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José Carlos Sá

Doença não tira esperança da infância



Os olhinhos espertos logo denunciam que aquele não é um menino que fica alheio às inúmeras possibilidades de fazer travessuras. A pulseira, o cordão, a roupinha e os cabelos caprichosamente arrepiados não disfarçam que Eudi, “quase seis anos”, é uma criança vaidosa. O que não dá para imaginar é que esse fã do Ben 10 tem leucemia, o tipo de câncer mais comum entre as crianças atendidas no Centro de Oncohematologia Pediátrica, núcleo do Hospital de Base de Porto Velho. 

O menino é paciente do Núcleo Criança e Vida há quase dois anos e durante esse tempo tem feito uma cansativa viagem de barco e ônibus. Ele mora na localidade Lago do Antônio, em Santa Luzia, distrito de Humaitá, cidade amazonense a 230 quilômetros de Porto Velho. São cerca de nove horas de barco a partir de Humaitá. Uma verdadeira maratona em busca do tratamento para a doença que nem sempre o deixa correr pelas ruas da infância. 

A mãe de Eudi, Ivonete Pereira Docarmo, cuja profissão é “cuidar dele”, passou por cansativas idas e vindas ao hospital de Humaitá até ser encaminhada ao Hospital Infantil Cosme e Damião, em Porto Velho, e então para o núcleo. A mesma peregrinação de hospital em hospital passaram todos os pais ouvidos pela reportagem da Momento. Edivânia Santos, mãe da Geovana; José Maria, pai da Ana; Diógenes Pinheiro, avô do Cássio. 

A demora para se chegar ao diagnóstico pode ser fatal para a criança. Segundo Maria Antônia de Oliveira, técnica de serviços de saúde, é comum ocorrer, principalmente no interior, casos de profissionais que não se atentam para o caso clínico da criança. “Elas chegam aqui sem possibilidade de tratamento”, lamenta. A chance de cura no tratamento de algumas formas de leucemia é de 80%. 

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Na oncopediatria do HB: O sofrimento das crianças/Foto Arquivo Genteopinião



Ainda há descrédito

O médico Robinson Cardoso Machado é especialista em oncohematologias e está na coordenação técnica do Núcleo Criança e Vida desde sua fundação em março de 2005. Ele afirma que nesses quase cinco anos já passaram pelo núcleo mais de mil crianças com os mais variados tipos de cânceres. 

Esse número só não é maior devido, segundo o médico, a dois fatores: “As pessoas desconhecem que é possível o tratamento sem sair do Estado, outras não confiam nos profissionais locais, que trabalham diretamente com a equipe do Instituto de Tratamento do Câncer Infantil da Universidade de São Paulo”. O núcleo, que funciona em um anexo do Hospital de Base, tem 14 leitos quase sempre ocupados.

Diagnóstico após brincadeiras

Cássio, 13 anos, brincava com os amigos quando desmaiou pela primeira vez. Ana, 4, sentia muitas dores, especialmente nas pernas, durante as brincadeiras. Eudi, 4, já não conseguia subir com tanta rapidez nas árvores do quintal. Foi assim, após um dia normal da infância dessas crianças que os pais perceberam que algo não estava bem. 

Após os exames, nenhum médico que atendeu cada uma dessas crianças conseguiu diagnosticar o câncer. Cássio e Ana foram encaminhados do posto de saúde para o Hospital Infantil Cosme e Damião. A mãe de Eudi, depois de idas e vindas ao Hospital de Humaitá, resolveu por conta própria trazer o filho para Porto Velho. Os três chegaram ao Núcleo Criança e Vida após terem passado pelo Cosme e Damião. 

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Geovana com a mãe Edivânia: Uma verdadeira perigrinação/Foto: Eliênio Nascimento

A peregrinação de Geovana, 3, até o núcleo foi maior. Ela mora em uma linha rural de Ariquemes e primeiro foi levada pela mãe para o Hospital de Jaru. Os exames apontaram anemia aguda. Foi levada para Ji-Paraná em seguida para Ariquemes e somente depois de dois meses para Porto Velho. Edivânia conta que a filha está em tratamento há 11 meses, faltam 13. “Ela é forte, esperta. Vai vencer”, diz a mãe da menina, que não fica quieta um instante. 

Outra porta

O pediatra Robinson Cardoso afirma que não é apenas o Cosme e Damião que tem condições de encaminhar para o Centro de Oncohematologia Pediátrica. A Policlínica Municipal Rafael Vaz e Silva também possui aparelhamento e especialistas que podem diagnosticar a leucemia e então enviar o paciente para o tratamento especializado.

NACC precisa de ajuda

O Núcleo Criança e Vida atende pequenos pacientes com câncer de todo o estado de Rondônia e também do Acre e Amazonas. A maioria não tem onde ficar em Porto Velho e até o ano passado contava com a boa vontade dos funcionários da unidade para passar os dias de tratamento. Agora há o Núcleo de Apoio à Criança com Câncer (NACC), uma casa onde o paciente e o acompanhante podem ficar, por exemplo, durante a semana de aplicação da quimio ou radioterapia. 

No entanto, o NACC – localizado na rua Miguel Chaquian - vive de doações. Quem quiser conhecer o local e ver de perto o trabalho que é feito basta entrar em contato pelo telefone 69-3216-5405. Se preferir, pode fazer um depósito bancário na agência 0102 do Banco do Brasil, conta corrente 43.001, em nome do NACC.

Fonte: Marcela Ximenes / Revista Momento
Fotos Eliênio Nascimento

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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