Segunda-feira, 24 de agosto de 2015 - 06h51
Professor Nazareno*
Porto Velho não é um lugar bíblico, mas assim como no Egito antigo tem também as suas pragas. Se um desavisado turista tiver coragem suficiente e quiser visitar a capital dos “destemidos pioneiros” terá que se adaptar a uma série de intempéries que praticamente só se verifica por aqui mesmo. O inédito turismo de aventura certamente desencantará qualquer infeliz que ouse nos visitar. A primeira das grandes pragas são os viadutos do PT na entrada da cidade. Obra megalomaníaca e desnecessária tem sido um eterno desafio para os homens públicos de Rondônia. DNIT, governadores, prefeitos e várias outras autoridades, por mais que tentem, ainda não conseguiram se desvencilhar dos elefantes brancos. As promessas de conclusão da obra servem apenas para eleger políticos ruins e incompetentes. Já se fala até em implodi-los.
Seguindo o seu roteiro demoníaco pela capital dos rondonienses, o insólito turista encontrará a segunda praga: a ponte escura do Madeira. Sem nenhuma serventia aparente, já que “liga o nada a coisa alguma”, o horroroso e maldito trambolho de cimento e concreto tem servido apenas para aumentar o número de suicídios na cidade. Se fosse implodida prestaria um grande serviço à comunidade. Outra desgraça, ou praga, que atormenta anualmente os portovelhenses são as fumaças das queimadas. Com uma temperatura que beira os 40 graus, os casos de rinite alérgica, sinusite, asma e bronquite aumentam consideravelmente nesta época do ano. Ninguém até hoje conseguiu resolver o caos. Todo verão, Porto Velho desaparece sob uma fumaça densa atestando a pouca ou nenhuma competência de órgãos como Sema, IBAMA e SEDAM.
Mas se engana quem pensa que a rotina de agonia do nosso turista acabou. Tem o Espaço Alternativo, outro descaso público situado bem no caminho do aeroporto. É a quarta praga com que “presentearam” Porto Velho. Obra também eleitoreira, o “cartão de visitas” da cidade está lá como que desafiando a lógica dos homens. Escuro, quente, sujo e totalmente descampado, arrancaram criminosamente suas muitas árvores, funciona como uma espécie de bordel a céu aberto. Rachas, prostituição, além de outros delitos são praticados ali de forma absolutamente normal. Prosseguindo, pode-se visitar o cemitério de locomotivas abandonadas, a quinta praga. A velha EFMM, a “mãe de Rondônia” para os mais otimistas e sonhadores está lá jogada no meio do mato entre ferrugem, insetos e descaso. Patrimônio cultural apenas para os desprovidos de cérebro.
A sexta praga é a lama, nossa companheira inseparável no inverno. As alagações dão o tempero especial com água podre, fedorenta e infecta invadindo as residências. Promessa de campanha, o problema ajudou a eleger o atual prefeito. Só que nada foi feito para resolver o impasse que deve voltar com força total durante as chuvas. A crônica falta de esgotos e água tratada em uma capital de Estado é a sétima praga. Felizes e acostumados com a imundície e a carniça, os acomodados habitantes da cidade nem ligam para esses problemas. Porém, há certamente muitas outras desgraças em Porto Velho. Existe, por exemplo, praga maior do que a Câmara de Vereadores? E a cidade ser sede de uma Assembleia Legislativa? Além da poeira e dos enxames de carapanãs e piuns há também muitos ratos, tapurus, moscas, mutucas e outras pragas. Mas esperamos ansiosamente pela praga maior: uma inusitada chuva de bosta na cidade.
*É Professor em Porto Velho.
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