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Gente de Opinião

Francisco Matias

Santa Marcelina


As milhares de pessoas que trafegam pela BR 364, nas proximidades do km 14, entre Porto Velho e Candeias, não percebem uma mudança importantíssima que ocorreu naquele trecho. Não. Não se trata de mudança física, principalmente no aspecto rodoviário. Trata-se de uma profunda mudança conceitual. Ali não funciona mais o leprosário.

Não. Não é mais uma colônia de leprosos. Até porque leproso agora é tratado como hanseniano, numa referência ao cientista que isolou o vírus e uma tentativa de quebrar o preconceito da palavra leproso. Tampouco é a colônia Jaime Abeen Athar. Ali, agora, e há muito tempo, funcionam as Obras Sociais Santa Marcelina.

São obras sociais sim, com ênfase à saúde e à educação, mas visando, sobretudo, a inclusão social. E aí vai uma gama de serviços que as Irmãs Marcelinas desenvolvem com muita fé em Deus e nos homens de boa vontade. Deus dá a sua força, mas os homens de boa vontade parecem escassos.

Os recursos, em sua maior parte, são originário do Sistema Único de Saúde,SUS, e, em escala dividida desigualmente, provêem da Fundação Marcelo Cândia e da Fundação Amigos de Raoul Fulleraux, ambas na Itália, que dão suporte para as atividades específicas. Com esses recursos basicamente, a diretora Irmã Lina, diz que os projetos são conduzidos, mas reclama dos sacrifícios impostos pela demanda.

Ao tornar-se uma dos centros de excelência no tratamento da hanseníase e na ressocialização da pessoa infectada, a entidade também se destaca em outras áreas da saúde como oftalmologia, otorrino, odontologia, ortopedia, um hospital com 104 leitos e uma série de especialidades médicas, que a população de Porto Velho e do Estado começam a tomar conhecimento e a procurar.

Surge aí, e desse modo, o aumento quase geométrico da demanda em relação à capacidade financeira da Santa Marcelina. Salvam-lhe as emendas alocadas no orçamento pelos deputados estaduais. No ano passado, os deputado cravaram 950 mil reais de emendas, mas somente foram liberados 300 mil. É pouco. Muito pouco. Faltou vontade ao homem que tem o poder de liberar, no caso, o governador. Irmã Lina, a diretora, pretende que esse sistema seja superado, que, ao invés de emendas, os recursos direcionados à entidade sejam parte da lei orçamentária.

Além da verba do SUS e aquelas enviadas pelas fundações citadas e as provenientes das emendas dos parlamentares, as Obras Sociais Santa Marcelina tem o Plano Popular, através do qual, a população pode se consultar com os melhores médicos com preços das consultas bem abaixo do que é cobrado nos consultórios particulares. E com a mesma qualidade. Não poderia ser diferente.

Mas o conceito de Obras Sociais é mais abrangente. A oficina de próteses e órteses, a única da região Norte, produz aparelhos de última geração, inclusive calçados e palmilhas para hansenianos e diabéticos, com modernas técnicas nesse campo. Mais adiante, em convênio com a ALE, vamos encontrar o viveiro de plantas medicinais e alimentícias, do projeto Viver Saudável, com mais de 400 mudas e 80 espécies.

Um centro de pintura e artesanato serve para explorar o dom artístico dos pacientes. Tem alojamentos e está em formação uma banda musical. Tudo com o objetivo de integrar o paciente à comunidade e oferecer o melhor que se pode ofertar na medida em que todo o trabalho envolve pacientes e instrutores.

Na verdade, aos poucos, vão sendo modificados os conceitos e os preconceitos sobre o antigo leprosário, mesmo porque a comunidade participa de forma atuante, não apenas em busca de consultas, internações hospitalares ou cirurgias reparadoras, mas através das escolas de 1º. e 2º graus que funcionam no ambiente interno e externamente como as que existem nos bairros Marcos Freire, Pedacinho de Chão e Embratel, e uma na cidade de Alto Paraíso.

Enfim, o que se quer aqui é chamar a atenção da sociedade para a importante mudança no conceito de saúde que as Obras Sociais Santa Marcelina vêem promovendo. Sobretudo, clamar para o Poder Público para que os dirigentes tenham boa vontade no trato com essa entidade, mesmo porque, não são poucas as ambulâncias que, vindo do interior, dirigem-se àquele centro para deixar pacientes, desafogando, de certo modo, a rede pública de saúde na cidade de Porto Velho.

Fonte: Francisco Matias

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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