Quarta-feira, 14 de dezembro de 2011 - 20h46
MONTEZUMA CRUZ
Editor de Amazônias
Pioneiros no uso da cabine entre 1976 e 1977, os jornalistas Lúcio Albuquerque (Estadão), Iracema Soares (escrevia para revistas de rádio e televisão), Ciro Pinheiro (Veja) e eu (Folha de S. Paulo) vimos aumentar a concorrência em 1977. Por dois motivos: desembarcava em Porto Velho mais um correspondente, Jorcêne Martínez, do Jornal do Brasil. Corumbaense, ele havia trabalhado oito anos no Rio de Janeiro, boa parte desse tempo no Departamento de Pesquisa do extinto JB. E o comerciante Mário Emanoel Borla Braga, que representava em Rondônia a Cervejaria Brahma de Cuiabá.
Em 1978, na primeira semana de trabalho em Porto Velho, Martínez, portador de deficiência física numa das pernas, derrubou uma máquina de datilografia da mesa da cabine. O JB pagou a conta do conserto. Naquele ano, Jacy Vanderley Fraga assumia a correspondência de O Globo e também freqüentava a cabine. Teria uma breve carreira profissional, pois morreria num acidente automobilístico perto de Humaitá (AM), em 22 de dezembro de 1978.
Em 1982 chegava de Belo Horizonte o jornalista Sidney Martins para trabalhar como correspondente de O Globo e na reportagem de O Guaporé. Retornaria para Minas Gerais, assumindo a chefia da sucursal de O Globo em 1984. O baiano Paulo Correia o substituía. Todos batiam ponto na cabine, fazendo parte daquele período romântico em que o repórter viajava de ônibus por estradas empoeiradas ou barrentas; em barcos, canoas e balsas pelos rios; e aterrissavam nas pistas esburacadas das aldeias indígenas.
Uma revendedora de perfumes Avon levava dezenas de folhas de pedidos anotados manualmente, teclando-os numa incrível lentidão. Quando comparecia à cabine, ela atrasava a previsão de pautas para as chefias em São Paulo e no Rio. O cervejeiro Mário Braga, que monopolizava o outro telex, não se limitava aos pedidos de bebidas. Além de comunicar à Brahma que os caminhões carregados atolavam nos trechos críticos da BR-364, entre Pimenta Bueno e Cacoal, ele passava a manhã toda ou parte da tarde mandando mensagens para o “doutor Tancredo Neves”, nas quais se queixava do “tráfico de influência, das negociatas e das disputas internas no Diretório Regional do MDB (*).”
Algumas pessoas “desligadas”, Mário Braga entre elas, arrebentavam fitas perfuradas no telex. Fazíamos tudo de novo.
Cochilávamos no sofazinho da cabine até o Mário terminar a transmissão. Antes da Embratel, as notícias seguiam por ondas de tropodifusão, sujeitando-se a constantes avarias. Não raro os editores pediam retransmissão.
NOTA
(*) MDB era a sigla do Movimento Democrático Brasileiro, depois PMDB.
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