Sexta-feira, 2 de novembro de 2007 - 08h36
HISTÓRIA - Cemitérios são considerados espaços sagrados que, inevitavelmente, fazem parte da vida cotidiana.
Os cemitérios, por mais que as pessoas não pensem a respeito, são locais de vida. Embora ocupados pelos mortos são também, em geral, museus que guardam parte da história humana, mas, ao contrário do que se pensa, também são fontes de problemas ambientais e sanitários. Em geral os cemitérios modernos são feitos afastados das cidades, porém, em muitos locais, com o avanço da urbanização os cemitérios acabam encravados ou por serem obstáculos para o progresso. Há, hoje, em dia toda uma concepção de que os cemitérios para serem preservados precisam ser higiênicos, terem beleza e obras arquitetônicas, respeito às normas do meio ambiente e serem tratados por especialistas que entendam do assunto. Não bastam que existam muitos mortos para que o cemitério seja histórico. Efetivamente precisa ter monumentos tumulários ou obras de arte. Se não possuem a visão moderna é que podem, desde que tomadas às precauções devidas de recuperação de acervo e respeito aos mortos, serem transladados sem qualquer problema. È o que deve ocorrer, por exemplo, com o Cemitério de Santo Antônio.
Cemitério é história
Cemitérios são considerados espaços sagrados que, inevitavelmente, fazem parte da vida cotidiana. Embora seja objeto de representações individuais dos vivos e objeto de temor ou de fantasias, inclusive de aparecimento de almas ou visões, são, de fato, pequenas cidades, sendo regidos por lógicas de organização e de planejamento que movimentam negócios e mostram estratificações sociais identificadas seja pelos enterros, movimentações transitórias, seja pela riqueza, ou pobreza dos jazigos, ou mesmo pelas ruas que separam os túmulos. Cemitérios são também espaços de arte com sua exposição de anjos, santos e esfinges que lançam olhares inexpressivos aos visitantes como se fossem guardiãs do sono eterno. Sob as construções feitas de pedras e tijolos, frias e duráveis, que parecem ecos da eternidade, encontram-se corpos em processo de decomposição. Os cemitérios, como a vida humana, têm seu lado escuro, porém cemitérios são pura história. Por meio deles também se pode ler um processo de implantação de uma ordem cultural desenvolvida por grupos sociais e a sua inter-relação com a existência humana e sua finitude. Neste caso, a cultura é vista com a perspectiva de como as sociedades elaboram e partilham seus símbolos, signos, práticas e valores como expressões e traduções da realidade. Cemitérios traduzem a sensibilidade de uma época refletida na materialidade, no espaço construído para retratar o real e o imaginário do ser humano, frente ao que ele sabe e desconhece da vida. Cemitérios são, no fundo, uma expressão do relacionamento do homem com a morte, daí que tem sofrido variações ao longo da história, revelando, assim, sua cultura através de suas práticas funerárias.
Origem e evolução
Cronologicamente as edificações dos cemitérios na antiguidade foram às catacumbas cristãs. Eram nas paredes das galerias subterrâneas, que se faziam as tumbas para enterrar os mortos e também o local utilizado pelos primeiros cristãos para se reunirem secretamente no período em que ainda eram perseguidos. O sepultamento em terra tinha um significado importante, pois perspectiva religiosa levava à preservação dos lugares considerados santos, e o cemitério passou a ser considerado um desses espaços. Isto se efetuou em face da fé dos cristãos, podendo ser identificada como elemento responsável pela mudança de comportamento de muitas pessoas em relação a prática de enterramento. Outro elemento que também contribuiu para que o incentivo aumentasse foi a valorização do culto aos mártires, concedido por parte da instituição eclesiástica, que atraía para seus túmulos pessoas de outros lugares. Diante disto, ser enterrado próximo a esses túmulos significava proteção para o momento do despertar, tendo esse pensamento fundamentado na crença de que os santos possuíam lugar garantido no paraíso. Daí também surgiu a prática de, em muitos desses locais, edificar basílicas, que além da sua função religiosa também serviam para alojar os mortos. Esta prática de enterrar em solo sagrado foi se ampliando ao longo do medievo e muitos cemitérios em espaços abertos foram sendo deixados de lado, passando a se localizarem próximos às igrejas.
Todavia transformações significativas dos cemitérios aconteceram ocorreram a partir da primeira metade do século XVIII, quando foram levados para fora dos jardins e do interior das igrejas. Com isto, os mortos passaram a ser velados e enterrados no circuito íntimo da família. Esta postura veio acompanhada pela redefinição da noção de ritual e da intensificação para individualizar a sepultura, antes privilégio da nobreza e do clero. Também novos critérios médicos foram desenvolvidos, pois a grande quantidade de túmulos, no convívio com os vivos, preocupava os higienistas, que passaram a alertar a população para o grande perigo dessa proximidade. Desenvolveram até mesmo uma a "doutrina dos miasmas", mau-cheiro, chorume e outros odores desagradáveis que segundo os médicos influem na saúde humana, para fundamentar a nova maneira de pensar e agir. Foram as preocupações de parte dos médicos que acusavam os problemas causados pelos corpos que estavam em processo de decomposição, uma vez que emanavam das sepulturas vapores ou fumaça que transtornava o ar que interferiam diretamente na saúde do ser humano, causando alguns tipos de doenças. Por esta nova perspectiva, a presença do morto se tornava inconveniente e representava perigo aos vivos. De lá para cá os cemitérios tem, cada vez mais, sido pensados como espaços que devem ser isolados da presença humana e, esteticamente, tornados mais bonitos.
