Terça-feira, 16 de setembro de 2014 - 06h47
No capítulo de hoje, o jornalista e escritor Montezuma Cruz, fala de como nasceu o livro “Do Jeito Que Vi” além de nos deixar por dentro, de como era a vida boêmia em Porto Velho no tempo do garimpo de cassiterita. “Quantas vezes amanheci no bar Arapuca que ficava no Trevo do Roque apreciando o dia raiar e o Paulo Queiroz admirando o orvalho nos pára-brisas dos caminhões ao lado das nossas ‘amadas”. O jornalista que hoje presta serviço no Departamento de Comunicação do Governo de Rondônia – Decom lembra dos tempos do nascimento do Mercosul em 1991. “Participei de uma reunião em Manaus na qual os empresários da Zona Franca não aceitaram vender seus produtos em Foz do Iguaçu alegando que ‘aquilo é terra de contrabandista”.
Lembra de quando um policial da PM ao dar o baculejo na bolsa de um jornalista apresentador do Jornal de Rondônia encontrou um Ruge e disse: “Isso é jornalista coisa nenhuma, é uma bichona”. As histórias do Repórter Andarilho apesar de termos divulgado que seriam três edições, termina com a publicação deste capítulo.
E N T R E V I S T A“Montezuma Cruz – ... Na Argentina vi a dolarização levar o país ao fundo do poço no governo Menem e no período de 1991 vi nascer o Mercosul...
Zk – Essas viagens o levaram a escrever o livro “Do Jeito que vi?"
Montezuma Cruz – O livro não conta nem a metade das andanças, ainda devo muito pra Rondônia, espero no próximo livro publicar o capítulo “Ouro” essa história já tem 30 páginas escritas. O título Do Jeito que Vi é porque nem sempre do jeito que você ver é igual o que o se colega profissional, o político, o religioso vê. No caso do nosso livro é do jeito que o repórter viu!... Então foi o surgimento do Mercosul em 1991, a União Européia adotou o Euro o Mercosul nasceu e não tinha moeda. Era um fenômeno que a gente via na discussão sindical, em debates polêmicos entre engenheiros agrônomos, no controle fito sanitário, no controle de fronteira, da harmonia cultural que nunca houve. Os Argentinos divulgavam o Tango os Paraguaios a Polca e a Guarânia e nós com o nosso samba e outros ritmos, porém, não há a integração cultural. Na argentina vi uma vantagem, tinha mais escola ensinando português naquelas provinciais do que nós ensinando espanhol.
Zk – Em suma
Montezuma Cruz – O Mercosul era aquilo ali. Agora foi que eles estenderam para a Venezuela, Bolívia, mas ele nasceu mais um acordo comercial daqueles quatro países, Uruguai, Brasil, Paraguai e Argentina. Tem um detalhe importante que precisa ser dito. Nós com essa propulsão que existem aqui em Rondônia e o Acre de conseguir exportar esse crescimento vertiginoso dos grãos do Noroeste de Mato Grosso, a ferrovia que vem de Mato Grosso traz pra discussão, pro debate um acordo comercial muito maior. Como é que vamos enfrentar os Estados Unidos e o México se não temos um Mercosul que abranja o Brasil todos. Se o Brasil é sócio do Mercosul pressupõe-se que desde lá do Caburai até no Chuí o acordo vigore o fabricante de calçado, o fabricante de suco os colares de pera dos índios tem que ter preço tem que ter menos taxação. Percebi umas desavenças muito grandes.
Zk – Por exemplo?
Montezuma Cruz – Não havia acordo e com isso um fato pitoresco aconteceu, prenderam 14 cavalos de um circo que ficaram retidos na Aduana passando fome e morreram dentro de um container gigante esperando a visita da Vigilância Sanitária. Vi muita greve de camionheiros, muita mercadoria de sacoleiros serem apreendidas e muito contrabando saído de avião. Quando fiz uma reportagem que consta do livro, apenas umas 20 linhas, publicada na Folha de Londrina falando que o contrabando aéreo era superior dez vezes a dos sacoleiros, o Comando Aéreo de Curitiba Sindacta s pronunciou, as autoridades da Receita Federal de Foz do Iguaçu se pronunciaram, era realidade e é até hoje o avião sai de Quito carregado de televisores, equipamento de informática e praticamente ninguém fiscaliza e o sacoleiro é o de menos. Os sacoleiros é uma necessidade pra Foz que tem o quinto parque hoteleiro do País, tanto que já houve uma proposta de se vender os produtos da Zona Franca de Manaus lá, para fazer frente aos produtos chineses, tailandeses.
