Sábado, 17 de janeiro de 2009 - 07h27
Faleceu hoje, às 1h30, o jornalista, historiador, professor, capitão do Corpo de Bombeiros do território, Esron Penha de Menezes. O capitão Esron, como era chamado, estava com 94 anos de idade, era nascido no município amazonense de Humaitá e resida há 80 anos em Porto Velho.
ESRON - EM OUTRO ASTRAL
A idéia da coluna de hoje era bem diferente. Pretendia responder a alguns leitores que me criticaram por causa da coluna anterior, em que me coloquei contra o politicamente correto, mas, quando eu estava ligando o computador, a voz do Dimarcy nem precisou continuar a mensagem.
Lúcio, o vovô se foi. Dimarcy é neto do Esron Menezes, que, na madrugada deste sábado, 17 de janeiro, contra a vontade de todos que o conheceram, embarcou no expresso da meia noite, chamado por Deus.
Desde o dia 31 de dezembro que perdi três amigos, o Pablo, amigo da família, vítima do que, pelo que me contaram, suponho ter sido um erro médico, aos 30 anos de idade, deixando a saudade com os muitos amigos que fez nas vezes que esteve em Porto Velho. Na terça-feira passada foi a bisavó do meu neto Yan, dona Lili que, aos 94 anos, embarcou para outra dimensão.
Neste sábado, foi o Esron. Aliás: Esron Penha de Menezes, fundador da Guarda Territorial (atual Polícia Militar), professor, jornalista, colunista, historiador, escritor, maçom graduado (desculpem se erro na indicação) há 65 anos da Loja União e Perseverança. Natural de Humaitá (AM), 94 anos completados dia 27 de dezembro passado, desde 1927 morando em Porto Velho, Esron foi absorvendo informações sobre a construção de Porto Velho, do Território Federal, do Estado durante mais de meio século ativamente ligado na política e na administração.
Apenas para lembrar a importância de Esron para a organização de Rondônia, coube-lhe, quando da abertura da BR-29, atual BR-364, a responsabilidade de fazer a ponte entre o Governo do Território e as empresas construtoras que atuaram em Rondônia; aliás, Esron estava em Vilhena, quando o presidente JK chegou para derrubar a última árvore entre as duas turmas de trabalhadores da construção da estrada.
Há alguns anos ele sofreu um duro golpe, quando sua esposa, Dona Vitória, partiu e, há dois anos, se não estou enganado no tempo, foi a vez de um filho. Mas o velho capitão, como os amigos o chamavam, continuou sentado na área de sua casa, ouvindo o rádio ou, então, na enorme mesa da sala de estar, lendo, ouvindo rádio e fazendo palavra-cruzada.
E, mais: sendo interrompido seguidamente por pesquisadores da História regional, estudantes, jornalistas e outras pessoas que, como disse o historiador Francisco Matias, iam ali beber na principal fonte histórica de Rondônia.
A todos o ex-jogador do Ypiranga recebia com o mesmo sorriso, a mesma atenção e uma mente privilegiada, buscando no imenso arquivo bibliográfico, ou no de memória, o detalhe para a conversa, a informação que faltava para completar um fato histórico.
Humilde, Esron não gostava de títulos, apesar de portar, e com toda a justiça, todos os que uma comunidade poderia dedicar a um cidadão. Lúcio, sou apenas um velho xereta, ouvi dele várias vezes.
Dizer que a História e a sociedade rondoniense estão com uma perda irreparável é o óbvio ululante. Não sei se o prefeito de Porto Velho e o governador de Rondônia decretaram Luto Oficial. Mas, se não o fizeram, cometeram um enorme erro.
Quando Esron fez 90 anos, sua família realizou um evento no Ferroviário. Àquela altura, amigos lembraram como conheceram o Esron. Eu disse à dona Fátima, minha mulher, que, ao contrário dos outros, eu conheci o velho capitão através dos filhos que jogavam voleibol.
A última vez que conversei com o CEM, eu estava em Aracaju, e ele me convidava para sua festa dos 94 anos. Lamentavelmente não pude ir, como também não estou agora em Porto Velho.
Mas, tenho a certeza, Deus há de ter um espaço especial para meu amigo, junto com Dona Vitória e outros que já passaram deste para o outro lado do balcão.
À família, os meus, e de minha família, sinceros sentimentos. Mas, tenho certeza, do exemplo, da capacidade e do amor que o CEM dedicava a Rondônia, vão frutificar muitos outros para seguir a sua trilha.
Inté outro dia, se Deus quiser!
