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Abnael Machado

50 Anos da Caravana Ford - III (Os Heróis Esquecidos)


 50 Anos da Caravana Ford - III (Os Heróis Esquecidos) - Gente de Opinião

Em  1963 eram fortes os indícios da paralisação da construção da BR 29. O jornalista Vinicius Danin, do Alto Madeira, e o radialista Milton Alves de Jesus, diretor da Rádio Difusora do Guaporé, decidiram ir a Brasília, percorrendo a rodovia Brasília-Acre, ainda em extensos trechos. A estrada era apenas um caminho de serviço aberto na pujante floresta amazônica, interceptado por igarapés e caudalosos rios transpostos uns por pinguelas e provisórias pontes de madeira, outros por balsas. Também havia obstáculos, os grandes atoleiros, a falta de postos de abastecimento, de oficinas e de hotéis. Isso se tornava  perigoso desafio aos motoristas de caminhão que se aventuravam a percorrê-la no trecho Cuiabá/Porto Velho, cujo tempo de deslocamento no período chuvoso, chegava a três meses.
 

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Vinicius  Danin, um jornalista ousado e entusiasmado com causas nobres 

Os  dois programaram fazer a viagem pilotando uma vespa M4 doada pela empresa Rondomarsa, revendedora de veículos. O empresário Luiz Malheiros Tourinho, representante da Companhia de Seguro Equitativa, doou um título de seguro contra acidentes no valor de um milhão de cruzeiros a cada um dos expedicionários.

Estes levavam um memorial assinado pelo governador, pelas demais autoridades, pelos presidentes dos clubes de serviço, da Maçonaria, das instituições religiosas e do povo em geral, reivindicando ao Presidente João Goulart a manutenção dos trabalhos de construção da BR 29.

No percurso colheriam assinaturas dos moradores que encontrassem. Juntaram ao memorial um exemplar do livro “Terras de Rondônia”, ainda inédito, no qual o autor destacava importância da construção da rodovia se prolongando até o litoral do oceano Pacífico no Peru e no Chile proporcionando ao Brasil acesso ao mercado dos países vizinhos assim como dos asiáticos.

No  dia 15 de junho de 1963, às 17h, os expedicionários partiram da Praça Jônathas Pedrosa, para tentar a viagem fantástica de mais de cinco mil quilômetros em pequenos veículos de duas rodas. Percorreram parte da Amazônia Ocidental,do Centro Oeste e do Sudeste. Aventura jamais registrada nos anais rodoviários do continente americano e provavelmente do mundo.


 

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O major Cândido Mariano Rondon, com seu Ford de Bigode, chega à região do Juruena

Superando todos os obstáculos, chegaram a Cuiabá e foram recebidos pelo governador de Mato Grosso, o qual entregou-lhes um documento de apoio ao do povo de Rondônia, dirigindo ao presidente João Goulart. Seguiram para Goiânia, aonde o advogado Olavo de Castro, portovelhense, redator do jornal “4º Poder”, apresentou-os ao presidente da Fundação Estadual de Esportes. Ficaram hospedados no Hotel Ártemis. O governador do Estado de Goiás, Mauro Borges, recepcionou-os com um almoço no Palácio, com a participação do secretários e de vários políticos, entregando-lhes um documento de teor igual ao dos supramencionados, destinados ao Presidente.

Prosseguindo viagem seguiram para Brasília, ao chegarem foram escoltado por um patrulha rodoviária com comandada pelo Inspetor Latorraca, que os acompanhou até ao “Brasília Palace Hotel”, sendo recepcionado pelo Deputado Federal de Rondônia Renato Barralho de Medeiros, o qual os acompanhou na audiência com o Presidente João Goulard sendo lhe entregue o memorial do povo de Rondônia e os documentos de apoio dos governadores de Mato Grosso e de Goiás. Eram solicitados a garantia de não ser paralisada a construção da rodovia, a liberação de CR$ 8.000.000,00 (oito milhões de cruzeiros) para pagamentos em atraso às empreiteiras, o Presidente elevou para CR$ 17.000.000,00 (dezessete milhões de cruzeiros), com imediata liberação, determinou o remanejamento do pessoal DNER encarregados da BR 29, de Brasília para Cuiabá e Porto Velho.

A missão dos dois expedicionários Vinícius Danin e Milton Alves de Jesus alcançou pleno êxito.


 

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Presidente Juscelino e Sebastião Camargo Presidente Juscelino desembarca em Vilhena para a derrubada da última árvore da BR-29



Sempre pilotando a vespa seguiram para o Rio de Janeiro, aonde chegaram no dia 19 de agosto de 1963, indo à empresa Dibran representante da vespa M-4 e foram entrevistados pela TV continental, pela Rádio Globo e Jornal Globo. Foram convidado pelo governador Ademar de Barros, a visitarem a capital paulista, na qual por este recebidos e homenageados, como também por vários segmentos empresarias e da mídia. Porém na inauguração oficial da pavimentação asfáltica que consolidou a BR 364 (ex-BR 29), os heróicos pioneiros não foram lembrados nos discursos proferidos. Permanecerem no limbo do esquecimento.

A saga da rodovia prossegue. Foi criado o 5º Batalhão de Engenharia e Construção tendo por principal missão restaurar a BR 29, para possibilitar a integração de Rondônia e do Acre ao resto do país. Se deslocou do Rio de Janeiro para Cuiabá no dia 18 de janeiro de 1966. E de Cuiabá para Porto Velho no dia 8 de fevereiro, aonde chegou no dia 21 de fevereiro de 1966.

O histórico dessa epopéia, os leitores encontrarão nas obras: “Eles Não Viveram em Vão” de autoria do general Tibério Kimmel de Melo e “A Amazônia e Nós” de autoria do coronel Marseno Alvim Martins.


 

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 O Presidente Juscelino cumprimenta o então governador do Território de Rondônia, Paulo Nunes Leal.  



Rememorar os episódios que constituíram e constituem a origem e a evolução social, política, econômica e cultural de Rondônia, os seus mais destacados protagonistas, repassando-os às sucessivas gerações, é uma obrigação, é um compromisso com preservação da memória da história do seu povo.

Não poderia deixar de prestar uma justa homenagem aos destemidos integrantes da Caravana Ford, os quais pela primeira vez, em 1960, percorreram via terrestre da cidade de São Paulo a cidade de Porto Velho, mais de quatro mil quilômetros, atravessando trechos da BR 29, em construção, e precárias condições de tráfego, outros sem mínimas condições exigindo dos caravaneiros a abrirem caminhos na selva e só graça sua indômita coragem e compromisso com o dever, vencerem todos os obstáculos e chegaram a Porto Velho, no dia 28 de dezembro de 1960. Homenageamos-os nos transcursos dos cinqüentas anos da realização da audaciosa aventura de repercussão internacional, narrando-a especialmente para os jovens, por intermédio do nosso tradicional jornal “Alto Madeira”.

 

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Um dos caminhões da Caravana atravessando um atoleiro

ABNAEL MACHADO DE LIMA
Ex-professor de História da Amazônia na Universidade Federal do Pará
Membro da Academia de Letras de Rondônia

 

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