Terça-feira, 3 de janeiro de 2017 - 17h14
Frei Betto
É curioso como os preconceitos desumanizam. Ficamos estarrecidos com o ato terrorista que, na Alemanha, invadiu uma feira de Natal e ao ver as imagens, em São Paulo, de um vendedor ambulante sendo cruelmente pisoteado por dois assassinos. Mas quem se importa com a morte de dezenas de presos na penitenciária de Manaus?
Os mortos em Berlim eram gente como a gente. O ambulante paulista, um trabalhador honesto que ganhava a vida no comércio informal. Mas e os presos? Não vemos autoridades públicas proclamarem, sem o menor pudor, que “bandido bom é bandido morto”? A Justiça de São Paulo não considerou que o massacre do Carandiru, que deixou 111 mortos, foi apenas um “ato de legítima defesa” da PM?
Ao preconceito étnico que sonega ao preso a sua condição humana para reduzi-lo a mero “elemento” ou “verme” soma-se o de classe. Se amanhã houver uma rebelião na penitenciária de São Carlos do Pinhal (PR) e um único preso da Lava Jato morrer no confronto, então será um deus nos acuda!
O Brasil necessita urgente de uma profunda reforma do sistema prisional. Todos sabem que a omissão do poder público, contentando-se em usá-lo como mero depósito de presos, favorece o empoderamento de facções criminosas. Dentro das grades elas se organizam para comandar o crime aqui fora e assim obter recursos para pagar advogados, corromper funcionários públicos, fomentar o tráfico de drogas e comprar armas.
Em suma, nossas penitenciárias são a caverna do Ali Babá. Embora a chave da caverna esteja nas mãos da Justiça, lá de dentro ele comanda o crime aqui fora, e quem o mantém preso quase nada faz para resgatá-lo à sociedade.
Quando já nem os sinos dobram por homens entregues ao cuidado do poder público é sinal de que a nossa humanidade se esvai na cegueira, na surdez e na indiferença.
Frei Betto é escritor, autor de “Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira” (Rocco), entre outros livros.
Copyright 2016 – FREI BETTO – Favor não divulgar este artigo sem autorização do autor. Se desejar divulgá-los ou publicá-los em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, entre em contato para fazer uma assinatura anual. – MHGPAL – Agência Literária (mhgpal@gmail.com) / http://www.freibetto.org/> twitter:@freibetto.
Pertenço à geração que teve o privilégio de fazer 20 anos nos anos 60: Revolução Cubana, Che, Beatles, Rei da Vela, manifestações estudanti
Democracia e valores evangélicos
No tempo de Jesus, a questão da democracia já estava posta, porém apenas em uma região distante da Palestina: a Grécia. Dominada pelo Impér
Eleitores nem sempre votam com a razão. Muitos votam com a emoção.
O cardeal polonês, de 55 anos, é o principal assessor do papa