P.S. Dos que vão para o outro lado, gosto sempre de lembrar das coisas boas. Do Pablo, aquele jeitão moleque e risonho sobre 120 quilos, falando numna mistura de espanhol e português.
Da Dona Lili, as conversas quando falava de seu Piauí, deitada numa rede no restaurante Bambu.
Do Esron, o sorriso amigo, os conselhos, as conversas longas, as tantas vezes que sentei naquela varanda da sua casa e ele falava de coisas várias.
E o meu arrependimento de não ter podido concluir a revisão do seu livro a tempo dele o ver publicado.
Fonte: Lúcio Albuquerque
Esron Penha de Menezes foi homenageado pelo Bloco Rio Kaiary no carnaval de 2005 |
A coluna de hoje, dia de Nossa Senhora Aparecida, vai ser diferente de todas as outras porque irá apenas reproduzir o discurso do jornalista, historiador, fonte histórica, capitão bombeiro, professor Esron Penha de Menezes, amazonense de Humaitá e rondoniense há 80 dos 93 anos de sua vida. O discurso foi durante a sessão solene na loja maçônica União e Perseverança quando Esron recebeu a comenda D. Pedro I, cujos detentores são raros e no caso local foi a primeira vez, em 90 anos de funcionamento, que isso aconteceu na União e Perseverança.
Segundo amigos meus que são maçons eu sou um goteira. Mas em homenagem ao mestre Esron e à própria instituição onde ele ingressou há 64 anos, em 1943, a coluna de hoje é apenas o discurso:
Eminente Ir:. Dr. Jacob Atallah
Ven.: Mestre
Meus irmãos.
Eu mesmo pedi aos IIr.: Dante e Jorge que fizessem esta sessão de apresentação dessa Venera, que é a maior comenda que os IIr.: do G.O.B podem aspirar se tiverem a ventura de alcançar 50 anos de maçonaria. Eu recebi depois de completar 92 anos.
Eu pedi esta apresentação, não pela vaidade de uma recepção com todas as honras a que são devidas na faixa 5ª do Regulamento Geral da Ordem, também para não ver os IIr.: da minha Loja mãe sofrerem o vexame de ignorar esse ritual.
Foi principalmente para pagar uma dívida de gratidão a um Ir.: que foi paradigma dos IIr.: desta Loja que goza até hoje desse mesmo padrão de comportamento.
Meu pai, meu irmão Alberto, meus cunhados como eu agradecemos ao G.:A.:D.:U por pertencer a esta Veneranda Loja.
Não é só a mim que ao visitar uma Loja deva ser tratado de Sapientíssimo Comendador da Ordem do Mérito D. Pedro I. Atualmente temos também o Grão Mestre Euclides Sampaio Fróes, que ao visitar uma Loja pode optar pelas regras da faixa 5.
Nos festejos do 25º aniversário do G.O.E.R, eu havia dois dias antes recebido a medalha e ainda não tinha conhecimento dessas honrarias e estava atarantado sem saber o lugar que me era destinado quando o Adjunto do Grão Mestre Geral que viera naquele evento representar o Soberano, na entrada do Oriente pegou-me pelo braço e levou-me e antes de sentar disse é a minha direita que o Ir.: deve sentar-se porque eu estou, mais o irmão é, completou eu só sento aqui porque estou Grão Mestre, mas a você é permanente.
Sempre desejei que me aparecesse uma oportunidade de pagar a promessa de que fiz a mim mesmo ao mui prezado Ir.: Abdon Jacob Atallah a quem eu desejo imitar por considerá-lo um verdadeiro Mestre Maçom, não aquele que cola o 3º grau, mas do sábio e ético, um nome que deve ser venerado.
No dia 8 de junho de 1943 que me concederam a graça de ver a luz ao meu lado estava aquele Venerável Ir.: e foi por esse motivo que pedi que dessem esse cargo ao seu filho, o eminente Ir.: Jacob Atallah, mesmo porque eu desejo relatar um fato que julgo inédito até agora.
Eu era Delegado do Grão Mestre Moacyr Dinamarco, o 1º nesse cargo a visitar Porto Velho e junto com Maicy Guarany Vanderley e a pedido deste fossemos visitar Abdon que já estava meio adoentado. O Grão Mestre atendeu o pedido e fomos muito bem recebidos no comércio do Ir.: O Grão Mestre ficou muito admirado do nosso relato sobre o Abdon.
Quando vínhamos, Maicy pediu-me para falar com o Grão Mestre para ver se podia dar o grau 33 ao Abdon. Eu disse ao Maicy que não era com o Grão Mestre que se faria o pedido. Mesmo assim, falei com o Dr. Dinamarco e ele me respondeu que iria falar com o Vulcano.
