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Paulo Saldanha

A Viagem do Nelson Casara


  
Paulo Cordeiro Saldanha*

O Nelson Casara, meu companheiro de infância, de colégio e de serviço militar. Ah! o Careca mais cabeludo que conheci. Até hoje nem sei porque pegou aquele apelido. Nada a ver com ele!

O mais alto da minha patota, exímio jogador de basquete e de voleibol.
Assim como a Irene, do Manoel Bandeira, estava sempre de bom humor. Fazia sucesso com as meninas da nossa geração, pois era bonito, tocava violão e cantava muito bem. Herança familiar!

Do casal Estela e Giácomo era o filho mais velho. Vitorioso, tornou-se vencedor desde cedo! Caminhou em direção a outras terras e, em Belém do Pará, estudou, bacharelou-se em dois cursos superiores e fez especialização em matéria tributária.

Concursado no estado paraense, cumpriu galhardamente fecunda trajetória como Auditor Fiscal.

Quando fui morar em Belém nos encontrávamos, caminhando na Praça da República ou no seu sitio próximo a Icoaracy.

Algumas vezes me visitou no BASA, em meu gabinete quando procurávamos atualizar o papo. Seu colega de turma num dos cursos, creio que o de Ciências Contábeis, nos reuniu mais de uma vez na residência dele, o Guerreiro, seu grande amigo na capital paraense.

O Nelson era um iluminado, por diversos motivos: porque nascera numa família abençoada pela intensidade de amor que naquele lar sempre vicejou; pelo Pai, Giácomo, um homem em harmonia mesmo quando um ou outro revés o atingia, como aquele incêndio que destruiu, no pátio do SNG, cerca de 10 toneladas de borracha de sua posse; pela Mãe, sua musa e inspiração, a Tia Estela, sempre pronta para incentivá-lo e acarinhá-lo, abençoando-o.

Não fora isso, só para dar significado a sua trajetória, surgiu de forma espontânea, a admiração que sua vida traduziu como orgulho porque todos os irmãos Nilce, Lito, Neide, Katé, Sheick e Dalva sempre sentiram dele.

Em 2004 ou em 2005 ele me visitou aqui em Guajará-Mirim. Veio, acompanhando-o um cortejo de parentes e amigos de Porto Velho, uma vez que ele desejava se encontrar comigo. Parecia um Príncipe com o seu séquito!

Continuava simpático, sorriso aberto, franco e feliz, bastante agradecido como a vida o vinha premiando.

Tenho gravado no cérebro a emoção que tomou conta de nós dois, no momento do reencontro. O abraço bem apertado, daqueles que se dá num irmão, o choro derivado da emoção, a surpresa de nos vermos não mais como dois meninos ou dois rapazes, mas como dois homens maduros, já com as rugas que premiam o tempo no planeta Terra, haja vista o horizonte em que os cabelos brancos nos brindam a cabeça.

Mas observamos que não perdemos a capacidade de sorrir e de nos emocionar com as deliciosas lembranças da nossa época de juventude, dos jogos esportivos noutras terras e das serenatas com que a nossa turma celebrava a noite e a madrugada.

Emoção que vale a pena ter sentimento para vivê-la!

Hoje, bem cedo abrindo a correspondência eletrônica, a infausta notícia: o Leo Ladeia me transmite a informação sobre o falecimento do Nelson. Ainda incrédulo, hesitante e titubeante, chorei!

Da minha turminha, já perdi uns quantos companheiros: o Clayton, José Nilson e Polegar. Hoje ampliei a minha pobreza sentimental com a partida do Nelson Madeira Casara. Pensei na vida! Pensei na Morte! Quando será a minha vez?

E, no compasso da chuva fina que vai caindo, penso, novamente, na vida e no “velho Careca de guerra” e vou chorando, na companhia da solidão que me deixa tão triste e espiritualmente tão pobre...

Em Belém mais um violão silencia, um capítulo se encerra, um livro se fecha, tendo como epílogo, nessa sequência, o tango, o bolero, o samba-canção, a guarânia e a marcha-rancho que, também, ficaram de luto.

Numa outra dimensão, o céu se engalana, os sinos tocam, os amantes da música popular divina cantam e alguém de cabelos longos, nos pés sandálias comuns, sorri e, abrindo os braços lhe dá as boas vindas...

*Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER.

 

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Fonte: Paulo Cordeiro Saldanha  / 
*Membro Fundador da Academia Guajaramirense de Letras-AGL e Membro Efetivo da Academia de Letras de Rondônia-ACLER.
 
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