Segunda-feira, 27 de julho de 2015 - 20h46
Por Dante Ribeiro da Fonseca
Apesar dos precursores, mencionados no artigo “Proto-História do jornalismo no Brasil e na Amazônia” publicado neste espaço, é somente a partir dos anos de 1870 que observamos um substancial incremento da atividade jornalística no interior amazônico. Vários elementos podem ser relacionados aos fatores limitantes ou à expansão do jornalismo na região durante o chamado I Ciclo da Borracha.
Dentre os fatores limitantes temos primeiramente a alfabetização, que é condição primária para a expansão do jornalismo impresso. Segundo o “Recenseamento Geral do Império de 1872” o Amazonas possuía uma população total de 57.610 habitantes dos quais 49.018 era analfabeta, ou seja, 85% da população. Entre 1872 e 1890 as taxas de analfabetismo mantiveram-se razoavelmente estáveis em todo o Brasil. Não podemos avaliar a evolução dessas taxas no período de 1890 a 1900. A razão é que nesse último censo grandes extensões da área rural foram subestimadas, deixando de computar sua população não alfabetizada, historicamente maior nessa área. De 1900 a 1920 o analfabetismo reduziu de 82% para 68%. Apesar dessa redução, restava somente aproximadamente 1/3 da população cujo acesso direto aos jornais era permitido pela leitura.
Outro fator limitante na Amazônia foi a língua. Os jornais eram publicados em português, mas até a década de 1870 parte indeterminada dessa população era falante da língua geral, o nheengatu. O nheengatu (boa fala) era uma língua artificial resultante da mistura do tupi com o guarani. Foi criada pelos colonizadores portugueses nos primeiros séculos de sua colonização para uniformizar sua comunicação com os nativos. Essa língua foi utilizada amplamente durante muito tempo. A esse propósito é útil informar que em 1860 o poeta Gonçalves Dias realizou uma viagem aos rios Solimões e Negro. Nessa viagem constatou que mesmo nas escolas daqueles rios utilizava-se a língua geral, porque era falada pela maioria dos alunos. Dados esses dois fatores, não é de espantar que a atividade jornalística estivesse concentrada na capital da província até os anos de 1870.
Naquela década a expansão da produção da goma elástica já era um fato. Ao seu final iniciou uma grande migração de nordestinos para a Amazônia. Expulsos de sua terra natal pela seca vinham acrescentar força de trabalho ao setor gumífero. Embora grande parte da população naquela época fosse analfabeta um elemento importante foi acrescentado pela vinda dessas populações. Celso Furtado estima que entre 1872 e 1900 tenham migrado 260.000 nordestinos para a Amazônia. Esse movimento migratório teria atingido 500.000 nordestinos até o ano de 1910. Se considerarmos que a população da Amazônia em 1872 totalizava quase 57.000 habitantes poderemos concluir o tremendo impacto desses migrantes sobre a cultura local. Esses nordestinos eram já usuários da língua portuguesa e exerceram um decisivo papel no abandono do nheengatu pelas populações locais, trocado pelo uso do português que passou a ser a língua hegemônica. As possibilidades do aumento do consumo da informação impressa aumentaram, graças à difusão do uso da língua portuguesa.
Nativos observam o primeiro vapor a navegar no rio Amazonas. Desenho de Édouard Riou para Le tour du Monde. A viagem pioneira iniciou-se em 28 de julho de 1843. |
Outros dois fatores favoráveis à expansão do jornalismo no interior amazônico foram: o crescimento da navegação a vapor e a utilização do telégrafo, ambos a partir da segunda metade do século XIX. Favoreceram eles enormemente o acesso e a difusão das informações.
Assim, então, por uma relação de multicausalidade disseminação do jornalismo no interior da província do Amazonas ocorreu particularmente naqueles rios onde estava em franca expansão a produção da borracha a partir dos anos de 1870. A razão dessa década determinada? É o que veremos proximamente.
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