Tempos depois, Maicy me telefonou que o Soberano Grande Comendador foi procurá-lo para obter meu endereço. Marcamos para as 10 horas na Loja União e Perseverança.
Dr. Ariovaldo Vulcano falou sobre o pedido de Dinamarco e que ele estava aqui e que iríamos a casa de Abdon, onde o encontramos sentado numa cadeira de balanço. Uma senhora morena, forte serviu-nos um gostoso cafezinho. Vulcano ficou muito entusiasmado com Abdon. Ele pediu que eu e o Maicy saíssemos que ele queria falar a sós com o Ir.:, alguns minutos depois chamou-nos e disse, o pedido de vocês se concretizou. Nós o cumprimentamos e viemos embora com Vulcano que me disse que havia feito por comunicação, o Ir.: Grau 33.
Assim creio que Abdon foi o primeiro grau 33 depois da era Vargas.
Depois desse encontro só vi Abdon no seu leito mortuário, quando lhe fiz uma saudação.
Essa promessa estou jubiloso de cumpri-la agora, tanto tempo depois.
Meus IIr.: Senhores e Senhoras.
Depois que tomei conhecimento das homenagens que esta medalha me outorga fiquei assombrado porque não era o que eu queria. Ícone, símbolo não era o meu desejo.
São tão grandes os encargos desta Venera que raciocinando calmamente e quando eu vejo se estreitar o meu horizonte e o passar dos anos, não me alentam para o que eu mais desejei ser considerado pelos meus irmãos como Abdon o foi, um verdadeiro Mestre Maçom.
Inté outro dia, se Deus quiser!
Leia abaixo uma a última entrevista concedida ZEKATRACA em 13/05/08:
História Antiga - CEM
Capitão Esron Penha de Menezes
No governo do Marques Herinques vieram pra cá, dois oficiais do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro e com pouco tempo, eles foram chamados de volta para o Rio. Foi então que o Rodolfo disse ao Marques Henrique que eu havia sido formado no Corpo de Bombeiros do Rio, mas, disse também, ao governador que não tinha certeza se eu aceitaria ser o comandante de novo. Na época eu trabalhava no Jornal "O Guaporé". Estava no Comando dos Bombeiros o Antônio Araújo Lima que não estava agradando o governador. O Marques Herinques mandou me chamar como jornalista, alegando que gostaria que eu o entrevistasse para O Guaporé. A entrevista exclusiva seria em seu gabinete. Quando cheguei lá, ele não tocou em Bombeiro. Começou me perguntando, "você sabe de que cor são as letras da bandeira brasileira"? Respondi, são verdes! Pouca gente sabe disso. Depois ele chamou a dona Conceição Teixeira e disse. Traga aquele Decreto que assinei hoje de manhã e então me disse: Capitão, lamento, mas, eu já lhe nomeei Comandante do Corpo de Bombeiros de Rondônia. Argumentei, Coronel fazem 17 anos que deixei de atuar como bombeiro e aquilo muda todo tempo, eu não estou em condições de assumir o comando do Corpo de Bombeiros. Ele disse, vamos fazer o seguinte, você vai passar 15 dias no Rio fazendo uma reciclagem, fui fiz uma reciclagem meia boca, já que 15 dias, era muito pouco tempo, voltei pra cá e assumir o Comando, primeiro no prédio onde funcionou a Câmara de Vereadores e depois no quartel da Olaria. Ele mesmo me demitiu e eu fiquei muito chateado. Acontece que ele nomeou o Dr. Carbone que era delegado da Federal como secretário de segurança de Rondônia. Aí o Cezar Zoghbi, Odacir Soares e outros, foram falar com o Carbone que ele não podia me demitir porque não tinha ninguém aqui, qualificado para o cargo. Ele garantiu que não iria me demitir. Foi só eles saírem da sala e ele me demitiu e o governador acatou. Ele me demitiu porque queria dar uma gratificação ao Coronel Ferro. Essa história começou quando ele prendeu um jeep e um dia chegou comigo e perguntou se eu queria comprar aquele carro para o Corpo de Bombeiros, depois dos trâmites legais o governador Marques Henriques mandou ele me entregar o jeep, aí ele disse que queria que o jeep ficasse pra ele, por isso ele ficou danado comigo e me demitiu.
Leia Alguns artigos que Esron escreveu para o Gentedeopiniao:
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Fonte: www.gentedeopiniao.com
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