Terça-feira, 8 de agosto de 2017 - 08h04
Por Wellington Calasans, do Cafezinho
Após duas semanas intensas no Brasil, onde respirei política sob diferentes perspectivas, volto à Estocolmo com a certeza de que há resistência contra o golpe e que, longe de termos a “apatia do povo”, temos uma revolta crescente, silenciosa e, por isso, de difícil contenção.
A redução do papel das Forças Armadas ao de guarda municipal no Rio de Janeiro, por exemplo, é o resumo do tamanho da cabeça e das ideias da turma que assaltou o poder. O povo percebeu nisso o escancaramento da luta de classes, essência do que é este momento de exceção vivido no Brasil.
O ódio que é plantado para inflar candidaturas fascistas não se sustenta por muito tempo como agente integrador, pois estas comunicam muito mais para uma classe média desprovida de conhecimento político e que sequer sabe que é usada como massa de manobra. A dúvida entre o pagamento da conta do cartão de crédito ou da TV por assinatura norteará este segmento da sociedade.
Políticos, jornalistas, ativistas e sindicalistas, com os quais falei, revelaram profundo conhecimento dos problemas atuais. Alguns, mais aguerridos, falam em ações radicais. Outros, mais comedidos, apostam no “fator tempo” para que a revolta que cresce nas pessoas seja uma aliada na reconstrução do país. Em ambos os casos temos o “cair da ficha” do povo como um elemento de resistência.
O povo que por apatia, ignorância, influência da Globo, etc. mergulhou na aventura do apoio ao golpe, agora se sente traído. Sem proposta para esta gigante camada da sociedade, os golpistas vivem uma realidade paralela e descolada do que é visto e vivido nas ruas, redes sociais ou nas pesquisas de opinião pública. O estrago é grande, mas insuficiente para destruir o Brasil e o seu povo.
A nova moda de protesto, “chuva de ovos”, bem sucedida no Paraná e repetida com êxito em Salvador é um recado de que quando faltar ovos os objetos e métodos serão outros. O pobre, os patos e o trabalhador, condenados ao abandono, entrarão em cena e as consequências serão impactantes.
Vai faltar ovos na mesa, os patos serão extintos e do encontro entre o morro e o asfalto nascerá um novo Brasil. Será o primeiro caso de revolução por egoísmo. Cada um defende o seu, mas ambos defendem o coletivo. E como disse Raul Seixas, “o auge do meu egoísmo é querer ajudar”.
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