Sexta-feira, 9 de março de 2012 - 08h51
O Lourival Diniz é um vencedor! Nasceu em Pedras Negras, no médio Rio Guaporé, aqui em Rondônia. Após ser eficiente funcionário do Serviço de Navegação do Guaporé, prestou concurso para o BASA, banco em que fez brilhante carreira, pediu transferência para São Paulo e se aposentou no Rio de Janeiro, onde concluiu o curso de Direito.
Nessa trajetória muita coisa se lhe aconteceu. Na juventude foi jogador de futebol do Guajará Esporte clube. Na época da Contra-revolução transitou como torcedor da URSS e fundou seu clube de futebol de salão com o nome Kossiguin, tentando desafiar. Não ganhou uma única partida.
Alexis Kossiguin, líder soviético,chefe do Governo,sucedeu, como parte de uma troika, formada por Leonid Brejneve Podgornyj, a Nikita Kruchev, a partir de 1964. Mas esse time se fez a dele, jamais transitou pela minha cabeça.
Como atleta do Guajará deveria estar concentrado para o jogo de domingo, mas, na madrugada do sábado, o Simão Salim, ao caminhar em direção ao Mercado público, ouviu e reconheceu as vozes e as risadas do Diniz e do Galalau, esse futebolista dos bons. Como eram seus liderados na Agremiação, resolveu focar com a sua lanterna de 3 elementos bem no rosto dos dois ébrios, que não puderam reconhecer o autor do atrevimento.
–Porque não foca no ... da tua Mãe, seu filho duma égua? Disparou o atrevido Diniz. A batida de maracujá bem forte torna os homens mais valentes, bem mais insolentes, grosseiros e petulantes... Até num determinado ponto...
O Salim, retirando uma faca da cintura, eis que a faz brilhar sob o foco intenso da lanterna e sapateia na direção dos dois marmanjos, que iniciam assustados uma desabalada carreira no rumo do Guajará Clube, ali na Avenida Costa Marques. Eles estavam bem na esquina entre a Praça Mário Correia, a Igrejinha, o Simon Bolívar e a santa estátua bem na quina da antiga Prelazia, hoje Diocese.
O Diniz, bastante assustado, movido por uma força estranha, já com o calcanhar batendo na parte posterior do pescoço, na nuca, ultrapassou as largas passadas do Galalau. O Simão, dono de uma rapidez tamanha, riscava a faca no chão, para desespero dos dois afoitos jovens, que, imediatamente antes, foram tão atrevidos e audazes, desafiadores e valentes interlocutores, então contrariados com aquela focagem agressiva, que agredira a virginal e intocada menina de seus olhos, tão sensíveis.
Lá pelas tantas, o Diniz sendo ultrapassado pelo Galalau cai no chão exausto e se entrega:
–Homem de bom coração, não me mate, não! Eu só estava brincando. Mas se desejar matar-me enterre esse punhal direto no meu coração! Fragilizado, com lágrimas nos olhos, soluçando, o Diniz piava fino.
O Simão, rindo as escâncaras, devolveu:
–Cambada de covardes! Cabras frouxos! Sou eu, o Simão. Vocês dois não são homens, não? Bando de covardes...
Vai daí que o Diniz sentindo-se em boas mãos, transformou-se, de repente, num muito macho, forte e revigorado, e, valendo-se da intimidade conquistada com o seu líder, a ele dirigiu uns impropérios, pelo medo que passara, que nem ouso traduzir.
–Simão, sangue fede?... Questionou, passando a chamar pelo Galalau. –pode aparecer. O Matador não é matador! é o Simão, esse bom sacana que me fez borrar de medo.
Só que o Galalau só apareceu novamente duas semanas depois. Pelo sobressalto, deve estar correndo até hoje no Planalto Central.
Noutra situação, numa das festas, no Guajará Clube, eis que o Diniz, pé-de-valsa dos bons, resolveu tirar uma amiguinha para dançar. Ele já estava “pra lá de Bagdá”, ante a quantidade de cerveja ingerida. Porém –sempre tem um porém– entre uma dança e outra, o Diniz é atingido por violenta dor-de-barriga e vai ao sanitário. Não tinha papel, para variar! Faz indevido uso do próprio lenço e, bêbado, guarda-o no bolso; outra dança o surpreende, enlevado, rodopiando com a amiguinha na pista.