Cemitério e meio ambiente
Nos tempos atuais a qualidade de vida e os problemas ambientais urbanos estão correlacionados, porque a urbanização é um fato que traz problemas que afetam a vida da população. Hoje já se sabe que qualquer alteração no ambiente, reflete numa cadeia de conseqüências. Essas alterações influenciam na qualidade do meio urbano e conseqüentemente na qualidade de vida das pessoas. Neste sentido os cemitérios podem ser uma fonte geradora de impactos ambientais. Pode haver a contaminação tanto de águas subterrâneas como de águas superficiais, e também dos solos. Esta contaminação é ocasionada pela infiltração das águas pluviais, como um agente de transporte, que em contato com os líquidos da decomposição dos cadáveres, contaminam os aqüíferos. Assim não há como, modernamente, a implantação de um cemitério não requerer todo um estudo do impacto ambiental o que faz com que se desaconselhe a implantação ou manutenção de cemitérios próximos as aglomerações urbanas. De forma que à medida que o crescimento rural e suburbano continua a caminhar na direção do interior, as comunidades têm de enfrentar o problema dos cemitérios que se interpõem em seu caminho. É uma luta entre o passado e o presente, em seu aspecto mais rígido. Não existe uma solução fácil, já que muitos arquitetos não têm sequer acesso aos mapas que indicam a presença das áreas sagradas. Geralmente isto se constitui num grande problemas, principalmente porque pessoas interessadas em história ou ONGs costumam criar enormes problemas em torno da questão, porém, o importante é preservar o que for possível da história sem deixar de reconhecer que o progresso é inevitável e que, muitos cemitérios, desde que não tenham riquezas arquitetônicas ou tumularia, terão que ser transladados para a rápida expansão do crescimento, novos shopping centers e outros projetos que, com freqüência, são construídos em torno de espaços que antes eram refúgios de paz. Em Porto Velho, por exemplo, isto vai ocorrer com o Cemitério de Santo Antônio por causa da usina que lá será instalada. Não tem sentido punir os vivos, impedir a melhoria de vida das pessoas por causa dos mortos. O importante é que sejam feitas as recuperações históricas devidas, que se tome o cuidado e as providências para, na medida do possível, cuidar eficientemente do acervo que houver, respeitar a vontade de translado dos parentes que forem vivos, enfim tratar a questão com especialistas que entendam do assunto. Esta é a preocupação que deve nortear o translado do cemitério. O resto, de fato, são interesses menores ou falta de visão do tempo atual.
O Cemitério da Candelária e sua realidade
Muito se tem dito a respeito do Cemitério da Candelária, mas ele só funcionou para estrangeiros, até 1912, apenas uma exceção foi feita para o sepultamento de uma pessoa não alienígena: uma jovem brasileira chamada Lydia Xavier, segundo o médico, antropólogo e historiador Ary Pinheiro, citado por Yêdda Pinheiro Borzacov em seu livro "Porto Velho, 100 anos de história." Trata-se da brasileira Lydia que no seu tumulo tem inscrição em inglês. Seu discreto enterro visou evitar um escândalo na sociedade de Porto Velho. A jovem era amante de um engenheiro norte-americano e o romance não podia ser revelado. Lydia, após uma briga o amante, suicidou-se se envenenando com um corrosivo. Há versões fantasiosas de que, no local, haveriam mais de cinco mil pessoas, mas, não há fatos concretos. O que há de concreto é que a história dos primeiros tempos de Porto Velho está sendo recuperada com base em documentos do acervo do Centro de Documentação Histórica do Tribunal de Justiça do estado de Rondônia por uma equipe chefiada pela historiadora Nilza Menezes que examina processos judiciais, livros cartoriais de Imóveis e Registro Civil que que têm registros a partir da instalação da Comarca Santo Antonio do Rio Madeira no ano de 1912.
De fato lá, presume-se, existiriam, e há evidências sólidas para se pensar que seja um número aproximado, cerca de 1500 pessoas, mas sem nomes, sem lápides, em túmulos escondidos pelo matagal. Não se sabe quem eram nem de onde vieram, mas, com certeza, são das várias nacionalidades que participaram da construção da Madeira-Mamoré elencadas como 22 nacionalidades. Não há muito sentido em dar importância histórica ao cemitério e transforma-lo num ponto de referência histórica, cultural, e turística da cidade na medida em que ali se transformou num matagal abandonado sem qualquer monumento que sequer lembre que se trata de um campo santo. Há somente um bosque que se formou sobre ele resultado da recuperação da floresta. Não há sentido em numa área tão nobre conservar a lembrança de um cemitério que reconhecidamente não tem monumentos materiais.
