Quinta-feira, 20 de outubro de 2016 - 10h53
Frei Betto
Bastou chegar à Câmara dos Deputados a notícia de que Eduardo Cunha tinha, afinal, sido preso, para a sessão de ontem ser imediatamente suspensa, às 15h, em plena quarta-feira.
Foi um Deus nos acuda! Ou melhor, aqueles que têm rabo preso saíram às pressas em busca de notícias e orientações de como evitar um tsunami político: a delação premiada do ex-todo poderoso presidente Câmara. (O tsunami financeiro já foi desencadeado: a delação premiada dos réus da Odebrecht).
Ninguém ignora que Eduardo Cunha sabe muito. Como o mágico do teatro de bonecos, ele trazia em mãos os fios que manipulavam os movimentos de inúmeros aliados. Preso o mágico – até porque o feitiço se virou contra o feiticeiro -, os fios estão soltos e, os bonecos, enlouquecidos.
Operação Lava Jato, fim do financiamento de campanhas políticas por empresas e bancos, delações premiadas, escutas secretas, grampos telefônicos, convênios da Justiça brasileira com bancos estrangeiros que escondem dinheiro de brasileiros – está cada vez mais difícil ser político no Brasil “à moda tradicional”. Ou seja, um acerto entre senhores da Casa Grande, enquanto o povão vota acreditando que a sua vida haverá de melhorar, assim como os escravos, empanturrados de manga, deixavam de beber leite temendo morrer...
Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros.
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