Terça-feira, 9 de junho de 2009 - 16h23
Nem os mortos do Cemitério da Candelária descansam em paz em meio a pauleira urbanizatória que vem atazanando a nossa urbe nos últimos meses. A cidade do porto transformou-se num canteiro de obras. Um novo pólo migratório é o que nós somos, o mais novo berço da expansão imobiliária, do agronegócio, um circo violento, um trânsito caótico. Os mastros centrais dessa tenda cigana são as hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau ícones da submissão amazônida aos interesses das prósperas economias do sul e do sudeste tupiniquim. O campo santo de que estamos tratando data da construção da Ferrovia do Diabo, a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, e está localizado às margens dos trilhos que simbolizam os operários mortos em sua construção, na região da candelária, próximo ao bairro do Triângulo. Mais de cinco mil pessoas tiveram seus corpos desfalecidos cosmopoliticamente ali depositados.
No olho do furacão de um processo sócio-político e econômico sem pé nem cabeça, porque sustentado em falácias e estratagemas político-administrativos inconfessáveis, os restos mortais dos que habitam os ermos do Cemitério da Candelária clamam por tratamento condigno, respeitoso e condizente com sua importância histórica para os caripunas. Lá, encontram-se enterrados homens e mulheres, jovens, velhos e meninos que nas primaveras de antanho vieram semear o que pretendemos ser hoje: a civilização Guaporé. Se nós não aprendermos a respeitar nossos mortos, então que seja bem-vinda essa onda avassaladora de pseudo-desenvolvimento e que ela nos engula como vermes sem identidade, sem brio, nem valores, sem passado e sem futuro. E amanhã nós seremos eles: monte de ossos despidos de significado no presente eterno do hoje. A pressa em formatar a nova realidade urbana de Porto Velho, em todas as dimensões que abrangem a vida do homem moderno, bem como a deliberada vontade de impor um estilo sudestizador ao modo de vida da gente nativa destas paragens, tem propiciado verdadeira avalanche de ataques nocivos a vários sítios memoriais, ecológicos e culturais - materiais e imateriais. As empresas que estão faturando a obra, a Energia Sustentável do Brasil (Enersus) e Furnas/Odebrecht, fingem, quando muito, estar preocupadas com a preservação da identidade ribeirinha, patrocinando pequenos projetos de inventário cultural. Há muito cinismo permeando o imbróglio histórico em que estamos metidos. Ganância demais e humanismo de menos.
No caso do Cemitério da Candelária, o que para os técnicos do IPHAN parece muito, para o professor Emanoel Silva significa descaso, negligência e insensatez. Os cuidados dedicados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional àquele sítio cultural são tímidos e incipientes. Os 84 mil reais gastos no local não foram inúteis, é vero, mas não condiz idealmente, em obras e administração, com o real nível de necessidade reclamado pelo bem cultural. As denúncias foram feita in loco pelo professor Emanoel Silva, que, encabeçando uma espécie de auditoria cultural, levou àquele cemitério, sábado passado, o historiador Abnael Machado de Lima, o poeta e pesquisador Antônio Cândido, o repórter Lúcio Albuquerque, os músicos Heitor Almeida e Rogério Cabral, o estudante Amaral Neto e uma equipe de reportagem da TV Rondônia. Segundo ele, faltam placas sinalizadoras e informativas, melhoria das passarelas, um sério trabalho de identificação e restauração das lápides, demarcação criteriosa da área, cuidados com as covas e túmulos e uma série de outras ações preservacionistas indispensáveis.
Enquanto a cidade arde ao calor do frenesi desenvolvimentista, o silêncio dos mortos ecoa em nossas consciências como um grito estridente pelo respeito que merecem ter aqueles que descansam no Cemitério da Candelária, oferecendo-nos, em tributo histórico, uma razão de ser. Ante o silêncio crítico dos antepassados, ouçamos, em justo contraditório, a voz do superintendente do IPHAN em Rondônia, o videomaker Beto Bertagna.
Se não o fazem os vivos embasbacados com a realidade circundante, os mortos da candelária gritam por dignidade!
Fonte: Por Antônio Serpa do Amaral Filho
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