Zk – Por que não deu certo essa proposta?:
Montezuma Cruz – O Clube de Diretores Lojistas de Manaus na Páscoa de 1993. Eu estava presente na reunião, não concordaram alegando que ali era reduto de contrabandistas, isso aí não presta é contra o Brasil deixa esse negócio de Foz do Iguaçu pra lá, deixaram de vender com o aval do governo federal e da prefeitura de Foz. São umas coisas contraditórias que percebi na profissão nas minhas coberturas, projetos que poderiam dar certo. Da mesmo forma se a Funasa existisse nos tempos no tempo de Apoena Meirelles a situação indígena em Rondônia era outra, não haveria tanta matança de garimpeiro, tanta matança de índios. Quando se fala na matança daqueles 29 garimpeiros em 2004 tem que se falar também que há 40 anos os índios foram trucidados lá no Norte de Mato Grosso, Serra Morena, no Paralelo 11 quando mataram índias grávidas. Mataram também no Seringal Muqui, o senhor Raul Espanhol na época comandava um grupo de jagunços pistoleiros, que matavam índios assim brincando. As mineradores utilizavam em suas guaritas Fuzil com o cano serrado, não sei pra que, mas, eram bem guarnecidas.
Zk – Agora vamos lembrar os tempos do jornalista boêmio do tempo que era bacana frequentar as boates do bairro do Roque?
Montezuma Cruz – A boemia era regra e essa regra a gente cumpria. Deixávamos a redação totalmente sóbrios. O Lúcio Albuquerque e o Ivan Marrocos no período da Tribuna quando encerrava a edição, eles iam pros seus lares e nós íamos pra noite, no bairro do Roque me lembro até hoje, havia três boates Copacabana, Paissandu e Rio Mar e tinha de quebra o Bar chamado Arapuca. Quantas vezes, vi o sol nascer no Arapuca o Paulo Queiroz achava aquilo bonito poético, o sol nascendo iluminando os pára-brisas dos caminhões e a gente ali com nossas amadas, Não há mistério nenhum em dizer o quanto nossas companheiras sofreram naquela época, Tinha o Degas que vendia sopa no meio da rua e o seu trailer era puxado por um boi de carroça. Quando me encontrei com o Cloter Motta e o Maurício Calixto que foram conhecer essa noite que tantos falavam, foram conhecer no auge do garimpo. Quantas vezes vimos os garimpeiros fechar boate ninguém entrava ninguém saia. Vimos também à polícia fazer uns baculejos por lá!
Zk – Tem algum fato pitoresco dessa época?:
Montezuma Cruz – O Mauricio Faref correspondente da rádio Nacional, ele apresentava o Jornal de Rondônia no tempo do Ubiratan Sampaio, era numa casinha azul que até hoje ta ali na Gonçalves Dias, naquele tempo não tinha externa era só o sujeito apresentando, assim aconteceu com o Bonifácio que apresentava o Bom Dia Rondônia do qual fui o primeiro redator por ordem do Eudes Lustosa(Foto). Veja só, Mauricio Faref no baculejo abre a sacola pra mostrar pro PM o que existia dentro e lá estava o RUGE. Aí o PM reagiu: Esse cabra diz que é jornalista e carrega ruge na bolsa isso é uma bichona. O Ruge era usado para tirar o brilho da face na hora da apresentação do jornal. Para o PM era coisa de viado!
Zk – Sempre no Roque?
