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Gente de Opinião

Dom Moacyr

Missão, cuidado e inclusão!


 
Tema dominante da liturgia, aprendemos neste mês missionário de outubro, também mês da padroeira do Brasil e de grandes festas marianas, algo sobre a resistência dos pequenos e minorias.

O grito dos leprosos significa o grito dos pobres, dos descartáveis e daqueles que a sociedade definiu como os sobrantes, mas que para Deus continuam o “coabsoluto”, pois, “tudo é relativo, menos Deus e a fome” (P. Casaldáliga).

No evangelho de hoje, os pobres se unem; eles têm em comum a mesma doença (Lc 17, 11-19). Nove são judeus e um, samaritano. A miséria humana os une na luta por libertação (VP).

São os descartáveis que buscam por Jesus, o grande médico das almas e dos corpos (dia 18, celebraremos São Lucas, padroeiro dos médicos) aquele que foi enviado por Deus para salvar a todos. Como nas leituras do domingo passado, estamos diante de testemunhos de pessoas de fé.

Em 2015, o Brasil continuava sendo o 2º país no mundo com maior incidência de hanseníase, só perdendo para a Índia. O Brasil registrou 31.568 mil pessoas em tratamento em 2014, incluindo 24.612 novos casos. Embora o Ministério da Saúde tenha divulgado, na ocasião, dados positivos: a taxa de prevalência caiu 68% nos últimos 10 anos, passando de 4,52 por 10 mil habitantes, em 2003 e para 1,42 em 2013. Mas o ritmo da queda não foi suficiente para cumprir um dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, estabelecidos pela Organização das Nações Unidas: eliminar a hanseníase até o fim de 2015, o que significaria registrar no máximo um caso a cada 10 mil habitantes; assim, o Brasil segue com dois títulos perversos: o único país do mundo que não conseguiu eliminar a doença e o que concentra mais casos novos a cada ano.

À exclusão, segue necessariamente a desagregação, a decomposição do tecido social, decorrente da ampliação das desigualdades geradas pela acumulação de riquezas de poucos em detrimento da miséria dos excluídos. O sistema não tem interesse nesta população sobrante e, portanto, não investe nela para a satisfação de suas necessidades básicas: trabalho, saúde, habitação, educação, etc. Para o teólogo Pablo Richard, essa população sobrante é considerada como algo que se tem que eliminar. Assim, vemos desaparecer crianças da rua, desocupados, mendigos, prostitutas, homossexuais, desempregados.. (povos indígenas, membros das nossas comunidades rurais..). População sobrante considerada como perigo, como ameaça, como fonte de ladrões, como a origem de epidemias contagiosas. A morte destes pobres sobrantes é uma morte silenciosa, inútil e até quase desejada.

Ser Igreja missionária é trabalhar com coragem não para os pobres e sim, a partir dos pobres e com os pobres, “para que Deus passe por esse mundo desumano” (V.Codina). A misericórdia não é suficiente, mas é absolutamente necessária num mundo que faz todo o possível para ocultar o sofrimento e evitar que o humano seja definido a partir da reação a esse sofrimento (J.Sobrino).

“Cuidar da Casa Comum é nossa missão” é o tema da Campanha Missionária que acontece neste mês, em sintonia com a Encíclica “Laudato si”, retomando a temática da Campanha da Fraternidade Ecumênica que amplia a missão de cuidar e defender a vida no planeta.

Na “Laudato si”, papa Francisco expressa a necessidade “de uma política sã que pense com visão ampla” e seja “capaz de romper uma lógica perversa” e seus “discursos inconsistentes” a fim de “enfrentar os grandes problemas da humanidade” (LS 197).

A política e a economia tendem a culpar-se reciprocamente a respeito da pobreza e da degradação ambiental. Mas o que se espera é que reconheçam os seus próprios erros e encontrem formas de interação orientadas para o bem comum.

Enquanto uns se afanam apenas com o ganho econômico e os outros estão  obcecados apenas por conservar ou aumentar o poder, o que nos resta são guerras ou acordos espúrios, onde o que menos interessa às duas partes é preservar o meio ambiente e cuidar dos mais fracos (LS 197-198).

Papa Francisco, em sua Mensagem para o Dia Mundial das Missões, que vai acontecer no penúltimo domingo do mês (este ano, dia 23), convida-nos a viver a experiência de uma “Igreja missionária, testemunha de misericórdia”, olhando “a missão ad gentes como uma grande, imensa obra de misericórdia”.

Como Igreja, temos “a missão de anunciar a misericórdia de Deus, coração pulsante do Evangelho” (MV 12), e anunciá-la em todos os cantos da terra, pois o Pai, “desde o princípio, se dirige amoro­samente aos mais vulneráveis, porque a sua grandeza e poder manifes­tam-se precisamente na capacidade de empatia com os pequenos, os descartados, os oprimidos” (Dt 4,31; Sl 86,15; 103,8).