Ambos suados. Ela se queixa do enorme calor guajaramirense. Ele, tão cavalheiro, retira o lenço do bolso, bem dobrado e, esquecido da aplicação imprópria do tecido, momentos anteriores, o entrega enternecido, para a sua parceira retirar as gotas do suor do rosto e do pescoço. Após o que, aproveita para enxugar a própria cara.
Diz o Lito Casara, que descia dos pescoços de ambos, um líquido marron...”, “Arc...Arc...” (onomatopeia de náusea)!
Constrangimentos apareceram, de um e de outro lado. Um cheiro fúnebre eis que surgiu. Calados estavam, calados permaneceram! A dança não terminava...
Só que o cheiro acompanhava o Diniz para onde ele ia. Até que se lembrou da possível causa. E aquela festa empesteada para ele, acabou com a vergonha de ter contribuído para o final da festa da sua constrangida par, também.
Um dia, o Diniz se apaixonou por uma moça boliviana, que jamais soube da força desse amor. Ela morava na Bolívia, mas trabalhava ali na Avenida Constituição, na PROBRÁS, do Israel Hockgraf. Ele, bem calibrado, acordou-me às 22,30 horas e me obrigou a ir fazer uma serenata para a sua musa no local de trabalho, que nem vigia possuía. E cantou, e cantou de “Malagueña Salerosa” , “El Reloj”, “Tú, Solo Tu” passando por“Índia”, com sua voz fanhosa e desafinada. Se a namorada o ouvisse teria terminado na hora, pois talento para a música jamais fora o seu forte. E, na capela, era pior ainda!
–Diniz, vamos para casa, amanhã eu trabalho...
Ele, em nome do bom senso, concordou. Embarcou na minha lambretta e partimos. Lá pelas tantas vi que o veiculo estava mais leve. É que o Diniz havia caído, bem em frente da Casa da família do Poeta Alkindar Brasil de Arouca. Voltei e o encontrei dormindo e com a cara ralada, ensanguentada pela queda na rua.
Na campanha de 1986, ele, como advogado, ponderava com o Juiz eleitoral um voto pelo magistrado impugnado, dado em meu favor:
O profissional da Lei, temperamental não o deixava argumentar. E, de chofre, com dedo em riste o destratou:
–Cale-se! Quando um burro fala, o outro murcha a orelha...
E o Advogado Diniz, devolveu elegantemente:
–Então, fale o primeiro burro... E o Magistrado engoliu ou fez que não entendeu a contundência sutil (vernacular) do causídico, meu defensor.
Há outras histórias do Doutor Diniz, como, por exemplo, a sua ida primeira para o Rio de Janeiro, na companhia do talentoso Ângelo Nobre de Jesus, outro atleta, que por falta de opção, o Guajará Esporte Clube, do Simão Salim, teve que engolir.
Paciência! Naquele tempo, em Guajará-Mirim acontecia cada uma...
Crônicas Guajaramirenses - O poder do m da palma da mão
O M que lembra a palavra Mãe é o mesmo M que, conforme o Cantador nos ensina: é onde na palma de nossa mão principia o nome Maria.M que se une a ou
Crônicas Guajaramirenses - Olha pro céu, minha gente!
Azul, o nosso céu é sempre azul... Diz uma estrofe do Hino de Rondônia. Será?Bem antes do nosso “Sob Os Céus de Rondônia”, tentaram nos ensinar que:
Crônicas guajaramirenses - Por quê?
Por quê os prédios públicos são tratados pelos homens e mulheres do meu tempo com tamanha indolência? Preguiça, ou será má vontade?Por quê o edifíc
Crônicas Guajaramirenses - As águas negras e as águas barrentas
Sempre me comovo ao observar o encontro das águas, que, no caso rondoniense, são os beijos gelados entre os rios Guaporé e Mamoré e deste com o rio