Montezuma Cruz – A gente visitava outros pontos, outras boates conhecidíssimas também como a Anita, Maria Eunice, Tartaruga, Cambuquira a gente passava por lá e se o ambiente não estivesse propício para nossas aventuras à gente ia pra Sopa do Januário.
Zk – Fala a respeito da boate do Junuário?
Montezuma Cruz – Era igual à Taba do Cacique mais era uma Taba pobre o Carmênio mantinha a Taba eclética frequentada pela alta sociedade, políticos, jornalistas, advogados, dirigentes de empresas mineradoras altos funcionários do governo e no Januário era um bailão daqueles arrasta pé parecidos com os bailes gaúchos. Seu Januário atendia muito bem a gente. Ele tinha uma memória incrível tanto que um dia o encontrei e já não existia mais a boate, era uma loja de roupa e ele perguntou “E o outro?” Ele queria saber do Jorcenez Martinez que era um andarilho da noite também. Nossas andanças pela noite de Porto Velho coroaram o período jornalístico, No dia seguinte a gente chegava ao jornal e o assunto do dia era quais pontos a gente foi.
Zk – E família?
Montezuma Cruz – Tenho família constituída. Meus três primeiros filhos foram criados aqui em Rondônia. Depois tive mais três com uma segunda esposa e mais dois com uma pessoa com quem me relacionei. São oito filhos mais dois netos que criei em Brasília. Todos os filhos crescidos e se encaminhando pra vida. Uma das filhas é eximia cozinheira em Campinas estudou em Goiânia, outra lança nesta semana em Brasília o livro chamado “Plágio” uma pesquisa que levou muito tempo e um tema muito recorrido no Brasil hoje. Fico feliz em ver meus filhos encaminhados. Tenho uma filha que hoje é médica que nasceu aqui na Maternidade Darci Vargas.
Zk – Você chegou a escrever pro Diário da Amazônia?
Montezuma Cruz – Sempre fui admirador do Diário da Amazônia. O Emir Sfair quando veio fundar o jornal com o Waldir Costa fizeram uma incursão no jornalismo de Rondônia nos costumes locais da mesma maneira, que fez o Mario Calixto no O Estadão do Norte trazendo também pessoas do Paraná como foi o caso do Paulo Martins, Carlos Sperança. O Diário se consolidou, hoje é um jornal que abre muito espaço aos temas econômicos, culturais e também políticos é um jornal que tem opinião. É um salto muito grande em tempo de mídia digital, ter um jornal impresso de qualidade.
Maurício Calixto (E), Carlos Sperança (C) e Clayton Pena (D)
Zk – Para encerrar essa nossa conversa. Passa para a juventude que hoje está fazendo jornalismo o que devem fazer para se tornar ou pelo menos chegar perto, da competência de um repórter como você?
Montezuma Cruz – Não é bem um segredo. Fazendo parte dessas aves antigas que aprendeu quando era repórter de esporte. Comecei fazendo reportagens esportivas dentro do vestiário de uma cidadezinha do interior de São Paulo e comecei a frequentar a redação. Naquele tempo não havia curso de comunicação a gente estudava até por correspondência, Instituto Universal, Instituto Técnico Profissional do Rio de janeiro, meu pai pagava quinze cruzeiros (CR$), eu entregava O Estado de São Paulo pra ele e ele me pagava CR$ 15. Aí começava aprender diagramação, pirâmide, lide, sub lide, de que maneira você apura uma matéria e pode guardá-la para publicar no fim de semana (hoje isso é impossível). O segredo é se dedicar sempre a profissão com vontade, é aquilo que se diz: "Lê até bula de remédio”. Posso dizer, vim ler bula de remédio agora, depois dos sessenta, mas, lia Almanaque Capivarol, Almanaque do Biotônico Fontoura. Aqui em Porto Velho conseguia ler dois três jornais de São Paulo e em Brasília conseguia ler quatro cinco. Antes do computador, antes da Internet quem teve a sorte de militar na imprensa naquela época guardou isso aí dentro de si como uma arma, uma alavanca pra poder alcançar a mídia digital. Confesso a você, sou analfabeto em Watsapp e até em telefone celular.
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