A misericórdia encontra a sua manifestação mais alta e perfeita no Verbo encarnado. Ele revela o rosto do Pai, rico em misericórdia (DM 2); a primeira co­munidade que, no meio da humanidade, vive a misericórdia de Cristo é a Igreja; quando os discípulos de Jesus per­correm as estradas do mundo, é-lhes pedido aquele amor sem medida que tende a aplicar a todos a mesma medida do Senhor; anunciamos o dom mais belo e maior que Ele nos ofereceu: a sua vida e o seu amor.

Os missionários sabem, por experiência, que o Evangelho do perdão e da misericórdia pode levar alegria e re­conciliação, justiça e paz. O papa conclui sua mensagem reafirmando que o mandato do Evangelho nos impele, nos cenários presentes e desafios atuais, a sentir-nos chamados para uma renovada “saída missionária” (EG 20), a revigorar o anúncio do Evangelho até os últimos confins da terra e a socorrer as co­munidades cristãs necessitadas de ajuda.

Nesta semana, de 14 a 16 de outubro acontece em Porto Velho (OSEM) o 1º Congresso Missionário do Regional Noroeste com assessoria de missionários da CNBB, presença de nosso arcebispo, Dom Roque Paloschi e participação das dioceses do sul do Amazonas, Acre e Rondônia. Antecede o Congresso, a Novena Missionaria que acontece nas paroquias desde o dia 04 e se encerra no dia 13.

A missão por sua natureza é sempre um serviço de partilha, comunhão e solidariedade. Assim o testemunho de vida do sacerdote e missionário FRANCO ALBANESI.

Dentre os missionários que serviram a Igreja missionária de Porto Velho, nossa homenagem ao Padre Franco Albanesi, que partiu para a Casa do Pai, no dia de São Francisco, 04 de outubro e foi sepultado em Foligno, arquidiocese de Spoleto-Norcia, província de Perugia na regia da Ùmbria, Itália.

Padre Franco nasceu no dia 11 de setembro de 1935, foi ordenado em 29 de junho de 1962 e veio para o Brasil em 1973, como missionário “fidei donun”, tomando posse como vigário cooperador da Paróquia de Santo Anastácio (SP), no dia 22 de abril, juntamente com o pároco que havia chegado com ele, padre José Sometti. Com a transferência deste para outra cidade, padre Franco assumiu como pároco no dia 8 de julho, permanecendo aí ate janeiro de 1985, data de sua transferência para a Arquidiocese de Porto Velho.

No oeste paulista, pe. Franco marcou sua passagem pela construção de vários centros de comunidade e a criação de várias pastorais, realizando nessa região seu sonho missionário, como testemunhou no dia que assumiu a paróquia: “desejo formar entre nós uma comunidade, onde o amor seja o ponto alto de nossa caminhada”. Deixou marcas ainda vivas nos fiéis de Santo Anastácio, Piquerobi e outros municípios da diocese de Presidente Prudente.

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Padre Franco Albanesi (E) Padre Eduardo (C) e Padre Rui Feitosa (D), na durante homenagem
na Câmara de Porto Velho, com a
"Moção de Aplauso", em abril de 2013.

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Em Porto Velho, foi o dinamizador do Seminário Maior Arquidiocesano João XXIII, desde sua reestruturação, organização e acolhida dos seminaristas das diversas dioceses do Regional Noroeste da CNBB, contribuindo para a formação de um clero autóctone com identidade amazônica.

Formador, na área Litúrgica e Bíblica, foi incansável na capacitação dos catequistas, leigos e seminaristas. Esteve a frente das paróquias Santa Luzia e outras, mas na paróquia Nossa Senhora do Amparo contribuiu para sua criação, desenvolvimento e, sobretudo, acompanhou o nascimento de tantas Comunidades Eclesiais de Base, lutando por melhorias e reconhecimento de vilas e bairros na zona leste de Porto Velho. Nos últimos anos de sua missão em Porto Velho, foi o chanceler da Arquidiocese, diretor espiritual do Seminário e vigário da Catedral, cujo pároco era Padre Emilio La Noce.


Reveja o Padre Franco Albanesi, na reportagem de 11 anos de fundação da Paróquia
Nossa Senhora do Amparo, no jornal "Arquidiocese em Notícias" da Rede Vida-PVH, em 2002.

Ao padre Franco, missionário da Amazônia, pelo tocante testemunho de vida e fé, inclusão e missão, nossas preces e gratidão!

A Paróquia Nossa Senhora do Amparo, situada na Av Amazonas, 4050 (Bairro Agenor de Carvalho), convida a comunidade para participar da celebração da missa de 7º dia pelo falecimento do seu antigo pároco e fundador, Padre Franco Albanesi, amanhã, segunda-feira (10), às 18:30.

* O conteúdo opinativo acima é de inteira responsabilidade do colaborador e titular desta coluna. O Portal Gente de Opinião não tem responsabilidade legal pela "OPINIÃO", que é exclusiva do autor.

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