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Gente de Opinião

Helder Caldeira

Cleptocracia Brasil


HELDER CALDEIRA*

Escritor, Jornalista Político, Palestrante e Conferencista

www.heldercaldeira.com.brhelder@heldercaldeira.com.br

*Autor do livro “A 1ª PRESIDENTA”(Editora Faces, 2011, 240 páginas), primeira obra publicada no Brasil com a análise da trajetória da presidente Dilma Rousseff, e comentarista político da REDE RECORD de Mato Grosso, onde apresenta o quadro “iPOLÍTICA. 

Que me perdoem os jogos patrióticos, mas o Brasil se tornou uma gigante “cleptocracia”. A politicagem rasa e medíocre – prática tão confortavelmente agasalhada – transformou nosso país numa imensa tapera tupiniquim, sem qualquer eira ou beira, e protagonista indelével das piores e mais nocivas práticas do mercadão governamental. Corruptos e corruptores trafegam na certeza da engorda e da impunidade e ao povão brasileiro resta a fundamental tarefa de abastecer o “fluxo de caixa” da bandidagem engravatada.

No último domingo, dia 18 de março de 2012, em extraordinária matéria-denúncia dos jornalistas Marcelo Faustini e André Luiz Azevedo, exibida pela Rede Globo de Televisão, assistimos mais um capítulo novelesco da assombrosa geografia da pilantragem no Brasil. Sem suposições, especulações ou insinuações. Estavam lá – filmadas, gravadas e estampadas – algumas das maiores empresas de prestação de serviços contratadas pelos governos municipais, estaduais e federal ensinando e confessando ao repórter – disfarçado de gestor público de compras – os caminhos da corrupção e o “propinoduto” nos processos de licitação brasileiros.

E o que é pior: não se trata de uma novidade. Todos, sem exceções, sabemos que isso é uma prática corrente entre as empresas e as autoridades públicas. Os únicos que se encarregavam de sempre negar sua existência eram justamente os envolvidos: corruptores e administradores nauseabundos. Talvez a verdade inconveniente nunca tenha sido exposta de forma tão nua e tão crua; que de tão crível, tornou-se inegável – uma redundância apropriadíssima, já que dinâmica de linguagem impraticável no sacolão político brasileiro.

Essas empresas corruptoras, flagradas pelas câmeras e microfones em deslavada fraude e roubo do dinheiro público, não estão preocupadas com perdas ou punições. Os políticos e suas diletas legendas partidárias também não estão. Seus “fluxos de caixa” não vão cair. Ninguém será – ou ficará – preso. Nenhum deles será obrigado a ressarcir os cofres da nação. No dia seguinte, essas empresas já estavam na fila da Receita Federal para emitir outros CNPJ, novos nomes-fantasia sob a fachada de diferentes sócios. Tudo como dantes no quartel d’Abrantes. Tudo igual no país do futebol e do carnaval.

Às excrescências, somam-se dois cúmplices: a podre (in)Justiça do país e a disposição do atoleimado povo, ambos emolientes da impunidade reinante. Não é mais uma questão de financiamento público para campanhas, pacto federativo, reformas políticas, revisão de códigos ou qualquer dessas desculpas ordinárias. Heranças do colonialismo, do feudalismo, da política oligárquica ainda vigente? Que nada! Extinguiu-se a honestidade no Brasil. Honestidade – ou a ausência desta – não é herança. É constituição de caráter, de personalidade. Extinguiu-se a vergonha na cara!

Funciona o escambo – o espelho em troca do ouro, em perfeita imagem histórica e cultural; funcionam as bravatas, gravatas e mamatas; funciona a matemática do político vendilhão e do eleitor bobalhão. Cidadania? No Brasil isso significa trabalhar para sustentar a fortuna dos larápios. Nenhuma “virtú”.  A democracia nunca aportou em solo brasileiro. Por aqui vige a “cleptocracia”. E parece que estamos muito felizes assim. Estamos?

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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