Sábado, 31 de março de 2012 - 13h11
Por Francisco Matias(*)
1.Neste 31 de março de 2012, quarenta e oito anos depois da eclosão do golpe militar de 1964 e vinte e sete anos da redemocratização do país, esta coluna se inicia com uma frase escrita há quase setenta anos, publicada no Manifesto dos Mineiros, na cidade do Rio de Janeiro, em outubro de 1943. Emblemática, a frase fazia referência à Ditadura Vargas, portanto, vinte e um anos antes do ciclo dos generais. Dizia a frase: “Um povo reduzido ao silêncio e privado da faculdade de pensar e opinar é um organismo corroído”. Este pensamento, extraído - como se viu - do Manifesto dos Mineiros, pode ser aplicado, sem erro nem rasuras, ao Brasil atual, dito uma democracia, um pleno Estado de direito, com ampla liberdade de opinião, pensamento, expressão e outras conquistas mais, ratificadas nos dispositivos da Carta Magna de 1988 e no processo eleitoral. Mas, ao que parece, o país vive uma onda de silêncio, pressionado pela ideologia vigente no governo, nas instituições e, sobretudo, na maioria das universidades federais “deste país”. Este quadro está retratado na História recente da política brasileira e na forma como a esquerda, poderosa e bem organizada, procura esconder e até apagar da formação histórica do Brasil. Por sua vez, a direita, amedrontada, com um sentimento de “mea culpa” por ser de ser direita, aceita este desvirtuamento da memória histórica nacional com um silêncio ensurdecedor. Observe-se a ausência de artigos e análises políticas dos grandes pensadores de esquerda, outrora defensores intransigentes das liberdades, do direito de escrever, do livre pensar. Ouça-se o silêncio. Note-se a ausência das matérias na imprensa, das críticas ao governo, antes tão presentes em qualquer revista ou jornal. E a direita, silente, às vezes conivente, cooptada, outras amedrontada, não age nem reage aos fatos. Triste condição da história brasileira, ter de depender de questões ideológicas, da esquerda ou da direita.
2.Mas, não dá para esconder. O golpe militar de 1964 não é uma foto daquelas que o governo soviético mandava alterar para apagar a imagem de um ou de outro considerado “traidor do povo”. Também não é uma condecoração ou título que se pode retirar, como fez a ditadura militar com personalidades como os ex-presidentes JK e Jango. Não é um quadro, nem programa de TV que não se quer ver. É um fato histórico dos mais fortes da história da América do Sul, nos últimos cem anos. Foram vinte e um anos de regime militar de direita, de ditadura militar que começou no dia 31 de março de 1964 e terminou no dia 15 de março de 1985. Neste espaço de tempo muita coisa ocorreu no Brasil, no mundo e aqui em Rondônia. Muita gente nasceu, cresceu, morreu. Até o muro de Berlim foi derrubado. E este é o ponto. A ditadura militar implantada naquela terça-feira, 31 de março de 1964, não teria sido possível não fosse a influência do Muro de Berlim sobre a América do Sul. Não fosse a bipolarização mundial, a diferença ideológica entre os vencedores da 2ª. guerra mundial, EUA, Inglaterra, França e Rússia, e início imediato de uma outra guerra, chamada Guerra Fria (1945-1989). O Brasil, único país sul americano a entrar na guerra, estava do lado vencedor, no bloco liderado pelos EUA e, portanto, ligado à direita capitalista, por mais estranho que possa parecer. Antes, o governo Vargas, flertava a olhos vistos com o nazismo. Depois, já namorava aos beijos e abraços com o capitalismo norte-americano. E assim, ficou meio híbrido na geopolítica do pós-guerra.
3.Ocorre que a maioria dos intelectuais da esquerda, historiadores, principalmente, os que abordam a temática do golpe militar de 1964, preferem passar ao largo deste tipo de análise histórica: o muro de Berlim, o avanço do socialismo na Europa, África, Ásia e América do Sul, e o avanço capitalista no mesmo território. Não fazem referência isenta, salvo raras exceções, ao confronto dos EUA, França e Inglaterra com a União das Repúblicas Socialista Soviética. Não dizem que os dois lados nunca mediram esforços para impor sua geopolítica, fosse como fosse. O Golpe Militar de 1964, chamado por uns de Revolução de 1964, de ditadura militar, seja como for, não ocorreu simplesmente por ocorrer. Todavia, triste do historiador, do intelectual de esquerda ou direita que ousar enveredar por esta linha de raciocínio e mostrar em qualquer trabalho seu, os caminhos tortuosos, mas caminhos, que levaram à eclosão do golpe militar. Um grande intelectual brasileiro, o escritor Luís Fernando Veríssimo, criador da Velhinha de Taubaté durante o governo Sarney, disse certa vez a uma revista de circulação nacional, no primeiro mandato do governo Lula, que havia deixado de escrever “para não parecer reacionário”. Quer dizer: podia até discordar do governo e do que estava ocorrendo “neste país”, mas, jamais ousaria se manifestar. Está se falando de um intelectual do porte de um Luís Fernando Veríssimo.
4.Por isso, esta coluna está ousando, aqui nas plagas do poente, nivelar o debate histórico, sem assumir nenhuma posição político-ideológica, mas com a preocupação de não deixar que o dia 31 de março de 1964 seja apagado da História, nem seus vinte e um anos de ditadura, para que não caia no esquecimento, não saia do debate com isenção histórica e, sobretudo, para que nunca mais isto possa acontecer neste país. Seja por iniciativa da direita, seja por vontade da esquerda. Este artigo será um primeiro de uma série de cinco que virão para que se possa entender este longo período histórico do Brasil.
Historiador e analista político(*)
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