando aparece uma pessoa pra conversar comigo, fico agradecido.


Zk – E os livros! Parou de escrever! Como está a produção literária?

Capitão Esron – Vou te dizer, tive muito desgosto com meus livros. Agora o Alceu esse que é da secretaria de transporte do governo mandou imprimir os dois. "Retalhos para a história de Rondônia"


Zk – Quando o senhor lançou a primeira edição do livro?

Capitão Esron – O primeiro foi editado pela prefeitura quando o Luiz Gonzaga era prefeito, quando os livros impressos chegaram aqui de Manaus o prefeito já era o Dr. Paiva. Aí passaram a me aperrear pra escrever outro livro. O interessante é que, de um livro para o outro se passaram exatamente dez anos. Da primeira edição só fiquei com uns três ou quatro exemplares porque a edição era da prefeitura e eu só fazia assinar as dedicações. Resultado, fui um dia ao Rio de Janeiro pesquisar material para escrever o segundo livro. Cheguei lá fui à biblioteca militar porque soube que lá, existiam mapas dos rios que o Rondon localizou por aqui e eu queria botar aqueles mapas no meu livro. Me levaram pra falar com um Coronel e expliquei pra ele porque eu queria os mapas e ele perguntou, "Como é o seu nome?" - Esron Penha de Menezes, foi então que ele chamou um sargento e disse, traz aquele papel com a relação de livros lá da Rondônia e então disse: "O senhor já escreveu um livro e porque o senhor não mandou um exemplar desse livro pra cá. Por isso, não vou lhe dar os mapas". A sorte foi que eu tinha dois livros comigo e dei a ele. Hoje esses livros podem ser encontrados na estante 16 da biblioteca do exército no Rio de Janeiro. Na época, quem comandava a Brigada em Porto Velho era o General Oliva pai do senador Mercadante e eu havia deixado com ele cinco exemplares do livro para que ele enviasse pelo menos um para a biblioteca e ele ficou com todos.


Zk – O senhor tem uma previsão para o lançamento das novas edições dos livros?

Capitão Esron – Deve sair até o final deste ano.


Zk – E a primeira edição do segundo livro quem patrocinou?

Capitão Esron – Foi o Jerônimo Santana. Os irmãos da maçonaria queriam arranjar um dinheiro pra construir uma loja na Rua Amazonas e sabendo que eu me dava muito com a dona Maria irmã do Jerônimo, me procuraram para intermediar o contato. Na época, eu havia publicado uns artigos criticando a administração do governo e expliquei aos irmão da maçonaria, que não seria boa a minha participação na negociação, mesmo assim, eles insistiram e eu fui. Quando chegamos ao gabinete, o governador começou a falar no meu livro, aí eu disse, Jerônimo, por quê você não patrocina a segunda edição do meu livro? Aí ele chamou o Dr. Zorando e perguntou como podia fazer para patrocinar a edição do livro. O Zorando disse que o governo poderia fazer um convênio com a Academia de Letras de Rondônia para editar o livro. Mandaram eu procurar a gráfica para fazer a cotação de preço e eu fui com esse safado chamado de Erci dono da gráfica Gênese Top. Era ele e o Zé Paca, o Erci fez o orçamento para cinco mil livros e cobrou 15 Mil Cruzeiros. Ele passou dois anos para imprimir o livro. Depois de uma série de enrolação me entregou apenas 1.400 livros. Eu tinha prometido ao Jerônimo Mil Livros. Dos 400 eu vendi 200 pra secretaria de administração e só fui receber muito depois, quando o Anizinho era de lá.


Zk – Tem mais historias de decepção sobre seus livros?

Capitão Esron – Um dia apareceu o meu neto e disse, vovô, o Anderley Mariano que tem uma editora, ta imprimindo seu livro. Como imprimindo meu livro sem minha anuência? Pois é, ele ta fazendo 2 mil livros. Isso foi no governo Bianco e a secretária de educação era a Sandra Marques e foi ela quem encomendou os livros. Depois de tudo me procuraram e eu cobrei pelo meu trabalho 50 mil cruzeiros. Ela comprou todos e me trouxe apenas Doze exemplares "roubados". Depois vim saber que quem havia dado a autorização para a impresão foi o Aparício Carvalho que era presidente da Academia. Fui lá com ele e questionei, Aparício, como é que você faz um troço desses! Sabe que poderia te processar e coisa e tal e ele, pelo amor de Deus não faz isso não!.


Zk – Para encerrar o que devemos fazer pra chegar pelo menos perto dos 93 anos de idade igual o senhor?

Capitão Esron – Olha! Acredito em duas coisas. Eu deixei de beber em 1972 e deixei de fumar em 1974, tudo assim de estalo. Acho que são os dois fatores responsáveis pela minha saúde. Não fumar é fundamental para se preservar a saúde e até conseguir uma longa vida saudável.

Fonte: Sílvio Santos

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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