Os problemas atuais
Pouca gente sabe, mas, é cada vez mais complexa a manutenção de um cemitério. Muitas vezes, eles ficam cheios e, nos modernos, as gavetas do cemitério precisam ser desocupadas para permitir novos sepultamentos. Em alguns é pratica o sepultamento coletivo, depois de três anos, para permitir um maior espaço. As famílias precisam, então dar um destino aos ossos, pois o ossuário não pode suportar por muito tempo sem realizar um sepultamento coletivo, pela grande quantidade de ossos que acumulam.
No cemitério existem catálogos dos restos mortais que não foram procurados pelas respectivas famílias. Após os três anos do enterro, os ossos podem ser transferidos para o ossuário, sempre por iniciativa da família. Se esta não se pronunciar, a retirada, em geral, é feita pelos órgãos públicos guardado durante mais um ano, até fazer o sepultamento coletivo.
È comum nos cemitérios brasileiros que estes sejam mantidos por órgãos públicos, no caso de Porto Velho, a Secretária Municipal de Serviços Públicos-SEMUSP que não possuem recursos nem gente especializada para tratar do problema, além disso, faltam vagas para sepultamentos nos cemitérios municipais urbanos, havendo a necessidade urgente da construção de um novo cemitério público municipal em Porto Velho o que se torna extremamente difícil pelos custos e pelos problemas ambientais existentes. Quem entende do assunto cita exemplos de outras regiões do país em que foi muito mais barato e mais fácil negociar com os cemitérios privados existentes para solucionar o problema do que fazer um novo, afora que os problemas de conservação e paisagismo dos campos santos não ficam afetos ao município o que torna a solução ainda mais aceitável e econômica. Todo ano, aliás, os jornais e meios de comunicação repetem a mesma ladainha do péssimo estado dos cemitérios. É comum que, para amenizar a situação, quando chega próximo do dia de finados se faça uma caiação do local e alguma limpeza, porém, é meramente uma medida superficial que esconde o grave problema do monitoramento da qualidade dos cemitérios urbanos do país.
Turismo em cemitérios
É possível que, à primeira vista, as pessoas estranhem a existência do turismo em cemitério, mas, se raciocinar bem, verá que não há nada de excepcional na atividade. Também nada tem a haver com fantasmas e almas do outro mundo ou qualquer coisa extraterrena. O certo é que, mesmo com uma aparência muitas vezes triste, os cemitérios, em especial os mais antigos guardam belas e ricas surpresas para quem se dispõe a entrar neles. Em muitos se podem ver galerias de arte a céu aberto e encontrar peças e esculturas assinadas por artistas famosos. Na França e na Argentina, por exemplo, alguns cemitérios são pontos turísticos clássicos que atraem milhares de viajantes do mundo inteiro como, por exemplo, os Cemitérios de Pére Lachaise, em Paris, que recebe mais de um milhão de pessoas por ano, e da Recoleta em Buenos Aires.
Turismo no cemitério é uma prática cultivada em várias partes do mundo como forma de divulgar a história e a cultura de uma cidade. E a procura por esses concorridos pontos turísticos se processa também por muitos terem entre seus "moradores eternos" nomes famosos que marcaram presença na história, no esporte, nas artes ou na política. No entanto, também a beleza da arte tumulária presente nos cemitérios contribui e muita para a sua fama. No Brasil são exemplos magníficos da arte tumularia, em São Paulo, os cemitérios da Consolação, Araçá, Paulista e Morumbi. No Rio de Janeiro, Bahia e Recife também encontramos acervos de arte tumulária.Em Porto Velho há o Cemitério dos Inocentes que, inclusive, tem toda uma quantidade de túmulos e imagens que, certamente, merecem uma visita por sua beleza. É preciso apreciá-las com olhar de quem está num museu. Verá, então, diferenças entre peças da belle époque, barroco e art noveau. Vale a pena dar uma olhada.
Significado do termo "cemitério"
A palavra cemitério do grego koimetérion, "dormitório" do latim coemeteriu, era a designação, a princípio, do lugar onde se dorme, quarto, dormitório. Foi com a influência do cristianismo que o termo tomou o sentido de campo de descanso após a morte. O cemitério também é conhecido como necrópole, carneiro, sepulcrário, campo-santo e vários eufemismos, como "cidade dos pés juntos" e "última morada". A palavra teve uma evolução semântica ao longo do tempo, impondo-se definitivamente na língua francesa, desde o século XVI. Em inglês o emprego da palavra cemetery na linguagem corrente só aparece muito depois. Churchyard ou graveyard só foram substituídas por cemetery no século XIX e para designar, por oposição, uma outra forma de cemitério, o rural cemetery. Na terminologia hebraica, o cemitério é designado por termos bastante surpreendentes: Berth Olam (casa da eternidade) e beth ha'hayim (casa da vida).
Fonte: BSATI - Jornal ALTO MADEIRA do dia 21/22 de outubro de 2007.
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