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Montezuma Cruz

Dois homens de brio e de bem


O Brasil teve muitos homens de bem. Teve e ainda tem. É possível localizá-los, principalmente fora do Parlamento 

MONTEZUMA CRUZ
Agência Amazônia

Muito a propósito dessa podridão que vem enodoando há anos o Congresso Nacional sem que seus responsáveis, sempre imunes, sejam pelo menos presos durante um dia, um mês ou um ano, resgato trechos de artigos anteriores. Para lembrar que no passado tivemos homens de brio na República, capazes de corar de vergonha diante de privilégios ou quaisquer irregularidades ao seu redor.

O Brasil teve muitos homens de bem. Teve e ainda tem. É possível localizá-los, principalmente fora do Parlamento. Este, há algum tempo deixou de ser retratado nas páginas de política para comparecer, freqüentemente, nas páginas policiais. 

Dois homens de brio e de bem  - Gente de Opinião
Barão de Mauá:exemplo de integridade

Lembremo-nos de dois cidadãos admirados por brasileiros de antigas gerações: Irineu Evangelista de Souza, o Barão de Mauá, e o ex-presidente da República Venceslau Brás. A fortuna do Barão de Mauá somava 115 mil contos de réis, ultrapassando em 18 mil contos de réis o inflacionado orçamento do Império. Ele não era necessariamente o homem mais rico do planeta, mas tinha quase tanto dinheiro quanto o colossal Banco da Inglaterra ou quanto o magnata das estradas de ferro Cornelius Vanderbilt.

O barão tornou-se personagem histórico singular. Foi o maior empreendedor do Brasil à sua época. Quando faliu, por ter se chocado com condestáveis do Império, que o hostilizavam e trabalhavam para transformar suas vitórias em fracassos, Mauá deu um dos maiores exemplos de integridade da história.

Ele incentivou a navegação na Amazônia. Em 1878, escreveu um documento denominado “Exposição aos credores de Mauá & Cia”, no qual se comprometeu a honrar os seus débitos. Aos 65 anos, o barão vendeu os bens e pagou suas contas. Passou a viver num palacete alugado. Numa das salas do Tribunal de Comércio do Rio de Janeiro, em 30 de janeiro de 1884, já com 70 anos, ele ouviu o juiz Miguel Calmon du Pin e Almeida reabilitá-lo.

Com um modesto capital, tomado de empréstimo de um dos filhos e de amigos, ingressou no ramo de corretagem. Segundo o escritor Aluísio de Azevedo, por seus méritos, Mauá mereceria uma estátua em cada estado brasileiro.

Para Francisco Viana, autor do livro “Hermes, a Divina Arte da Comunicação”, personalidades iguais ao barão pertenceram a uma época de grandes referências — o cristianismo, o comunismo, o socialismo, o Estado-Nação. “Uma época marcada por simbolismos e utopias que tinha a matéria-prima da sua consciência e essência na legitimidade da política, dos fortes elos entre o individual e o coletivo, nas muitas conexões entre o bem-estar no mundo e os valores simbólicos”, assinalou. 

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Venceslau Brás: mordomias proibidas
Aos 45 anos de idade, Venceslau Brás foi eleito presidente da República, no dia 14 de março de 1914. Conduzido em carro aberto, quase foi atingido por uma jaca. Até então, ele fora vice-presidente do Marechal Hermes da Fonseca. No entanto, sem nenhuma participação no governo.

Brás encontrou uma “inominável desordem financeira” no País. Ao assumir, a dívida pública havia dobrado, alcançando 3,2 milhões de contos de réis. Decidiu baixar o próprio salário em 50%, mas o Congresso autorizou apenas 20%. Diante do exemplo, os congressistas consideraram por bem aceitar o fim do pagamento a eles destinado, pelas convocações extraordinárias.

Usando carro particular, o presidente proibiu mordomias e restringiu ao mínimo as nomeações. Quando o Brasil se declarou em guerra com a Alemanha, Instituiu impostos sobre salários dos funcionários, dos juízes, dos ministros do Supremo Tribunal Federal e do próprio presidente da República.

Enfrentou a gripe espanhola, as idiossincrasias dos políticos da época, e os conflitos internos. Mas sua política legislativa, financeira e administrativa deu vigor a um País à beira do abismo, registra o historiador Rodrigo Elias.

“Seu” Lalau, recebido em 1914 com o arremesso de jaca, deixou, a capital federal, Rio de Janeiro, em 15 de novembro de 1918, aclamado pelo povo, pelos políticos e pela imprensa. A essa altura o chamavam de “São Venceslau”.

Naquele tempo, calote, sem-vergonhice e brio não se misturavam. Tal qual a água e o azeite. Pena que não serviram de exemplo para boa parte dos parlamentares da Câmara e do Senado. 

Fonte: Montezuma Cruz - A Agênciaamazônia é parceira do Gentedeopinião

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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